sábado, 2 de janeiro de 2010

Verde Deserto

Custa-me olhar para trás e ver aquilo que já foi. Parece-me tudo tão longe e distante, que nem me reconheço naqueles momentos. Pergunto mas quem é aquele que por ali se passeia, em episódios de vida sem sentido e de absoluta perdição.

Sim, sentia-me muito perdido. Ou melhor, ELE sentia-se perdido. Na verdade… ele sabe AGORA que estava perdido. Foram momentos sem norte, sem sul, sem eu, sem tu… e sem nós. Sem laços que o prendessem ao que quer que fosse, a quem quer que fosse. Era a independência total, o viver sem compromisso. E correu tudo bem (achava eu,… ele!) , até que parei. Parei, sentei-me no cimo do monte e olhei para aquela vida, para aquele deserto verdejante. Um deserto onde nunca houve sede, nem fome e as provações nunca foram físicas. Onde tudo abundava e tudo era fácil, rápido e imediato. Sim, uma vida em modo «fast food». Uma «fast life».
E de repente surgiu a vontade de me atar em nós e em laços com as coisas e as pessoas; de me envolver, de pertencer, de «estar com». Cansado de estar. Posso agora começar a ser? Posso agora olhar para o meu deserto verde e colorido e guardar a sua recordação num baú sem fundo? Sim, agora. Aqui. Posso? Deixar o verde amarelar pelo sol, secar, tornar-se palha e desvanecer-se no tempo.
Posso?



Texto de Joana Sousa | Fotografia de João Paca
http://olharapalavra.com/

3 comentários:

  1. Há um ponto.
    Um ponto exato onde a natureza transforma o verde no seco depois de deitar a semente ao solo.

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  2. É tudo tão belo e fácil quando se pergunta: "Posso"?

    Há, na verdade, porque tem que haver, esse ponto em que se dá esse acontecimento.

    Esse lugar é que me faz agradecer.

    Obrigada, Joana, por este sentir.

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  3. o «posso» é assim... uma porta! enooooorme!

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