quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ainda da Grande Travessia

Aos Leitores

Aqui é minha casa. Ali ficam o sol e o jardim com colmeias.
Vocês vêm pela trilha, olham da porta por entre as grades
e esperam que eu fale. ... Por onde começar? Creiam em mim,
creiam em mim, sobre seja o que for pode-se falar quanto se queira:
sobre o destino e sobre a serpente do bem,
sobre os arcanjos que lavram com o arado
os jardins do homem,
sobre o céu para onde crescemos,
sobre o ódio e a queda, tristezas e crucifixões
e acima de tudo sobre a grande travessia.
Mas as palavras são as lágrimas de quem teria desejado
tanto chorar e não pôde.
São tão amargas as palavras todas,
por isso... deixem-me passar mudo por entre vocês,
sair à rua de olhos fechados.

Lucien Blaga

De Îm Marea Trecere (A Grande Travessia), 1924

4 comentários:

  1. Grande poeta! É isso, divulguem-se aqui nomes menos conhecidos, divulgue-se, partilhe-se, comungue-se e celebre-se cultura de todo o mundo, faça-se deste espaço a antecipação do Quinto Império! E que surjam comentários criativos e libertadores, que façam envergonhar os parvos que por aqui vêm de vez em quando defecar os seus problemas pessoais...

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  2. A Mãe-Terra é muito criativa, transforma sempre os dejectos em planta-flor-fruto - e nós com ela, em potência.

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  3. Passo muda. Aceno com a mão cheia de branco e Saudades.

    Há os que passando por esta casa-passagem deixam saudades e são Saudades. A esses espero nas janelas dos poemas de Rilke.

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