terça-feira, 8 de dezembro de 2009

a vida é imperfectível

Não precisa de céu

Quem caminha no ermo da contemplação

Não precisa de imensidade

Quem vislumbra o que não há em tudo o que se vê

A alba fundura quase repleta de sede fresquíssima

A brotar do fundo escuríssima noite de ser homem e tudo o mais

Na orla do desejo de partir

Os pés alados as mãos afeitas à brisa corcéis de fogo preso

À desventura de haver ainda o que se dê conta da agudeza dos dias

Não precisa de si

O que se solta na perdição na alvura do sem depois

Não precisa de amparo

O refúgio supremo é o abandono

A insistência na largura das manhãs quando o sol não é mais que o sol

Tudo o que é feito de propósito está embrulhado em perfeição

A forma é dilacerante porque é definitiva

A dor de ser é ilusão e vontade duma verdade que deve ser deixada em paz

É luciferina a concretude da matéria

É melhor comer as maçãs com a casca

A prisão eidética que acorrenta coisa nenhuma ao sabor de maçã

E ao gosto de comê-la pode bem ser mastigada

Deglutida digerida

Defecada

Assim com tudo o que se diz substante

Nem com todo o armamentário categorial se deve aprisionar o que não é para ser

Soltos por fora forçados por dentro a ser uma impostura

Louco é só o que não acredita na loucura

Depois de apagada a luz é que os fantasmas de noite se tornam irreais

Transitório é só o que permanece na memória sob o signo do acabamento

15 comentários:

  1. Que mastigada! Que diria o "zarolho" deste poemaço... JCN

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  2. O zarolho estaria ainda a ver se comprava uma maquineta de fazer sonetos a preceito...
    :)

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  3. "estaria ainda a ver"... com que "olho"?!... JCN

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  4. Com o que lhe permitisse aceder à estética da coisa.
    :)

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  5. "Não precisa de céu
    Quem caminha no ermo da contemplação..."
    Não precisa de chão quem confia na lonjura e no abismo incendiado das marés; no fogo alquímico que a tudo devora e de onde tudo jorra sem princípio e sem fim!
    Como "uma maquineta de sonetos" sempre a girar (risos para JCN) sem princípio nem fim!

    Como uma Serpente alada a arder! Um relâmpago no astro de onde se avista o Homem e o Poema é Luz cega.
    Onde a visão se alimenta da sede nascida. "Não precisa de si" quem se lançou no vasto mar onde as asas são labaredas, chama de seu mesmo arder. Amor voraz e olhar de manso, mas veloz unicórnio...
    Mesmo com um só olho, o "zarolho" via mais e mais longe desse rio do que nós que nele estamos mergulhados.... quiçá afogados desse memo mergulhar.

    Essa escrita encarnada!... Essa cor da imagem me leva em chama à terra de onde nascem os sonetos e o Amor que mora dentro deles!

    Um beijo aos dois e... um abraço à Serpente, que acorda do seu torpor!

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  6. Ante a gentil intervenção da apaziguadora "Fada Boa", deponho as armas da poética contenda. Caso contrário, eu lhe diria sem rebuços como aceder à estética do coiso! JCN

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  7. Paulo...Feitos Tais, "sem depois", sorvo-os em continuidade do que propôe, cujo estilo sincrético, sintético e poético me alicia e ressoa-me muito bem.

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  8. E porque não... piadético?!... Aliás, sem (m)alicia. JCN

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  9. Nada há de mais piadético
    que os poemas do Feitais:
    é de a gente pedir mais
    e cada vez... mais sintéticos!

    JCN

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  10. Com minhas quadras respondo
    musicadas a preceito:
    não prescindo do meu jeito
    que é alérgico ao estrondo!

    Cá por mim não gosto mada
    de comida mastigada!

    JCN

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  11. Pela grossura da letra, já te apanhei, carago! És a sombra... que me assombra, mas não me deixa assombrado, pois não passas de um... tarado! JCN

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  12. Ó senhor, feche o olho e vá dormir! que ratazana... :)

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  13. Pareces mesmo uma mada(lena)... a carpir-se! Tem medo das ratazanas, a coitada! Medo que lhe vão ao olho. Seguramente! JCN

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