quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Do projecto do Brasil ao projecto da Lusofonia

"Quem disse que o Brasil foi colônia de Portugal? Esse pergunta serve para os historiadores convencionais, que não sabem passar além das aparências e das idéias feitas. Na verdade, a Colônia não passava de uma fachada por trás da qual o que existia realmente era uma província da Santa Sé. O fenômeno já foi destacado por um historiador dos mais honestos e categorizados, João Adolfo Hansen. Segundo sua leitura do padre Vieira, o Brasil colonial não era mera feitoria da Coroa portuguesa, e sim um projeto de "integração harmoniosa dos indivíduos, dos estamentos e ordens do Império português, desde os príncipes da casa real e cortesãos aristocratas até os mais humildes escravos e índios bravos do mato, vivendo sua redenção coletiva como um corpo místico unificado ("Sermões", em Lourenço Dantas Mota (org.), Introdução ao Brasil. Um banquete no trópico, São Paulo, Editora SENAC São Paulo, 1999).
As "Imagens do barroco" [referência à Mostra do Redescobrimento, em São Paulo, em 2000] nos levam diretamente ao cerne mais íntimo do que foi o projeto do Brasil Colônia: um corpo místico, integrando em si Brasil, Portugal e a Igreja, a Igreja da Contra-Reforma. Seria preciso reescrever a história do Brasil, partindo duma visão maior"
- Gilberto de Mello Kujawski, Ideia do Brasil. A Arquitetura Imperfeita, São Paulo, Editora SENAC São Paulo, 2001, pp.13-14.

O desafio do MIL - Movimento Internacional Lusófono é retomar hoje este projecto, liberto da sua canga opressiva e unilateralmente religiosa, num corpo lusófono não menos "místico", enquanto uno e orgânico em termos de língua e cultura(s) e animado pela espiritualidade laica de um ecumenismo multi e trans-religioso. No que respeita a Portugal é o projecto de Pessoa e Agostinho da Silva, que se enraíza na depuração da nossa comum tradição histórica. No regresso de uma semana no Brasil, constato que esta visão começa a suscitar entusiasmos que rompem o muro de preconceitos e estreitezas de aquém e além-Atlântico. Mas ainda falta muito para derrubar esse pior inimigo que é o auto-desprezo que brasileiros (e portugueses) cultivam, como o nota o autor deste arguto livro. Sem cair na auto-exaltação arrogante do nacionalismo egocêntrico. É sempre o mais difícil, o caminho do meio, que não é um meio-termo, mas um para além dos termos!

2 comentários:

  1. coincidência do caraças (ou não, pois é). estava eu hoje com umas pessoas que me perguntaram se a nova águia, "a pátria" e não sei quê não eram coisas da direita em vez da esquerda, do fascismo e assim, o costume.
    eu disse qualquer coisa do tipo... que era da direita ou da esquerda, ou doutra direcção, segundo a perspectiva de quem interpreta posicionando-se num determinado lado, ou um ou outro, em vez de para além.
    isto há coisas...
    e não é a primeira vez nem a segunda nem a terceira que isto me acontece: um post x do paulo borges aqui e um momento de tipo x a acontecer ali.

    ResponderEliminar
  2. São as sincronicidades... Vocês devem estar numa conexão qualquer... Cuidado!

    ResponderEliminar