domingo, 23 de maio de 2010

Poema destinado a haver domingo

Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.

Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre

Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o Amor por fim tenha recreio.

Natália Correia. Poesia Completa. Publicações Dom Quixote. 1999
Ao Platero, sem ciladas, sem armadilhas
Um abraço fraterno, poeta!

3 comentários:

  1. Ó RUI

    obrigadíssimo. não precisavas de recorrer à grande Natália Correia.

    não ficava menos feliz com um dos teus belíssimos poemas

    abraço

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  2. adorei o poema e mando beijinhos aos dois amigos*

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  3. Deixo-te aqui um poema:

    Limiar

    Somos ainda o limiar - espessa
    nuvem embrionária. Verdes,
    imaturos crustáceos
    emergimos
    à superfície grávida
    das ondas. Somos
    o medo ou sua
    improvável renúncia. O que
    sabemos do
    amor, da morte, é só
    difusa,
    opaca,
    luminosa fábula.


    Albano Martins
    Assim são as algas

    Tenho saudade de ler o teu rosto

    Feliz

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