"Sedento bebo teu perfume e seguro teu rosto
com ambas as mãos, como quem segura
na alma um milagre.
Queima-nos a proximidade, olhos nos olhos, como estamos.
E contudo me sussurras: "Tenho tanta saudade de ti!"
Falas tão misteriosa e desejosa, como se eu estivesse
exilado em outro mundo.
Mulher,
que mares levas no peito, e quem és?
Canta ainda uma vez mais tua saudade,
por que te ouça
e os instantes me pareçam botões prenhes
de que florescessem de fato... eternidades"
- Lucien Blaga, 1919, in A Grande Travessia, selecção, tradução e introdução de Caetano Waldrigues Galindo, edição bilingue romeno-português, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 2005, p.87.
Lucien Blaga é um dos mais eminentes filósofos e poetas romenos do século XX, sendo autor de quase quarenta livros. Foi diplomata em Portugal. É um poeta e pensador da saudade, tradução legítima do romeno "dor".
O que mostra que não há proximidade que redima a distância, não há presença que esgote a fundamental ausência de que somos feitos... Mas por isso mesmo os instantes podem florescer eternidade! A coincidência mataria o mundo e o espírito... Por isso a saudade é o mais sagrado dom! Celebremo-la sem temor!
ResponderEliminarMergulha na ausência e serás salvo!
ResponderEliminar"Procuro, não sei o que procuro. Procuro
ResponderEliminarum céu passado, a véspera extinta. Meu rosto
vai tão baixo, que antes nos céus ia posto!
Procuro, não sei o que procuro. Procuro
auroras idas, que jorravam, inflamadas
fontes — hoje com águas presas derrotadas.
Procuro, não sei o que procuro. Procuro
a grande hora que em mim restou sem figura
como em um cântaro morto um fim de abertura.
Procuro, não sei o que procuro. Sob estrelas de
[ ontem,
sob as que passaram, procuro
a luz apagada que ainda enalteço."
L.Blaga
Resposta da Mulher Saudades ao poeta Lucien Blaga.
ResponderEliminartentativa 1:
Segura nas tuas mãos,
nas tuas duas mãos,
no rosto, os lábios sopram
o mistério, o milagre
da mais que humana e divina Saudade.
E sussuro e confesso:
sou Saudade, sou d'aquém
sou d'além.
E, se te exilo é porque te liberto de ti e d'aqui.
Homem!
Lança-te no mar dos meus olhos:
nas torrentes das suas lágrimas, soantes e consoantes, do seu canto-pranto.
Canto-a.
Canto-nos.
Num canto único, infundo,
florescente, fosforescente.
Ardemos em chamas.
Afundamo-nos em lamas.
Vem!
É nas vozes que se afunda o que está guardado no nosso instante eterno.
Ai as nossas vozes são chaves!
As nossas vozes são aves:
aves de fogo com que atravesso
o teu olhar ardente,
o teu corpo redolente.
Ai! as nossas vozes são rimas,
são cachos cheios para as vindimas!
Homem!
Sou néctar para a tua alma
de mim embebida.
Brinda-me com a tua voz de chama...
Brindo-te com a minha voz que clama.
Vem...
Divinal... e mais não digo.
ResponderEliminar