quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ponte 25


4 comentários:

  1. Uma ponte... tu numa margem e eu noutra. Separa-nos um rio, cuja corrente forte assusta. Olho para essa corrente e vejo luzes de várias cores em forma esférica. Para além das cores intensas emanadas pelas esferas coloridas, oiço sons semelhantes ao som de uma orquestra a afinar. Estendo-te a mão mas não te vejo. Não tens forma nem cor nem cheiro... É como se os teus traços começassem a revelar-se, não na margem que pisas mas sim na ponte. Espera... tu não pisas pois não tens pés. Os teus pés são os meus. As tuas mãos são as minhas. Mas eu tenho mãos e tu não tens... Assim como tenho pés e tu não... Olho para ti e vejo nada. Olhas para mim e vês um corpo a envelhecer, uma cabeleira a branquejar e rugas nos olhos, daquelas que se parecem com as rugas do chão desértico com fissuras profundas que são caminhos que me levam a ti. A Ponte 25 liga-nos num festival de fogo-de-artifício musical que faz do silêncio sinfonias cristalizadas, daquelas em forma sonata pois as outras vagueiam pela ponte dando música a valsas dançadas por anjos e demónios, deuses e deusas, fantasmas e aparições que se encontram encurralados na ponte ignorando a tua direcção e aprisionados na minha. A minha margem é em forma sonata delineada pela razão da régua e esquadro, da portaria e do despacho burocrático, da lei e da prisão, do onanismo e do egoorgasmo pois os nossos contornos separam-nos uns dos outros como cinzas que fizeram parte do fogo que és. Tu és explosão, explosão que explode na ponte 25, explosão da qual sobram cinzas arrefecidas que eu sou. Mas tudo isto não passa de realidade ilusória pois a ilusão real é eu ver-me ao espelho cujo vidro é feito de Ponte 25 e deparar-me que afinal eu sou tu e tu és eu, ou seja, o vento beija a água gélida do rio o qual se regozija ondulando.

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  2. mas, por momentos, não me vi em qualquer margem. Por momentos foi essa a luz que em regresso se me espelhou na tua imagem branca como o alvor dos céus onde tua alma se agrisalha, informe, antiga ou ancestral vibrando de dentro para fora como se não houvesse o agora de um coração. Uma imagem no retorno onde ainda em viagem recordo se eras tu eu ou esse entre-nós espelhado. Mas continuo sem saber quem sou. Talvez. Continuo sem saber quem sou, mas na ponte sei quem és. E se paro, no teu movimento te encontro. Por momentos amparo que é-o estar-se no meio da ponte. Reflecte-se o céu entre o chão a teus pés onde te moves e danças, sentado a meio da escadaria, onde te sonho mais alto, meu mestre em qualquer paraíso. Não abro as portas, nem varro o vento da ideia de que uma nuvem preenche de vida os meus salões. Vago pelas ideias, vou ao embalo dessa maré. E se o teu corpo se move, silente, ensejo-me do nada por mim nunca imaginado. Não há corpo. Nem oceano. Não há vento nem aragem que agora me demovam do silêncio, pois que só assim te escuto, ao passar deste rio. De que lado me encontro? E olho para o fundo do copo. Em frente a imagem curva esbate-se no vazio do fundo onde o líquido do silêncio é pretérito esvaído no falso rubor deste ocaso, lento fecho incluso em espelho d'olhar plano elevando suavemente as guias da ida asa. E na tetriz alada de ninguém, amante amando o teu gesto, na escada sentado floresto o deserto de mim em além. Árido e seco, onde as tuas palavras florescem é deste rio em desconcerto duas as vozes que se agradecem.

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  3. Tanta prosa... para uma ponte!

    cuja função náo é mais
    que unir as margens de um rio
    que separa por um fio
    duas grandes capitais.

    Tudo o mais é Poesia,
    que é irmã da Fantasia!

    Das pontes a função primordial
    é permitir transpo uma ribeira
    ou qualquer outra espécie de barreira
    como a profunda depressão de um vale.

    Viva a ponte 25 de abril!

    JCN

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  4. Uma ponte como nós. Uma ponte 25 que não tem margens. Uma ponte com esta aura, como o esplendor de um arco-iris de luz bruma e vapor ... As luzes reflectidas na água negra dos céus que baixam, enquanto a água escura sobe. Na cidade precisamos de pontes!

    ...Por isso uma folha que cai é uma alma que se eleva. Existe no mundo uma invisível e misteriosa simetria e, como é bem patente pelo exemplo, também no visível ela está. Em beleza se mostra, a ponte e a aura em "lumino-cidades"
    Como se mostrasse uma certa árvore com miosótis lilás miudinho, para dizer Primavera...

    Vou na ponte: encontro o Rui, Kunzang, na Ponte 25, avistamos... JCN! Cumprimentamo-nos :) Pedimos um soneto a JC, avistamos Paulo Borges e Damien, a girarem como piões de luz, cada um girando em duas direcções em simultâneo...
    Também lá estou, com um arco azul a atravessar a ponte, o arco azul de Dali... ou era a irmã do pintor a olhar a janela e a azular o Tejo no olhar...
    Rui desdobrou o lenço azul e... eu...:) espirrei!
    Espero que não seja a tal de A... Ah!

    Fui.
    Não si se voei, se fui puxada, como naquelas imagens animadas...

    Um beijo aos dois...
    P.S. Não sei se estou a escrever para a Serpente se para a EnTre. ultimamente...:) Um sorriso para Damien, tão bom vê-lo por cá!

    Trouxe um cão... Não! Foram dois...
    Vi dois cães... ou era um? Ou dois blogues iguais? Huumm! De olhos azuis... orelhas grandes... Eram...
    Não! Isso era... PPA?! Estou confusa! Talvez também obtusa, mas pouco!...

    Onde íamos nós?
    Uma ponte. Era uma ponte...

    Era um Abraço! Saudoso, Amigos.

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