sexta-feira, 11 de julho de 2008

Arpoador

Contemplo a orla do Rio de Janeiro ao fim de um dia de cansaço.

Os areais de Copacabana e Ipanema, sinuosos como divinos seios oferecendo-se a fileiras de prédios ajoelhados em veneração aos imponentes morros - Chapéu-Mangueira, Babilónia, Cantagalo, Vidigal, Pedra da Gávea, onde o verde luxuriante da floresta e o disparar espérmico de rajadas de metralhadora pela Polícia Militar e os gangues do tráfico convivem numa estranha harmonia.

Sobre as nossas cabeças voam aves de rapina.

No regresso a casa, um menino de rua viciado em cola contorce-se na calçada, gritando de fome e congestão mental.

O meu sangue ferve com a terrível beleza de tudo isto.

Rio de Janeiro, Shiva-Shakti feita cidade, os teus contornos são as mandíbulas de Kali.

Amo-te como nunca amei outro lugar.

3 comentários:

  1. Porque o coração luso vive nessa terra como quer: sentindo-se como é. ;)

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  2. "O meu sangue ferve com a terrível beleza de tudo isto."

    Eu diria antes:

    "a terrível beleza de tudo isso ferve com a presença do teu sangue, essa força indomável..." O "Rio" que se cuide...
    ;)

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  3. Também amo o Rio, e a melancólica curva de Copacabana, como diz o Caetano.
    Parece que os prédios e as gentes se insularam num certo encantamento trágico-solar.
    Saudades.
    Vai ao Vinícius Piano-Bar em Ipanema, se puderes, tem música tão boa, tanta bossa...:)

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