quinta-feira, 24 de março de 2011

ARVOREAR



Corro e percorro-te,
sufoca-me como punhais,
o gélido da noite.

Impele-me o vento
floresta adentro.

Vestes perdidas,
descalça, no castanho
que se entranha,
num chão de folhas
em tapete tecido, escuto.

Distante, um nome de terra,
esquecido.
Apelo que vocifera e explode no peito,
coração que já não bate,
dispersado, dissipado,
diluído, no rio que me flui.

Abrem-se as entranhas da terra,
largos veios à minha passagem,
longos os dedos, em raízes tornados.
Um sopro sufocado, o ar que me abraça,
oferenda-me a Luz
que é meu alimento.

Ramos de braços feitos,
prolongam-se e beijam a Lua,
as estrelas dançam-me segredos de vento.
Dialectos de folhas murmuram-se,
em meu redor.

Evoco tudo isto,
Acedo ao que já fui.

Amanhã, virei fazer um ninho em meus ramos.

Sou quase eterna!

(Sentir e Ser - 2011)

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