quinta-feira, 24 de março de 2011

EFÉMERO


Não viverei!
Não viverei que chegue
para amar,
tudo
o que há para amar.

Não viverei que chegue
para abraçar
tudo
o que contém um abraço.

Não viverei que chegue
para cheirar,
para rir e chorar,
para recordar...
tanto
que há para lembrar.

Não viverei para aprender
a língua dos pássaros,
o dialecto das árvores,
ou voar num dente-de-leão.

Não, não me chega o tempo,
para saber o gosto da luz do Sol,
entender o murmúrio do vento,
e a cantiga que traz a chuva.

Não viverei,
para saber de que
cor é o Branco.

Não viverei o tempo,
para chegar a entender
toda a Sabedoria do mundo,
escutar as palavras,
sons e melodias.

Levaram de mim a Eternidade
sem meu consentimento,
fiquei nas mãos do Tempo!

Para trás, o negro
e nos dedos,
o pó
que sobra das oferendas da Vida.

Não viverei, mas encurto os passos,
num caminho tecido de vagar,
para que caibam em mim
o Amor e os abraços,
o riso e as lágrimas,
as lembranças e memórias
as cores e os sabores,
os sons e os odores...
da sabedoria do meu mundo.

Não, não viverei...
e
não te concedo tréguas!

(Sentir e Ser - 2011)

3 comentários:

  1. este e anterior - dois lindos poemas

    gostava que fossem meus.
    beijinho amigo

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  2. Obrigada Platero. Fico feliz... são também seus, especialmente
    "Arvorear", guardador de árvores e da natureza. Se me arvorear, quero tê-lo como meu guardador/pastor. Um beijinho arvoreado

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  3. Dois enormes poemas, não digo mais, faltam-me palavras. Calam e serenam bem fundo.

    Grato

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