A mediocridade
reinará
como a incontestável soberana do deserto emocional
das almas sãs.
Assim como reinou
desde que os animais deixaram de falar á intuição
dos seres humanos.
Estendeu o seu poder
no labirinto das solidões
das vozes que sopram centelhas do infinito
e se dissolvem no eco.
Pois suas centelhas ferem,
dilaceram,
incandescem
os tímpanos daqueles que crescem
na ideia de que tudo permanece
mesmo quando tudo se transforma.
A mediocridade
resplandecerá
nos olhos da burocracia gorda que imobiliza
a leveza da poesia,
Na esperteza de rato
do condutor que destrói
a festa de quem se dirige de braços abertos para o mundo,
e se livra da autoria,
Na pia sensaboria
da sensatez e bom-gosto nacional.
A mediocridade
rugirá
em chamas de sarcasmo no auto-de-fé da inteligência
nos pátios de recreio,
nos gabinetes da gerência,
na ira compressora de quem pariu seu contrário.
Pois suas garras são fortes,
apertam,
sangram,
infectam,
seu poder vem da vulnerabilidade comovente das hostes,
multidões-em-bússola que a esperam.
Elas sabem,
ó sabedoria negra da história,
que a única forma de imortalidade comprovada
reside na memória
e que o poder destrutivo da escória
mata num relance de trauma em technicolor
o que a fé na vida suou eternidades para erguer.
Por isso,
ergo o falo em minha mente
até á raiva assassina,
sonho com um duelo de morte,
variante lunar de um acto de amor,
que me liberte da ausência de fronteiras
para o eco que dissolve minhas palavras.
Asfixia
é o que sinto mergulhada no espaço infinito
da ausência
de quem espelhe minhas esperanças,
da presença de quem abafa o grito do Deus interior.
Belém-do-Pará
27 de Maio de 2002
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