sábado, 17 de abril de 2010

meu amor camponês

meu amor camponês
não me abandonou de vez

às vezes telefona
dos trabalhos no campo
de mondar as searas
de ervas de balanco

diz coisas sem sentido
como chuva tempestade vento
mesmo que não lhe dê ouvidos
tudo o que ela fala entendo

espalha-se pelo astro
um ácido cheiro a cio
que me entra pelas narinas
como odor de lodo em estuário de rio

entre o pólen das favas
e o rubro escandaloso das papoilas
meu amor transpira cheiros de ervas bravas
arrulha-me recados como se fosse rola

evola-se no ar até chegar a mim
quando ela telefona tolda-se a atmosfera
as manhãs parecem nunca mais ter fim
meu amor camponês é mãe da Primavera

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