segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

CARTEIROS


O talvez mais conhecido em todo o mundo
terá sido o de Neruda. pelo menos o mais mediatizado

qualquer presidente da Républica
qualquer rapariguinha candidata a casting
para novela de TV
receberá muito mais
correspondência diária
do que o voluntário exilado Pablo
num recôndito lugarejo litoral
do seu Chile e de Alliende

o meu carteiro por exemplo
nunca me trouxe mais
do que o jornal diário
que albergava minhas modestas crónicas semanais
de mistura com um ou outro
agora em altura de ano novo
documento oficial sobre cobrança de impostos

meses seguidos só com o jornal diário
e alguma nem excessiva essa
publicidade indesejada

raramente falei com o meu carteiro
porque vinha de moto
sempre acelerado
só telegraficamente uma vez ou outra no Café da Aldeia

cumprimentava-me com um bater- de- pala militar
sugerindo-me que falasse dele
numa das minhas crónicas semanais

o que nunca veio a acontecer
porque a Redação do Jornal diário
entendeu deixar de publicar
as minhas crónicas e

pior do que isso
há dois dias
entre Évora e Arraiolos
o meu carteiro desfez-se
como volátil postal
que lhe caísse em asfalto encharcado

20 comentários:

  1. Final tanto mais belo quanto mais trágico...

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  2. Mas autêntico
    Sem retomar NOVALIS
    Carteiro comprou carrinho novo, chocou de frente com camião, com
    violência tal que se enfiou completamente debaixo dele.
    E carteiro é sempre figura pública, emblemática, nossa

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  3. platero, carteiro... neruda falta de correspondência.
    platero... carteiro falta de correspondência.
    dois poetas revolucionários, bom!!!

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  4. Não brinques, Baal, que fico triste.
    Mas é muito bom saber-te meu amigo
    Abraço

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  5. abraço platero, é uma brincadeira nómada, mas tudo flui e de certeza que o poeta das metáforas (neruda) não se sentia ofendido pelas 'brincadeiras'. é pelo menos o que sinto.

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  6. A minha vez:

    "O CARTEIRO"

    Em todo o ser humano há um carteiro
    que um dia se enamora de uma dama
    querendo antes do mais saber primeiro
    o nome que ela tem, como se chama.

    Para uns é Beatriz, como a de Dante,
    para outros Leonor, Laura ou Diana,
    para Camões ignora-se... perante
    os vários nomes com que nos engana.

    Todos somos carteiros na existência
    que em dada altura, sem lugar nem data,
    nos vemos nessa súbita emergência.

    Só que nem todos temos um Neruda
    para com seus poemas na hora exacta
    nos dar a sua... calorosa ajuda!

    JOÃO DE CASTRO NUNES

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  7. O meu chama-se Carlos. Nasceu em terras de outro português mas fala como um autentico alfacinha.
    O Carlos conhece todos pelo nome e avisa sempre alegre: "Cuidado amiga, que só trago más notícias: contas e contas para pagar". Quando são as registadas com aviso de recepção, é certo e sabido que há enguiço.
    Quero as cartas de outrora - aquelas, as outras que não trazem o preço no verso!
    Platero é bonito o poema!

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  8. JCN

    Bom soneto. Não mereceria que me fosse dedicado.
    Em matéria de forma só me desagrada
    penúltimo verso de último terceto:
    "para com seus poemas na hora exacta"

    de resto, a excelência de conteúdo basta a suprir tudo.
    Soneto é muito bom. Agradeço gentileza e felicito-me a mim próprio por meu modesto poema lhe o ter inspirado.

    abraço

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  9. Meu caro PLATERO: não há bela sem senão. Aceitando de bom grado o seu autorizado reparo, altero o verso em questão para:

    "para, como no filme se constata,".

    Melhor ou pior, sempre é uma alternativa! JCN

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  10. JCN

    Não esperava tanto. O que me obriga a agradecer.

    mas olhe que a prosa "descabelada" de FAUSTA
    não me agrada menos.
    Questão de protagonismo discutam-na entre os dois.

    duplo abraço

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  11. Meu caro PLATERO, quem não gosta de incenso?!... Aponte-me o primeiro, a começar pelo BAAL! JCN

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  12. JCN

    - desbragadas, que deixaram de ser
    (expulsas?) de Braga?
    - se bem que descabeladas tb não é sinónimo de Careca.Mesmo só com a 4ª. classe posso perguntar se alguma vez leu Brecht?

    que classe a sua, meu amigo, a 4ª.

    abraço

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  13. jcn... incenso ou incêndio? é que repentinamente lembrei-me do da embaixada de espanha (com a respectiva bandeira da monarquia espanhola). o chato é que entre os móveis (carlos vii?) também queimámos um picaso. ignorante que era (sou).

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  14. Sem querer armar em erudito, permito-me esclarecê-lo de que "desbragado" nada tem a ver com Braga, minha terra natal, mas com "bragas", termo arcaico (caído em desuso) sinónimo de calças. Daí o ditado "Não se pescam trutas com bragas enxutas", que o povo transformou em "Não se pescam trutas com barbas enxutas" por desconhecer o significado do termo em questão, há muito arrumado na prateleira. Coisas, meu Amigo!
    Quanto a Brecht, a minha 4ª, bem tirada, ainda dá para o ler na versão original, muito embora não seja das minhas preferências. Não vou a essa missa. JCN

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  15. Queimar um Picasso!... Que brutalidade! Na sua bem-amada União Soviética, sob os bigodes do Joseph Dugasvílli, dito Estaline, dava pena de morte: "fusilé!", como diria o Maneta. Não repita isso muitas vezes, para não o acoimarem de cafre ou similar! JCN

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  16. Onde é que vossemecê, senhor BAAL, foi inventar um Carlos VII na pátria de Cervantes? JCN

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  17. o estilo da mobília jcn. o picaso foi um engano (mas a arte não dá de comer a ninguém).bom foi incendiar a bandeira da monarquia espanhola já que a outra, a portuguesa, já foi queimada há muito tempo.

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  18. e para terminar 'picaso' é uma marca da citroên.

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