sábado, 14 de junho de 2008

ainda sobre os putos, os putos


"se entre os pré-socráticos da antiguidade preponderou a noção de educação de crianças e jovens com uso de castigos como obrigação de Estado, visando controlo e expansão do território, comércio e escravo, não foi incomum entre eles firmar-se outra maneira de lidar com a educação das crianças. Não mais como culto à obediência na autoridade superior em nome da cidade, mas como jogo e brincadeira heraclitiana entre pequenos guerreiros que lutam por um objecto, afirmam a rebeldia e disseminam coexistências. Não se trata de educar a criança a partir de um valor transcendental, como o defendido por Platão, mas pela disputa circunstancial de um objecto, acto que obstaculiza e suprime a necessidade de subordinar o outro. São crianças e jovens que aprendem a actuar sem temer a autoridade, mas que a desafiam, exercitando o que os gregos chamaram de parrésia - acto de falar francamente com um superior, sabendo dos riscos que se corre -, e que os filósofos cínicos exercitam com rigor e mordacidade."

"Educar continua sendo uma obrigação familiar e monopólio do Estado regulamentado por direitos: toda a criança deve ter família e esta deve matricular seus filhos em escolas privadas ou estatais para obterem acesso à cultura dos povos, à instrução para o trabalho, à formação para a cidadania. Nas escolas aprendem a governar suas futuras famílias, vigiar colegas, policiar, competir, trair e trapacear, em razão de uma vitória, um elogio, um benefício, uma justiça.
Essa é a educação fundada na conquista e na conservação, no temor à autoridade superior, chame-se ela pai, rei, imperador ou lei universal. Trata-se da regra maquiaveliana que funciona tanto para os governantes como para os governados, atravessados por dispositivos de pressão e morte de alguns sobre os demais. É uma educação de livre trânsito hierárquico, e ao mesmo tempo geradora de permutas entre superiores e inferiores que eternizam legalismos e ilegalismos, torturas, confinamentos, medos, corrupções, extermínios e guerras em nome da punição, do bom uso dos castigos, da necessidade da prevenção geral com base na lei universal fundada na ameaça de punições e no ideal do homem incorruptível."

"A educação continua disseminando o amor à cultura da obediência e do conformismo. E por almejar tanta participação cria dentro de si medonhos pequenos fascistas"

"Trata-se de uma pedagogia que não pretende mais reduzir ou confrontar resistências, mas somente integrar em nome da democracia."

"São obrigadas a aprender desde pequeninas que devem aos seus superiores, e que é sob esse regime de dívida infinita que os adultos permanecerão exercendo seus direitos formais sobre elas, como propriedade real ou circunstancial."

"A criança e o jovem passam a ser educados por atravessamentos. Eles devem ser ocupados o máximo de tempo possível com diversificação de estímulos, sem exaurir as forças físicas de seus corpos ou suas forças políticas de resistência, como na sociedade disciplinar. São convocados ininterruptamente a participar, ocupando suas inteligências."

"O tempo da criança é longo, e os espaços para elas são imensidões. A educação contemporânea insiste em fazer dominar o tempo do adulto linear, disciplinado e conservador, voltado para produtividades, relacionado a respectivos descansos, e situado em seus espaços móveis e delimitadores a serem ocupados."

"A leveza e a dureza de ser criança, deslizando, saltitando, tombando, aninhando-se nas superficies, permanecem sob olhar solene do adequado, do corrigivel, do permitido, de uma pessoa investida de moral. As crianças dançam e brincam. Para as crianças pouco importa o dia e a noite, o claro e o escuro, veracidade e sonho; para elas são experimentações da vida com calor e frio. Quando cada um desses momentos estiver habitado de significados, fantasmas, determinações, então ela passa a ter ideia-fixa, começa a ser educada para a boa e bela vida."

in Anarquismo Urgente de Edson Passetti


p.s.

uma nota pessoal sob o tema das crianças indigo


quando ouço pessoas, a quem lhes ofereceram um ou dois livros pseudo-esotéricos sobre crianças indigo a pais preocupados porque o seu rebento amado não pára quieto, ou não está atento na escola, ou não se consegue integrar etc... quando as ouço banalizar o termo indigo, dizendo que os seus filhos o são certamente, ou eles próprios o são, só porque se identificaram com uma apropriação "feita para vender" (no sentido em que a cultura da nova era é extremamente positiva e tem como objectivo melhorar as relações humanas com a falta de espiritualidade moderna que foi substituída pela poder de compra de chorudos seguros de saúde, etc...), penso que, simplesmente gostavam de ser algo mais, ou de imaginar que os seus são algo mais especiais da banalidade work in progress que nós todos, como raça humana, de dois braços e duas pernas, representamos!

Crianças indigo para mim são os deficientes, os que literalmente não conseguem viver neste mundo como a maioria, síndrome de down, mongolóip0dismos afins, estes sim, têm uma sensibilidade muito mais apurada e simplesmente sintonizada em estações de vibrações que nós, por enquanto, não conseguimos apanhar e nos passam ao lado. A partir disso muito se pode especular, no entanto, era só mesmo para deixar escrito, que acredito e aprecio estas dialécticas, mas também é preciso saber separar o conto de fadas, da história de embalar sem final feliz. Seja como fôr, "if it makes you feel good" quem sou eu para contrariar. . .

11 comentários:

  1. Se o final é feliz? Certo é que só lhe conhecemos metade da cara.

    ResponderEliminar
  2. Tantos nhónhós estão a transformar os putos numas mosquinhas mortas.

    Não há melhor educação do que levá-los aos bailaricos dos Santos Populares e às romarias neste País fora. Aí é que aprendem as manhas todas ... E como se tornarem homens com "eles" no sítio ..

    ResponderEliminar
  3. Então e nós, seus porco chauvinista?

    ResponderEliminar
  4. Continuam chamando-me assim ... bébé ... Mas não querem encarar que nos tornamos mulheres muito mais cedo do que eles pensam.

    ResponderEliminar
  5. Muããããããããããããããããããããããããããããããããããã ...

    ResponderEliminar
  6. Este blogue está cada vez a voar mais alto... qualquer dia até bate no tecto do céu... :P

    ResponderEliminar
  7. Vem mesmo em boa hora este texto! Àh, que vontade de liberdade! Que ímpeto feroz de fazer explodir os conceitos e os significados com que nos agarramos à vida por uma qualquer necessidade de sentido! Ter na vida um momento que seja, em que se pode mostrar as garras e mandar tudo para o Inferno para libertar o hino glorioso sem personalidade nem identidade de todos, de tudo, de todas as coisas!

    Gostei deste post tanto como gosto dos da Isabel Santigo, por exemplo (entre outros), embora num registo muito diferente. Nos teus posts encanta-me ver a adequação das imagens e das palavras assim como nos dela. É certeiro! Mas oxalá que este blog não seja só anarquia desconstrução e Manuelinho, pois o interessante está na diversidade que cria o ritmo, a dança e a energia e nos faz vir ver o que se passa todos os dias. Oxalá que se possa brincar umas vezes aos inimigos e outras aos amigos e nunca esquecer que é só a brincar para não ficarmos com esse peso da vida séria e adulta que se leva com cuidado na mão para não quebrar.

    Mas hoje tenho mesmo vontade de fazer um brinde à anarquia e até aceitar os meus erros na ortografia !

    Anónimo.

    ResponderEliminar
  8. Abaixo assinado,

    Anónimo.
    eheh

    ResponderEliminar
  9. Tornem este blogue mais próximo da sua intenção original, bem expressa no texto de apresentação... Às vezes parece que quem nele colabora se esquece dessa proposta de experimentar e superar limites... Não é o caso, obviamente, deste belo post.

    ResponderEliminar
  10. será de ter o mesmo nome que o blog?

    não sei, mas sinto-me msm em casa :)



    quETzal

    ResponderEliminar
  11. Uma Serpente Emplumada terá casa ?

    ResponderEliminar