sexta-feira, 11 de julho de 2008

Poema para Mário de Sá-Carneiro


Nem de seda nem de ouro, as vestes quero, perfumadas
Para os bancos do jardim velado, entre choupos e cantos
Quero nuas as vestes para a morte das acácias deitadas
Fontes de dormir, entre o mar e o barco. Terras altas de prantos

Vêm beber à sede das hortas, as horas que esperam recados…
Tremem quebrantos as serras, e as vozes feras dos lobos
Devoram a pobreza das ervas do caminho. Tambores irados
Acordam a chuva outonal dos rios. Nem uma gota falte nos lodos

Pantanosos, veias de prata crescente na secura opiácea do dia!
Batam chicotes para a dor do Entrudo! Mário, é hora de ser mudo
Vistam-se os campos da nudez do vinho, sementes de alegria
Para o requiem de mim: nu, gordo e em brasa, vestido de cetim e tudo

O que é fresco e fica bem à esfinge branca em purpurina e verso
Quero alaridos, gritos e desmaios, quando chegar o jardineiro coxo
Que ninguém me aborreça se vestir um xaile e usar um terço
Na mão direita, e na sinistra, um lírio desmaiado e murcho e roxo.

1 comentário:

  1. Gosto tanto deste poeta. Cheguei aqui porque estava procurando no Google uma poesia dele. Que bom que aa encontrei aqui.
    Bj.

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