segunda-feira, 1 de setembro de 2008
De Tudo e de Nada - Desisto
Vou por uma pedra sobre o assunto. Uma pedra qualquer, arredondada, para não me magoar mais. Vou deixar o mar levar de volta. Para longe daqui, para onde tudo começou e onde tudo há-de acabar. Assim, onda atrás de onda. Lua cheia, Lua Nova. Era após Era. Tudo depois de nada.
Vou entregar os pontos. Fechar a porta, apagar a luz, puxar o lençol e tapar-me.
Vou dormir sem sonhar. Vou parar de gritar em silêncio. Vou deixar de ouvir o grito,
de sentir o aperto, de chutar no vazio.
Hoje não se pode repetir dentro de mim. E eu sei que nunca se repete, mas aos meus olhos a repetição é infinita. Sou eu que não quero ver mais do que isto. Sou eu que não quero ver mais e melhor. Como se fosse possível. Eu digo a mim mesma: não posso mais. E respondo a mim mesma: desiste.
Desisto. Sou fraca demais para continuar. Quero parar aqui, saltar em andamento para fora de onde estou. Não me nego a mim mesma, não consigo negar-me. Nem quero. Apenas reconhecer que errei, que erro. Sempre, em cada onda que me rebenta nos pés.
Cumprir o destino. Esse destino que não compreendia, esse destino que não aceitava.
Cumpri-lo. Só isso. Sem contestar, sem imaginar como seria diferente. Nasci para isto que sou. Nasci para ser assim, estava escrito desde o princípio dos tempos.
Teimei, não quis ler o que o destino me escreveu. Lutei sem saber que antes de nascer já tinha perdido o que julguei poder ter como certo. A vida deu-me sinais que eu sempre identifiquei, mas o sonho e a esperança não me deixavam aceitar. É evidente demais. Dói demais pensar nessa evidencia. Não me quero lamentar. Não tenho essa vontade, nem esse direito.
Estou farta de procurar. Lembro-me de ditados antigos, valho-me deles. Lembro de palavras amigas, valho-me delas. Lembro-me do pensamento positivo. Mas, chega. Não me contento mais com este chão que me suporta o corpo. Preciso de um outro chão ou de um outro céu que me suporte a alma. A alma tem ficado lá atrás. A alma que tenho e já não sei onde deixei. Eu sei que tenho. Eu sei. Mas não ouço a sua voz faz tempo.
E é essa voz que quero ouvir agora. Aqui e agora. Já!
Chega. Não quero mais. Não quero mais esperar-te, pensar-te, sonhar-te, imaginar-te.
És-me impossível. És o meu nunca.
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8 comentários:
Sereia
nunca falámos muito não sei porquê. Mas não tenho nem quero ter a pretensão de saber tudo. E muito menos de forjar razões para tornar compreensível o que me transcende. A vida corre como tem que ser e não como queremos que seja. Mas sinto-a magoada e, também, por uma razão sem porquê, sinto o coração a bater mais forte e não seria capaz de não lhe dizer que aqui, como noutro sítio, fui sempre consigo cantar às suas praias e às suas paisagens. E irei sempre depois de "tudo e nada". Porque é bem provável que exista o que fica entre tudo e nada. Receba o meu sorriso e a minha simpatia funda. Hoje vamos cantar aquela canção dos GNR..."agora é a doer..."
:) Sereia
... e vale a pena sentir isso tudo e tudo o mais... de pouco vale querer estancar o rio, mais cedo ou mais tarde a barragem tem de vazar, o inevitável lugar da água doce é junto ao a-mar-go.
Sereia,
...E já rimos tanto nesse mar onde choramos. Conhecemos as pedras e vamos lá buscá-las...voltaremos antes da maré subir. Levamos o saco pesado. Essas pedras são escuras e têm veios brancos que são linhas de fuga e caminhos de escrita miudinha a rodear a pedra, a abraçá-la. Essas pedras hão-de cantar! Oiço-as respirar, ainda frescas da água do oceano.
Um sorriso na pedra é uma boca arredondada:)
eheh e pelo desaguar desse rio encontramos margens que nos acalmam e afagam como a de onde surgem as palavras da Saudades.
(ou cruzamos com o seu próprio rio)
Jamaican vibes... to dance with all the feelings...
http://br.youtube.com/watch?v=L0HIgNHBb5M
Diacho Sereia, tumulto pós-regresso?
Belo texto que espero corresponder a um pós-texto serenado.
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