E falou, falou-me o rei, andando à minha frente e sempre para o indireccionado, como o Poema. E também não sei como contar-te o que me disse o teu rei nobre de um país pobre!
Foi de tal modo poderosa a emergência incontível da sua voz, da voz da luz, de um rei-luz, que logo anulou a evidência do meu corpo e a certeza frágil da minha consciência. Como descrever-te, amigo, o ímpeto, o insuspeitável élan de uma voz no alastramento da luz, das estrelas de mil pontas fosforescentes em que soavam em mim as palavras, os versos de que cada fala fazia eco? Das pontas do quadro (que não sabia sequer presente na memória), das pontas irradiantes do sol na paisagem que não me sabia sequer capacitada para enfrentar, na sua forma brilhante, incandescente, tremeluzente, com que eu o via, com que eu o ouvia, eu pobre fantasma inconsistente no bailado das suas pontas dançantes, esvoaçantes, eu muda e silente, sombra discreta no seu reino de expansão na luz! Grande rei-luz, rei entregue, como mo confessou, à cadência lírica da Poema e da epopeia, habitante permanente das moradas inexistentes a que o Povo Lusíada só chega pelo Poesia: memória reformulada pelo sonho! Anjo renunciante da espada e do poder, porque anjo anunciante do Poema e da temperança, do território-poema e não do território-emblema, regressava, desta vez em mim, como um ritmo luminoso, mais do que luminoso, luminescente e envolvente, e eu com frio do mundo como sempre estou, em dois versos conversando – aceitei o sobressalto do ritmo e da rima, do metro e da métrica, na contagiante abrangência da clarividência e sobre-evidência, com que me apareceu, com que O escutei, luz falante, fogo interpelante, labareda exaltante, sarça-ardente e estrela em flor cadente – aquecida me derretia como cera entregue à sua chama! Olho-O e procuro-O, porque penso que é tempo de anoitecer a Ocidente, temo perder dele a visão, mas de imediato percebo que ainda e sempre dele foge, do Ocidente, da decadência e da morte, e sem que lhe tivesse perguntado, com Línguas de Fogo me disse – atrás do lugar em que tudo nasce há o incomeçado. É para lá que me dirijo sem direcção, rota, caminho ou intenção.
Nesse instante incompreendi o que a meus olhos se impôs como uma misteriosa presença: a luz vermelha, de rubro intenso e fremente que se formava em torno do rei. Era, confesso-te, O rei – naquela nova luz, numa nova génese dialogante em derrame de vivo sangue sobre as minhas mãos expostas, encandeando os meus olhos rendidos – na Sua manifestação exuberante! Um rei sem manto, num manto escarlate de poderosa luz! Não sei se percebi, bom amigo, o sentido, a potência daquele acto, do tom com que mudava o modo de aparecer e dizer, e não sei se consigo dar-to a entender neste relato de encanto e arrebatamento, nesta carta, nesta acta. Nesta folha sem escolha, neste texto sem que mais outro pretexto me leve a escrever-te.
Depois de o ter assim ouvido e assim visto transfigurado, desfiz-me da matéria, não mais me senti res extensa, só intensa, e por isso quando O vi em estado sequioso e, procurei nas suas mãos a taça, o seu cálice de rei das Índias, de aquém e além mar, a taça de diamantes e de pedras preciosas, ele conversando com os meus olhos liquefeitos, os comoveu para deles beber as lágrimas com que sempre dispersei a dor em torno da beleza. Mas não foi só esse beber o que em mim me doía e condoía, essa muda aflição com que a existência se consome, que me aliviou e consolou. Era a sua aparição sem forma, a sua informe presença, a sua voz, a sua melodia clara, transparente à alma, que me convidaram a permanecer e a mais viver de forma extática. O seu império, o quinto como o essencial, é o deserto. Não por ser o mais distante mas por lá passarem muito poucos. Porque no deserto até as estrelas, pontas febris do sol, são como neve refrescante que derrete os signos em sons. Rei dos sopros e das lágrimas de luz, a sua voz rasgou fulgores e comigo cantou os sempiternos amores! Que mágico o baile que o nosso corpo dança, e sem o seu fantasma e sem a sua sombra, se enlaça no do rei quente e nu com que se despe e (re)descobre a sua morada na luz! Ai, e foi nesse enlevo, nesse deserto de sóis e estrelas, nesse fulgor de relâmpagos dóceis e diáfanos que subitamente, num fôlego, num sopro, o rei proferiu, num lance que me supera para sempre o que ainda for e tiver que ser no tempo (!): sabes – porque leste Christian de Tryoes – que um rei só se salva quando alguém lhe pergunta por que sofre? Faminta leitora, pobre criatura que das páginas fizeste corpo-hóstia dos autores, também eu dei a taça aos cavaleiros perdidos e irreais do Graal que cavalgaram na minha memória, nas suas montanhas e nos seus abismos resfolegavam a um ritmo impressionante e metafísico. Há cavaleiros que correm para os que leram, os leitores. Há cavaleiros que correm ainda para ti célere Amazona de Kleist.
Rei de ritmo luminoso, não sei se sabia, ou se sou cavaleira desse Graal, mas e a coroa? Onde a deixaste cair, quem ta retirou da tua cabeça-sol de que só irradiam Ideias? É óbvio, amigo, que não lho perguntei, mas ele, tendo aprendido com os Poetas, com Camões que o levou e com Pessoa que o fez regressar, a ler o informulado, logo me respondeu: dei a coroa a Antígona e a Inês. Choravam desde há muito a pobre filha de Édipo e a linda morta de Patrício…dei-lhes a coroa para que a troco de toda a dor reinassem para sempre no Amor. A coroa não é, em todo o caso, um objecto masculino, é algo a que cabe melhor destino num feitio feminino.
Não sei se sorriu ou se chorou, na luz intensa tudo se dissipa, tudo se reúne, tudo refulge de uma só e mesma maneira. A sua voz imaculada e doce, a sua voz sem princípio nem fim…trazia a justiça e na sua balança, em cada verso das tragédias que recitava, nas personagens que amava, uma equânime absolvição da dor e do fatal destino se decretava.
Senti, amigo, que voava, delirava, pairava, era faísca e raio, força de luz, calor do sol, e nunca outra qualquer proximidade ao imóvel e absoluto me levou tanto tempo a fruir na alma até sentir que ali desfalecia…enterrada na luz!
E o manto e o ceptro e o veludo e as armas, Os Lusíadas…? Não sei, tendo experimentado a audição da luz e não a desejando parar, para tudo queria eu saber e procurar versos mais do que razões, para ver, para escutar o que me aparecia como o rei mais nu e nobre que eu, enfim e assim, conhecia! E estava eu extasiada a vê-lo irradiar na luz, a jogar as suas potencialidades nas formas das coisas existentes, apagando a sombra, reanimando os mortos e chamando os pássaros distantes, quando, afagando um pouco mais o meu rosto, e nele lançando o seu raio mais quente, me disse o rei nobre num país pobre: dei-as ao Filoctetes e não os dei a Hamlet. Um sofreu mais do que o outro, entre a vida drama e a vida trágica, dói mais a vida dos que na ilha nem memória de Ofélia nem do Ser podem invocar. Filoctetes não se vingará, não será ardiloso nem viverá usando a razão com argúcia, astúcia e maldição. Por ser Grego, entregará o ceptro e o manto ao visionário cego, a Tirésias, para que o velho sábio cubra o seu corpo e o ceptro o ampare – substituindo o velho bastão com que Creonte o amaldiçoou – nas inóspitas montanhas da verdade onde os templos de pedra já não aspergem sonhos, delírios e visões. Depois, quando mais logo, por uma vinha entrar, e com os bagos cheios brincar e brindar, sem taça e manto, Diónisos me encontrará e complementará: trará consigo, na sua memória fundadora, a pele do bode e a alegria dos poemas e dos versos aquém e contra a elegia. Bons fragmentos de mito me animarão e com eles, fragmentos de literatura me repercutirão ao coração enfermo dos que sofrem e só se salvam na canção.
Eu, ao contrário do que nele não distinguia, dei-me conta nesse instante que chorava e sorria.
Foi nesse momento que me apercebi de duas coisas, como se a mim voltasse, como se agora a minha voz a mim retornasse: uma a de que este rei não existe para um povo histórico, ou para os indivíduos concretos. Este rei é um rei a-histórico e real apenas para os indivíduos leitores, por ele mesmo ser um rei raptado, como Perséfone ao mundo, não pelo reino da morte, mas pelo reino dos Poetas. Como Perséfone, O teu rei virá ao mundo as vezes incontáveis que os ciclos das almas por ele forem chamando, clamando: e versos e cristais de chuva, sobre elas derrame e com uma nova força e com uma nova vida consagre, homens e leitores, ao seu encontro com o que é mais do que esta vida! Lançando versos, em gotas e sons iluminantes, ampare e acolha o rei, o leitor infeliz e o homem vivo por um triz, na sua morada sagrada: no deserto, templo, catedral e altar. Porque aquele que lê, acompanhado pelo rei que foi raptado pela voz perigosa da Poesia grita “o rei não está morto!” Grita-o e exclama-o, porque sabe e pode com ele o coro trágico do lamento e da dor. Sabe o quanto pode o Poema consagrar no altar, na pedra a dor! O teu rei, repito-o, não vem morto, ele, como a tragédia, é o canto enlutado que atravessa a vida e a ascende à interjeição plangente. E, por isso e, só tardiamente me dando disso conta, percebi o quanto de estranho me perturbava. O teu rei, amigo-rei, não se punha como o sol da natureza a Ocidente, o teu rei de rubro pintado e nu, o teu rei sem coroa sem ceptro e sem taça, é o coração do mundo. O que me foi dado ver e ouvir nada mais foi do que o seu ritmo compassivo, o seu tom vibrando no coração da Terra como um Poema em carne vivo.
E, sendo este O teu rei, sei-te, como ele, pulsando vivo a mesma cor, falando com o mesmo ardor, no coração secreto e íntimo dos mesmos versos, com que partes e com que regressas, até à coroação do mundo no Amor. Depois seguir-se-á o diálogo das almas e das afinidades electivas e com outros versos salvarás a miséria pobre das paisagens e dos dias, e com o teu dom amarás, com um Poema, a Vida e a Morte dos que ficam e, dos que partindo, constituem esse reino único dos leitores e dos que escrevem versos de elogio e amor, do Elogio do Amor. E, também, por isso que te sei habitante do deserto e pássaro distante e brilhante nas nossas vidas de treva e sem muitos rasgos de luz.
Para o Manuelinho com quase uma semana de atraso...para as suas bebedeiras de luz e deserto. Para os que têm tido a delicadeza indizível de me lerem. Mais, depois deste texto, não sei que dizer.Um silêncio mudo, um sono poderoso me leva daqui...
Senti, amigo, que voava, delirava, pairava, era faísca e raio, força de luz, calor do sol, e nunca outra qualquer proximidade ao imóvel e absoluto me levou tanto tempo a fruir na alma até sentir que ali desfalecia…enterrada na luz!
E o manto e o ceptro e o veludo e as armas, Os Lusíadas…? Não sei, tendo experimentado a audição da luz e não a desejando parar, para tudo queria eu saber e procurar versos mais do que razões, para ver, para escutar o que me aparecia como o rei mais nu e nobre que eu, enfim e assim, conhecia! E estava eu extasiada a vê-lo irradiar na luz, a jogar as suas potencialidades nas formas das coisas existentes, apagando a sombra, reanimando os mortos e chamando os pássaros distantes, quando, afagando um pouco mais o meu rosto, e nele lançando o seu raio mais quente, me disse o rei nobre num país pobre: dei-as ao Filoctetes e não os dei a Hamlet. Um sofreu mais do que o outro, entre a vida drama e a vida trágica, dói mais a vida dos que na ilha nem memória de Ofélia nem do Ser podem invocar. Filoctetes não se vingará, não será ardiloso nem viverá usando a razão com argúcia, astúcia e maldição. Por ser Grego, entregará o ceptro e o manto ao visionário cego, a Tirésias, para que o velho sábio cubra o seu corpo e o ceptro o ampare – substituindo o velho bastão com que Creonte o amaldiçoou – nas inóspitas montanhas da verdade onde os templos de pedra já não aspergem sonhos, delírios e visões. Depois, quando mais logo, por uma vinha entrar, e com os bagos cheios brincar e brindar, sem taça e manto, Diónisos me encontrará e complementará: trará consigo, na sua memória fundadora, a pele do bode e a alegria dos poemas e dos versos aquém e contra a elegia. Bons fragmentos de mito me animarão e com eles, fragmentos de literatura me repercutirão ao coração enfermo dos que sofrem e só se salvam na canção.
Eu, ao contrário do que nele não distinguia, dei-me conta nesse instante que chorava e sorria.
Foi nesse momento que me apercebi de duas coisas, como se a mim voltasse, como se agora a minha voz a mim retornasse: uma a de que este rei não existe para um povo histórico, ou para os indivíduos concretos. Este rei é um rei a-histórico e real apenas para os indivíduos leitores, por ele mesmo ser um rei raptado, como Perséfone ao mundo, não pelo reino da morte, mas pelo reino dos Poetas. Como Perséfone, O teu rei virá ao mundo as vezes incontáveis que os ciclos das almas por ele forem chamando, clamando: e versos e cristais de chuva, sobre elas derrame e com uma nova força e com uma nova vida consagre, homens e leitores, ao seu encontro com o que é mais do que esta vida! Lançando versos, em gotas e sons iluminantes, ampare e acolha o rei, o leitor infeliz e o homem vivo por um triz, na sua morada sagrada: no deserto, templo, catedral e altar. Porque aquele que lê, acompanhado pelo rei que foi raptado pela voz perigosa da Poesia grita “o rei não está morto!” Grita-o e exclama-o, porque sabe e pode com ele o coro trágico do lamento e da dor. Sabe o quanto pode o Poema consagrar no altar, na pedra a dor! O teu rei, repito-o, não vem morto, ele, como a tragédia, é o canto enlutado que atravessa a vida e a ascende à interjeição plangente. E, por isso e, só tardiamente me dando disso conta, percebi o quanto de estranho me perturbava. O teu rei, amigo-rei, não se punha como o sol da natureza a Ocidente, o teu rei de rubro pintado e nu, o teu rei sem coroa sem ceptro e sem taça, é o coração do mundo. O que me foi dado ver e ouvir nada mais foi do que o seu ritmo compassivo, o seu tom vibrando no coração da Terra como um Poema em carne vivo.
E, sendo este O teu rei, sei-te, como ele, pulsando vivo a mesma cor, falando com o mesmo ardor, no coração secreto e íntimo dos mesmos versos, com que partes e com que regressas, até à coroação do mundo no Amor. Depois seguir-se-á o diálogo das almas e das afinidades electivas e com outros versos salvarás a miséria pobre das paisagens e dos dias, e com o teu dom amarás, com um Poema, a Vida e a Morte dos que ficam e, dos que partindo, constituem esse reino único dos leitores e dos que escrevem versos de elogio e amor, do Elogio do Amor. E, também, por isso que te sei habitante do deserto e pássaro distante e brilhante nas nossas vidas de treva e sem muitos rasgos de luz.
Para o Manuelinho com quase uma semana de atraso...para as suas bebedeiras de luz e deserto. Para os que têm tido a delicadeza indizível de me lerem. Mais, depois deste texto, não sei que dizer.Um silêncio mudo, um sono poderoso me leva daqui...
Deixo aqui uma coisa que me surgiu ontem à tarde e cujo tom não entendo bem. Mas, enfim...
ResponderEliminarPara os que (se) sonham
Qu'é a vida senão um reencontro
Uma parada no xadrez do tempo
P'la mão dum menino cego e demente
Que rasga dentro de nós o Desencontro
A cruel alvenaria do Templo
Toda feita luz secreta e incoerente?
Que se basta nisso que não tem nexo?
Somente a desmesura e a ilusão?
O coração conter um coração
Como o universo em si outro universo?
Tal impossibilidade é real?
E é à luz do sol sempre desigual
Que se mostra e se esconde o que trará
O desfecho do que ainda não há.
E quero aproveitar para me unir ao teu agradecimento a quem nos enviou os versos sebásticos, bem como à Ana, outra feliz receptora, e ao seu gesto de agradecimento que consistiu na publicação aqui do poema integral. No dia em que se comemorava a sagração do Encoberto.
ResponderEliminarE deixo aqui um Sorriso, não é meu, mas iluminou a minha vida.
:)
Não sei com que palavras me aproximar. Se as de ar, deixando que se inflamem no sonho desse "rei nobre de um país pobre"; rei bruma levantado em sol refulgente; se levantar as minhas, tochas de cinza, rendidas ao engano da razão que as não pode estreitar contra o peito, sem cobrir a face aniquilada pela chama transcendida que se ergue para além da gravidade baça do nosso olhar e escutar. Há-de haver um lugar, nem Olimpo nem Hades, onde essas palavras vencerão a razão de comunicar o que só em símbolo e sonho vivido se apresenta como verdade transcendida; não o erro aniquilante do que é signo da humanidade. Esse rei que Pessoa compreendeu e devolveu em brilhante luz, deu ao sonho a espessura do mito, e dos restos mortais de um rei imperial, teceu o nada espiritual que regressou, para lembrar que o deserto existe, para além dos gestos dementes do destino trágico da humanidade. Nos grandes gestos estão contidos os pequenos e nas pequenas coisas estão as grandes obras. Nem é pequeno o sonho nem a alma. Valerá sempre a pena esperar o regresso do rei, que sempre está onde o poeta acender uma palavra de asas contra a morte. Uma palavra acesa no deserto para o regresso do rei; não o do vento ou da tempestade, mas o da brisa pacificadora, o do silêncio sonoroso, do som calado do deserto que volta ao para além que o habitou e nos habita. Às vezes é mudo e contemplativo, outras arde sem que se veja a fonte que o faz arder. Outras vezes é beleza esmagadora, no pó brilhante de estrelas com que a Isabel o pintou e é muito e é tudo... e eu como sua leitora dedicada só posso agradecer.
ResponderEliminar"Olha o sol que vai nascendo
ResponderEliminarAnda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar" J. Afonso
"Eu queria ser o mar de altivo porte
Que ri e canta, a vestidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a ávore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!.." Florbela E.
Gostei muito. Que o sono e os sonhos te tragam de volta até nós... aqui e sempre te esperamos.
ResponderEliminarLeit-o-ra... é a que bebe leite, néctar do Paraíso, ou a que vive no seu leito? :p
ResponderEliminarParabéns Manuelinho! O teu aniversário foi na semana passada, certo? Agora tens quatrocentos e trinta anos! Beijinhos.
ResponderEliminarP.S. À Isabel também que se lembrou de ti.
Anita,
ResponderEliminarEu e a Isabel passeamos. Andamos à procura do Paraíso ou como lhe quiseres chamar. Na realidade passeamos para o leito. Se é de leite ou não ... lá deleite dá... o passear, claro !
Ao misterioso Manuelinho,
ResponderEliminar"[…Tu, filho de ua noute finada,
dado à bruma como teu padre
caualeyro no çeeo de nome furtado
truncado per castellano vinagre.
Lo segredo guardado
só Deus e poucos saberam
do trono desfilhado
foi o messias da naçon.
Que cousa he essa
ysto eu nom posso entender
de esperar teu padre o povo padece
e los vendydos te façã esquecer…."
Um poema breve de Sophia para o Paulo:
ResponderEliminar"Passa o dia contigo
Não deixes que te desviem
Um poema emerge tão jovem tão antigo
Que nem sabes desde quando em ti vivia"
Saudades
O meu nobre rei num país pobre tem os pés azuis, sobe as "montanhas da alma", olha a varanda da Luíza, lê com ela os livros da Simone Weil, agarra-lhe os cabelos e tinge-os de lilás, depois a Luíza esvoaça e vai ter consigo junto às Fontes. Com búzios e linhas cantamos e depois adormecemos. Assim poeticamente habitamos a Terra e nos reencontramos no sonho e no sono. O meu agradecimento à suave e plena leitora. Suprema leitora até do silêncio. O meu agradecimento fundo e infundo.
Anita,
não te sabia minha leitora, (ainda que saiba que tenho que responder à questão da catedral, mas pensei que fosse ocasional...teres detido por ali o teu olhar) mas antes de mais agradeço essa paciência. Os textos dominaram-me e sairam extensos. Ter tido essa generosidade é recolher de ti uma marca muito delicada que o meu coração guarda e agradece. É que escrevendo, às vezes, muito nem sempre digo muito e sou lenta. Gosto dos dois poetas com que comentaste o que escrevi. Mais uma vez agradeço teres tido a paciência de me ter lido, para nada teres aprendido. E vai esperando pela catetral. Um sorriso numa rosácea.
Leitora
ler é passear. Sei que era a esse passear que te referias, é esse o deleite que comigo abraças, por num mundo de papel e tinta nos lermos e encontrarmos, por ler poder ser, um retornar ao Paraíso e esse não-lugar ser de leite e ser o leito. Obrigada grande por fazeres esse trajecto comigo eu pobre escritora de signos. Recebe um sorriso elevado, no pináculo da catedral.
"agradeço teres tido a paciência de me ter lido, para nada teres aprendido."
ResponderEliminarNada aprendido? Além de te menosprezares a ti menosprezas-me a mim como tua aprendiz... :)
Mas também não é preciso aprender... basta reconhecer o que somos. Estive a ler a "Menina do Mar" de que falaste há pouco... Em criança parece que somos essa menina, que depois é obrigada a abandonar o seu amigo... está na altura de tomar o suco de anémonas e nos deixamos levar pelo golfinho que em Nós vive... até à Ilha do Rei do Mar... ;) e então dançar a Nossa música.
Um abraço terno
ah, o manuelinho fez anos e não pagou um copo cá à malta! Nem se lembrou de nos convidar para a tasca do Ti-zé?!! isso é que é um amigo da onça!
ResponderEliminarSe o tempo é de Festa do Manuelinho/ E o Rumi ainda não ergueu a taça/
ResponderEliminarOu está bêbado ou estragou o vinho/
Ou está em obras o Ti-Zé da tasca/
O Obscuro renascido e semi-ébrio e mais o seu irmão esquelético e fraquinho desejam-lhe as melhores... de tudo.
Ai Obscuro, fiquei toda a noite na tasca do Ti-Zé, nos copos a ver se o Manuelinho aparecia c'o Rumî... mas nada, deve tar de férias c'as musas todas! Ninguém sabe dele, até as lesmas já têm saudades... Saudades!? que digo eu?!, ai devem ser do Futuro... Sim, Saudades do Futuro e do Manuelinho e tudo o mais... mas mais o quê?!, não sei... do vinho! sei lá!...
ResponderEliminarE tiveste tu, Isabel, noites de luzes e sonhos e cores que tão gentilmente lhe dedicaste... e ele, ingrato, nem te agradece! Olha, vou-me daqui beber mais uns copos... queres vir comigo, Obscuro? Nem convido a Isabel, acho que ela não bebe... fica p'a um cházinho, tá bem?
Isabel,
ResponderEliminarDe facto (é) no Papel dos sonhos, é no Papel dos medos, é no Papel dos delírios, no Papel das esperanças e desesperanças que o rio das almas vai traçando os contornos das suas margens. Para já não falar da luz que é Luz.
Saudoso Obscuro que nunca desapareces de quem tem memória, de quem tem dentro de si fios e fios de Ariadne! Pois bem sei...falta aqui o Manuelinho para te responder já com quadras, mas eu sou uma pobre tola que não sei versejar bem como vocês os dois. Mas cá vai:
ResponderEliminarCom taças de vinho e nacos de pão
Alegres, felizes, ardentes
Andam, Manuelinho e Obscuro, na roda de mão em mão.
Andam cantando e dançando em variada e mútipla folia: com rasgos de mil risos e flores de pouco siso, andam ao sabor do vento, em curvas, em contramão.
Não sentem por onde vão, não sabem por que nome são:
mas que importa?
Não são irmãos, nem são poucos,
não são loucos, nem são toscos, são os poetas da mui nobre tasca, livraria ou confraria [do ti-Zé] que fica junto do lugar-lagar da velha escadaria. Aí vos espero um dia:
Saúde irmãos da mui nobre festa que é o verão da vida!
Com licores, chá, água ou vinho que importa o trave, se o melhor da vida é o espírito embriagado que se e nos aproxima?! Por isso Leitora não me retires da festa!
P.S. não consigo o vosso dom para as quadras e muito menos para o registo dessa rima, mas sou feliz e alegre com o vosso.Isso por si só basta para sentir a festa da vida e a colheita que ela dá.