Contemplo a orla do Rio de Janeiro ao fim de um dia de cansaço.
Os areais de Copacabana e Ipanema, sinuosos como divinos seios oferecendo-se a fileiras de prédios ajoelhados em veneração aos imponentes morros - Chapéu-Mangueira, Babilónia, Cantagalo, Vidigal, Pedra da Gávea, onde o verde luxuriante da floresta e o disparar espérmico de rajadas de metralhadora pela Polícia Militar e os gangues do tráfico convivem numa estranha harmonia.
Sobre as nossas cabeças voam aves de rapina.
No regresso a casa, um menino de rua viciado em cola contorce-se na calçada, gritando de fome e congestão mental.
O meu sangue ferve com a terrível beleza de tudo isto.
Rio de Janeiro, Shiva-Shakti feita cidade, os teus contornos são as mandíbulas de Kali.
Amo-te como nunca amei outro lugar.
Porque o coração luso vive nessa terra como quer: sentindo-se como é. ;)
ResponderEliminar"O meu sangue ferve com a terrível beleza de tudo isto."
ResponderEliminarEu diria antes:
"a terrível beleza de tudo isso ferve com a presença do teu sangue, essa força indomável..." O "Rio" que se cuide...
;)
Também amo o Rio, e a melancólica curva de Copacabana, como diz o Caetano.
ResponderEliminarParece que os prédios e as gentes se insularam num certo encantamento trágico-solar.
Saudades.
Vai ao Vinícius Piano-Bar em Ipanema, se puderes, tem música tão boa, tanta bossa...:)