Vi um anjo na pedra e lutei com ela até o libertar.
Michelangelo
I know nothing in the world
that has as much power as a word.
Sometimes I write one, and I
look at it, until it begins to shine.
Emily Dickinson
Estes dois, o poeta da pedra e a poetisa da palavra, conseguem expressar o mais profundo significado que a poesia tem para mim. Imaginemos que as palavras são como pedrinhas. O não-poeta, o que se julga poeta, mas não o é, pega nas pedrinhas e junta-as, chamando a esse conjunto um poema. O poeta não. O poeta respeita as palavras, respeita as pedrinhas, como Michelangelo respeitava as pedras. Cada palavra tem em si um anjo aprisionado. Não basta juntar palavras bonitas e amontoá-las. O poeta sabe o lugar de cada uma em relação a todas as outras. Todas as palavras têm um anjo e são igualmente importantes, mas o anjo só é libertado pela sinergia entre elas, pela colocação de cada uma delas no lugar certo. Então, o poeta, junta as palavras, como pedras e sabe quais as palavras que ligam umas com as outras, quais as que pertencem a outro poema e guarda essas. Depois pega nas que sobraram e coloca-as no lugar certo umas em relação às outras e elas começam a emitir um ligeiro brilho. Mas não é o brilho da poesia. É o brilho do despertar da poesia. Há que guardar mais algumas palavras ou procurar uma que está escondida. E depois ainda há que baralhá-las de novo e respeitar a distância ou o amor entre elas. E polir o espaço entre elas e algumas palavras são como estrelas no céu, mas outras como laços de seda ou veludo da cor da noite, outras ainda como caules ou rios, umas pulsam, outras descansam. E começam a brilhar com a luz da poesia e o poeta apaixona-se por elas e é com esse amor que lhes dá o polimento final que liberta o anjo nelas. E só então temos um poema. E o conhecimento do poeta para fazer isto vem da sabedoria e verdade iniciais. De nenhum outro lugar. E é por esta razão que todo o poema, todo o poema verdadeiro, se inicia com um despertar. Não das palavras, mas do poeta.
Tão belo Laura, tão poético! Ía dormir e despertei. Porque este texto é poesia. Bem-haja!
ResponderEliminarEste texto trouxe-me até aqui, Foi como se um anjo, antes de ser palavra, o Anjo da Poesia, o inominável ou o que guarda todos os nomes se desvendasse, não para mostrar a Poesia, mas para despertá-la. É por isso que certos textos brilham como poemas. Dizemos que são estrelas, mas não há nome para eles. Porque o brilho é desvelar, mas não esconde o mistéro,revela-o, velando-o.
ResponderEliminarMuito belo. Grata Laura, pela inspiração e pelo acordar, ainda que fosse de noite e é já manhã.
Um beijo à Isabel. Bom Dia.
ResponderEliminarObrigada, queridas Isabel e Saudades. Os vossos comentários significam muito para mim.
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