quinta-feira, 25 de novembro de 2010

 
óleo sobre tela, Mário Cesariny

em uma entrevista
organizada pela ensaísta italiana Maria Bochicchio
...  


"A poesia é um segredo dos deuses. 
Não é trabalho, 
embora às vezes se possa morrer de trabalho. 
Creio que sou um poeta inspirado, 
no sentido romântico de «daimon» - génio. 
Até ao momento em que o poeta se fecha e parte, voa. 
E depois fica igual aos outros." 

em Autografia II, poema, primeiros versos

E era uma vez este homem
que era um chevrolet
casado com uma mulher de vidro
que era uma colher de prata
Tempos depois sobreveio uma zanga
que era uma criança nua
entre umas tábuas de passar a ferro
e dois elevadores lindíssimos

Metrónomo (disseram eles)

Verdadeira saudade pernilonga
o pára-raios pôs-se a esfalfar romanticamente o toldo
de uma máquina de escrever disposta para o amor às quatro no interior
de um quarto
que era uma planície redonda semeada de vírgulas e violeta
com um pequeno garfo nas costas
que era o amanhecer que é uma árvore
na boca de uma mosca de veludo rosa
(...)

"E note que quando digo poeta não digo fazedor de
poemas, digo poeta, figura bem mais vasta do que
andam a dar a ler aos tipógrafos."


Mário Cesariny de Vasconcelos, pintor surrealista

Fonte | excertos da dissertação de Diana Isabel Fontes Vasconcelos | 
|O Poeta Mago – Presenças da Magia na Obra Poética de 
Mário Cesariny de Vasconcelos|


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