Bertrand Russell disse, a propósito da máxima cartesiana, que dela apenas poderíamos inferir que há pensamentos, mas não que há um pensador. Poderíamos afirmar o mesmo acerca do sonho (supondo, para o caso, que a realidade o é)? Que só este existe, mas não um sonhador?
Note-se que não se segue do facto de as nossas inferências serem limitadas a certas conclusões que não existam outras mais à frente, inacessíveis pelo aparelho do humano raciocínio.
Embora eu não seja muito de práticas - mea culpa, preguicite aguda -, creio que o (verdadeiro) conhecimento de algo como a mente só é possível através da introspecção, primeira pessoa, podendo depois ser transformado, se possível, em discurso verbal, provindo no entanto dessa introspecção, tal como o leite provém da vaca e não do supermercado. Quero com isto dizer que só poderá advir mais conhecimento acerca da mente se nela penetrarmos, se sobre ela nos indagarmos, e nunca de outro modo.
Neste sentido, penso que é saudável que adoptemos uma máxima budista que diz que o eu é o mestre do eu, na medida em que o conhecimento de nós mesmos - sim, supondo que existimos, ou que algo existe - só surgirá por indagação de nós sobre nós.
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