Canadá, Outubro de 2008.
(...)Neste meu mandato, começamos a nossa ardente jornada de combinar democracia e FIB. Estamos nos comprometendo a assegurar que a confiança dos nossos reis no seu povo, e a confiança do povo em nós, os eleitos, não seja traída. Fizemos a promessa de consolidar e fortalecer as condições que irão possibilitar que cada cidadão encontre a felicidade.
Vocês aqui chegaram logo após a coroação de sua majestade o Rei Jigme Khesar, como o quinto Druk Gyalpo. A coroação de sua majestade tem um especial significado para o FIB, pois sua majestade e o seu reino personificam o FIB. O Rei enfatizou a promoção do FIB como sendo sua responsabilidade e prioridade, como tornou isso claro no seu discurso de coroação,
“..... quaisquer que sejam as metas que tenhamos – e não importa o quanto essas metas mudem neste cambiante mundo – em última instância, sem paz, segurança, e felicidade, nada temos. Essa é a essência da filosofia da Felicidade Interna Bruta. Eu também rezo para que, enquanto for o rei de uma pequena nação no Himalaia, possa, durante o meu reinado, fazer muito para promover o maior bem-estar e felicidade de todas as pessoas neste mundo – de todos os seres sencientes”.
Felicidade Interna Bruta enquanto meta e propósito do desenvolvimento é fruto da sabedoria de sua majestade o quarto Rei, nascida da sua dedicação de entender, articular e preencher os desejos mais profundos dos seu povo. O FIB serviu como o principal motivador e base para todas as políticas e ações durante o seu glorioso reinado de 34 anos. Na medida em que a realidade do nosso insustentável e incompleto modo de vida se torna ominosamente, e de fato, devastadoramente clara no nosso problemático mundo, acredito que o FIB, visto como um paradigma alternativo de desenvolvimento, se tornou mais relevante do que nunca.
Para a organização de todas as conferências sobre o FIB o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) foi um parceiro excepcionalmente generoso e disponível. A vocês, do PNUD, vai o crédito de do interesse cada vez mais amplo pelo FIB, e a crescente convicção da urgente necessidade de se encontrar uma alternativa para o nosso ganancioso, explorador, e insaciável estilo de vida, ditado pela nossa fé na infalibilidade das forças do mercado, as quais, por sua vez, extraem seu poder da ambrosia do consumismo.
É muito encorajador observar como que aspectos do FIB estão sendo implementados de baixo para cima, de uma forma não centralizada, em muitas comunidades locais ao redor do mundo. Grandes mudanças de governos em prol do reconhecimento daquilo que seja o verdadeiro progresso, e de como este deve ser medido, podem de fato somente acontecer quando cidadãos e organizações, dispersos como são, agem em uníssono e convergentes, impulsionados por uma nova consciência. Tais ações estão sendo estimuladas pelas colaborativas atividades de instituições de pesquisa de vanguarda pelo mundo, as quais estão sendo respaldadas por pessoas e líderes iluminados.
Sem ser complacente, seria benéfico que intensificássemos a colaboração internacional nas mensurações, enquanto enfatizássemos a necessidade de se manter o foco na formulação de aplicações práticas em termos de projetos e programas enraizados nos locais onde o verdadeiro povo se encontra, e onde as genuínas e significativas mudanças de base devam acontecer. Nesse sentido, parece que é mais fácil desenvolver medidas ou indicadores de progresso para o FIB do que formular abordagens que possam de fato reformar ações de políticas públicas.
A questão com todas as tentativas de se medir o desenvolvimento holístico é a de persuadir a reconfiguração das políticas públicas, a reestruturação ou a reorientação das instituições, e a transformação do comportamento humano.
Para esse fim, talvez até que tenhamos que ser suficientemente corajosos para sugerir alternativas às políticas concorrentes, através das quais os propósitos comuns e as visões são freqüentemente derrotadas pelas convencionais divisões de esquerda versus direita, a favor-do-mercado versus socialismo, cálculos eleitorais versus interesses de longo prazo. Enquanto que todos reconhecem a globalização e a realidade da "aldeia global", as políticas públicas em todos os níveis precisam transcender as perspectivas paroquiais, nacionais e regionais para responder aos problemas globais, tais como a exaustão dos compartilhados recursos naturais e a erosão da consciência ética e moral. Mesmo que aceitemos as democracias como parte da solução, precisamos nos dar conta daquilo que a filósofa Onora O'Neill disse: "A democracia pode nos mostrar aquilo que é politicamente legítimo; não pode mostrar o que é eticamente justificável".
Eu ouso até dizer que o vocabulário e a arquitetura contemporâneos da governança não estão em perfeita harmonia com a governança para o FIB. Práticas baseadas nas mensurações do FIB irão, tenho certeza, requerer alterações nas estruturas tradicionais de governo, nos objetivos e normas administrativas. Para começar, as ferramentas e os critérios para a seleção dos projetos e dos programas devem estar alinhados com o FIB. Em seguida, vem a questão dos critérios decisórios quanto a como se usar o orçamento público, visando o bem público. Esses critérios necessitam de uma revisão, bem como o que é que se entende por "bem público". Parece que a felicidade, enquanto bem público, não consta como sendo o resultado intentado da maioria dos gastos públicos. Todavia, o que então não irá mudar é o desafio de política pública que vise melhorar o bem-estar do indivíduo sem comprometer o bem-estar do coletivo e vice-versa. Mas como se obtém esse judicioso equilíbrio entre os dois? Haverá aí uma dicotomia?
Enquanto que essa augusta reunião discute o tema da prática e da mensuração do FIB, eu convido vocês para que ponderem as muitas perguntas que me assombram. Como que se pode criar uma sociedade iluminada na qual os cidadãos sabem que a felicidade individual é fruto da felicidade e ação coletivas -- que a duradoura felicidade está condicionada pela felicidade dos indivíduos à sua volta -- e que se esforçar pela felicidade dos outros é o caminho mais seguro para se desfrutar de experiências gratificantes que trazem a verdadeira e duradoura felicidade? Como poderemos persuadir as pessoas para que adotem um novo paradigma ético que rejeite o consumismo? Como poderemos convencê-las de que o paradigma de crescimento ilimitado num mundo finito não é apenas insustentável e injusto com as futuras gerações, mas também espreme para fora as nossas buscas sociais, culturais, estéticas e espirituais?
Até mesmo a justificativa para crescimento econômico visando mitigar a pobreza soa demasiado dúbia, a menos que radicalmente melhoremos a distribuição de renda. Vergonhosamente pouco da mitigação da pobreza vem da enorme riqueza gerada na economia global agregada. O mesmo se aplica ao argumento de que precisamos crescer de modo que haja dinheiro para consertar os problemas ambientais. Acreditar nisso é acreditar em matar o paciente para curar a doença. Evidências de que precisamos crescer economicamente para sermos coletivamente mais felizes são até mais escassas nos países ricos. Bem, então como se pode advogar um novo conceito de produtividade, riqueza, prosperidade e plenitude, que têm pouco a ver com possessões materiais e com a marginalização dos mais frágeis, e mais a ver com o bem-estar social, psicológico e emocional?
Será que é suficiente sabermos como medir a felicidade, e esperar que isso irá influenciar a formulação de políticas públicas? Será suficiente formular políticas públicas baseadas no FIB? E o que dizer da vontade e capacidade políticas, considerando o fato que esses aspectos, numa democracia, são respostas condicionadas por demandas e aspirações populares? Logo, se as pessoas não forem capazes de compreender e favorecer as políticas públicas baseadas em FIB, será que os políticos ousarão? E se eles ousarem, será que serão bem sucedidos? Como podemos começar esse processo? Como podemos internalizar, além do questionamento intelectual e das declarações, os valores dos quais falamos? Como que nós, enquanto acadêmicos, pensadores, cientistas, líderes e responsáveis cidadãos, podemos mudar nosso modo de vida e comportamento?
Estou chegando agora ao final do meu humilde discurso. A sabedoria tradicional nos diz que novas idéias e novos pensamentos emergem do caos e da devastação. Se o FIB precisa ser a nova ordem, então a antiga ordem parece estar sucumbindo, conforme se manifestam as múltiplas crises que estão testando a relevância e a sustentabilidade da ordem prevalecente. As crises financeira, energética e alimentícia, bem como as calamidades naturais com magnitudes e freqüências jamais vistas, creio eu, soam os sinais de alarme para nos avisar que devemos nos afastar do modo de vida que temos até agora adotado.
Grato pela paciência.
Tashi Delek! – Que prevaleça o melhor do melhor.
Fonte:
http://felicidadeinternabruta.blogspot.com/
A 5ª Conferência Internacional sobre a Felicidade Interna Bruta decorreu no fim-de-semana passado no Brasil, em Foz do Iguaçu.
ResponderEliminarhttp://www.felicidadeinternabruta.org.br/
A lição que um minúsculo país dos Himalaias dá a todo o mundo!...
ResponderEliminarPequeno na dimensão, mas grande na alma. Viva o Butão.
ResponderEliminarAté parece que tudo é uma questão de... tamanho! JCN
ResponderEliminarTROVAS
ResponderEliminarNão deixa de ter piada
esse caso do B(o)tão:
tudo agora é só questão
de haver casa adequada.
Há também um nome igual
ao desse pequeno estado
nos Himalaias fundado
no centro de Portugal,
Fica ao pé da Pampilhosa
que ninguém quase conhece
mas que agora até parece
que vai tornar-se famosa!
Como é costume dizer
sob a forma de ditado
guardado está o bocado
para quem o vai comer|
JCN