sábado, 12 de junho de 2010

Itinerarium mentis in Deum

O que move a mente no acto intelectivo? Para que fim se encaminha o pensamento? A investigação filosófica é uma busca pela Verdade? Ou a Verdade já está dada por revelação e a especulação é o iluminar desta Verdade que, por revelação, é obscura? Uma outra alternativa ainda é que não existe qualquer Verdade e a especulação avança a partir de si própria, isto é, existe uma dinâmica própria do pensamento, ele é o seu próprio motor (leis da lógica). Logo se segue a pergunta pelo fundamento da lógica. As suas leis têm o seu fundamento no mundo ou são os andaimes do pensamento, só a eles dizendo respeito? Se assim é, tudo acontece num mundo mental desprovido de relação com o exterior.
Filosofia e felicidade. O exercício filosófico apenas faz sentido se proporcionar a felicidade? É a felicidade ou o seu desejo que impulsiona a especulação? O pobre que especula no deserto. O deserto é um local inóspito, despido de vegetação, onde não há água, que causa sofrimento. Local de purgação, ascese, de confronto com os demónios que assolam a alma e que moram nela, lugar agónico. É também local de passagem. Para ir à paz é necessário passar pelo deserto (da razão?).
Em última instância, a felicidade deixa de ser o que move o homem a especular. Quando se dá o apercebimento de que não se necessita de nada para ser feliz e, ao mesmo tempo, que nada deste mundo pode fazer absolutamente feliz, a procura da felicidade deixa de ser o que preocupa e move. A especulação passa a ser fruto do amor. É o amor a Deus que move ao Anúncio. A paternidade e maternidade espiritual é, neste estado, a aspiração da alma. O amor a Deus e aos homens impele a alma a especular e a comunicar. Fazer gerar ideias nos outros. Ajudar a conceber ideias que reflictam a Bondade de Deus. A condução das almas para Deus é a dinâmica que anima a especulação filosófica. E isto é pobreza, na medida em que nada se possui, só o amor que anima a vontade e a vontade que anima o amor.

8 comentários:

  1. A luz ilumina a escuridão. Para lá da luz há sempre (?) escuridão. Quero com isto dizer que quando começamos a especular, é como se vissemos algo que antes não viamos, mas algo que é obscuro no seu ser para nós ou nas suas relações. Por vezes a luz, depois de acesa, apaga-se. Por que se acende? Por que começamos a reflectir? Para semos felizes? Talvez. Porque nos dá prazer saber? Curiosidade?

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  2. Excelente reflexão. Porque se há-de o amor confinar a Deus e aos homens? Porque se não estenderá a todos e tudo?

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  3. Sabes que está lá, mas não sabes o que é.

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  4. Estou de acordo consigo, Paulo. "Louvado sejas, meu Senhor, com todas as Tuas criaturas..."

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  5. Está de acordo porque está de acordo? Ou está de acordo porque esse texto está de acordo?

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  6. Estou de acordo porque estou de acordo. Não me vai pedir para explicar a teoria da univocidade do ser, pois não? Um abraço

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  7. Não sei o que é o ser, nem tampouco se há alguma coisa unívoca. À parte cumprimentos, o post está muito bonito. Um abraço, Nuno.

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