quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

oah

Só um instante
Nos tocava.
Um rigoroso instante
Com pomares de maçãs,
Rumores de navios
Distantes — vermelho o mar
A debruar
Os lábios, o estrume
Da chuva,
Teia de luz e penumbra
Suspensa da história de um abismo.

O que nos une é aquilo que se
Para.
Entre nós há frutos que tombam
Para cobrir o chão de noite.
Para calarem sobre lagos
Encantandos a voz das pedras
Noivas de nuvens e com dote.
Para que a sede nos devolva
A água.
Para selar os ecos onde vem o vento
(­Adulterino, o que não espanta)
Desdizer o desenho do passado; para
Pastar a paz antiga, húmida,
Sobre o solo diurno e transitório.

Um instante, só,
Nos separava.
E era a eternidade
Que o movia.

Entre tanto, sobre o chão,
A tua sombra calma respirava.

2 comentários:

  1. «Só um instante»...
    E o eterno balido do mar
    Entre uma vaga e outra
    Murmura o nome
    Que suspende o tempo
    E o prende à sombra do dia.
    Caminhas ainda encostado à luz
    Presente nas palavras
    Que atiras à distância...

    O abismo curva-se
    Nesse mesmo instante
    Em que a ilha bem amada
    Surge nos teus olhos nítida
    Como um pedaço de céu
    Oferecido em memória.

    Só um instante
    Te dará a paz
    Que vai juntar
    A sombra que ficou
    À tua face límpida.

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