"Tal é a condição onde ultrapassou todo o desejo e rejeitou todas as formas do mal, onde não mais conhece o medo. Do mesmo modo que um homem abraçado pela sua amante nada mais sabe do exterior nem do interior, assim este indivíduo abraçado pelo atman intelectual nada mais sabe do exterior nem do interior. Tal é a condição suprema onde todos os seus desejos são realizados, onde nada mais deseja senão o Si, onde os seus desejos se desvanecem, onde não mais conhece o desgosto.... Aí um pai não mais é um pai, uma mãe não mais é uma mãe, os deuses não mais são os deuses, os Vedas não mais são os Vedas, os mundos não mais são os mundos. Aí, um ladrão não mais é um ladrão, um praticante de aborto não mais é um praticante de aborto, um Candala não mais é um Candala, um Paulkasa não mais é um Paulkasa, um asceta não mais é um asceta. Aí, as suas boas e más acções não mais o seguem, pois ele se mantém então para além de todos os sofrimentos do coração"
- Brhadaranyaka-Upanishad, IV, 3, 21-22.
a transcrição é sedutora
ResponderEliminarConvida a tentar confirmar se é verdadeira
abraço
Recuando a um degrau ligeiramente prévio a isso de que fala este excelente post, caro Paulo, deixo aqui uma passagem duma outra escritura hindu:
ResponderEliminar"Qual é o sinal do homem firmemente estabelecido na sabedoria (sthitaprajna) e mergulhado no samadhi? [...]
Quando o homem remove todos os desejos da sua mente [...] e apenas se compraz no atman e pelo atman, diz-se então que ele está na posse da sabedoria.
Daquele cuja mente permanece inabalável no meio dos sofrimentos e livre do aguilhão do desejo no seio dos sentidos; daquele em quem a paixão, o medo e a cólera já não residem, desse diz-se ser um sábio de inteligência estável (sthitadhih).
Se, isento de qualquer apego, e se, quando venham até ele males e bens, ele se não lamenta ou regozija, nele está firme a sabedoria.
Se, como a tartaruga recolhe os seus membros para dentro da carapaça, ele subtrai aos objectos sensíveis os seus sentidos, nele está firme a sabedoria.
Os objectos dos sentidos afastam-se da alma que se abstém desse alimento, mas tal tendência (rasa) permanece nele; esta, apenas desaparece com a visão do Supremo (Param drishtva)"
(Bhagavad Gita, canto II, 54-59)
Que desilusão... para Inês e Pedro! JCN
ResponderEliminarAlguém haveria de ficar a "perder".
ResponderEliminarOu talvez não.
Ora vejamos. Pensando melhor...
Essa condição de não-dualidade, que de modo intermitente se sente (pois que como morte seria... se durasse!) por comparação ao abraço infinito, sem tempo do que sente o homem abraçado pela sua amada... só por instantes pode ser eternizado, pois que não é do tempo nem fora dele, esse Amor... fulgurante e cego...
ResponderEliminarComo os seres que se amam se dissolvem um no outro e no mundo, perdidos se encontram num mundo que não é mundo libertos de si e do outro, do fora e do dentro...
Aí, onde não há perda nem ganho, nem dentro nem fora... é onde queremos estar... e por o querermos não estamos, mas estamos se o não queremos...
Inês e Pedro são esse não lugar.
Camões soube-o.
Ao perder o sentido e os sentidos da consciência de se Ser é que verdadeiramente se é e não é e se não é nem não é...
ResponderEliminarJá não sendo necessária a busca... o encontro é sem quê nem porquê...
O Amor não pode ser degolado - a carne não é um limite, mas o limiar da não-dissolução primordial. Para a diacosmese amorosa as coisas passam-se ao contrário do que, na sua prisão à linearidade temporal, a Física contemporânea pressupõe: a origem é uma implosão, o Big-Bang é, para a superação do limitado substancializado pela desatenção tornada ‘normalidade’, um anular de tudo no não-Acontecido. Nem Pedro, nem Inês, só Pedro-Inês-,-o-Universo – o Pluri-Verso – o nada feito verso total, a totalidade nadificada na sua ascendência para o não-vencido, o não-afirmado, no fundo, o Firme da Ilha que se sustenta em todo-nenhum Lugar. Aquela em que entramos se amar dor, como diz Agostinho da Silva, fazermo-nos ao mar…
ResponderEliminarEm ver de 'amar dor' - leia-se 'amar for'...
ResponderEliminarAgostinho bem o pensou - "fazermo-nos ao mar"... perigado é o que sem ele (perigo e a ousadia) não logramos fazer aproximar a ilha do marinheiro... sem que nenhum deles
ResponderEliminarQuando se dá esse encontro é imortal... e reminiscente desse Nada... O Pluri-verso e o Uni-verso...
:)
Caro Paulo Feitais, a Física actual pressupõe o que mais desconhece, tanto mais que é fatalmente matemática, mais do que outra coisa qualquer.
ResponderEliminarE a matemática, como sabemos, já se não auto-sustenta: é como um tecido esgaçado e roto à procura do que antes havia no buraco - ora, o buraco é o que havia, e o que havia é o que há.
Pode a Ciência - e a Ciência é sumamente estimulante do (des)equilibrar do pensar - elaborar "n" teorias da Origem, mas jamais roçará sequer a "ante"-"Origem".
É como procurar alcançar o reflexo num espelho. Porque é enganador, é que é real. Porque é tão real, é que engana tão bem.
Creio, por isso, que mais ultérrima é a via da (cons)Ciência.
Ainda que não menos enganadora.
"Aí, um ladrão não mais é um ladrão, um praticante de aborto não mais é um praticante de aborto"
ResponderEliminarUm assassino não é mais um assassino, um violador não é mais um violador, um estripador não é mais um estripador... Através do carma-ioga desapegamo-nos dos objectos e friamente, desapegadamente, desapaixonadamente actuamos... a sabedoria que sem compaixão imparcialmente queima tudo e todos... a sabedoria não compassiva que destrói... para quê ser compassivo e lamechas, para quê ser docinho e miminho para com os outros se é com esta sabedoria que sou o suficientemente forte para avançar no caminho cheio de espinhos?
E que é que Camões não sabia, "saudadesdofuturo"?!... JCN
ResponderEliminarQue grande assembleia de sábios! Até sabem... o que não é para saber! JCN
ResponderEliminarRealizar todos os desejos, é conhecer o desgosto de se ter.
ResponderEliminarEstar além das emoções é conseguir a alegria de ser.
Mas sentir o sofrimento ou alegria de um coração, é dignar-se a ser- humano.
A um certo senhor que se escancara em inexpressos "Ai, Jesus",e "Aqui d'El-Rey" direi, a título de exemplo, que a melhor maneira de consumar e cumprir um jejum é desapegar-se dele em pleno decurso do mesmo: comer carne quando isso seja proposto não permitido, e fazê-lo até, soi disant, "à fartazana", se as circunstâncias e convenções conselhem a que se não dê hipocritamente mostras de alguma inconveniente "insolitude"). E fazê-lo, como em vernáculo se diz, comendo "com nojo" e sem apego.
ResponderEliminar(Assim se vai além do "estrito cumprimento" da norma e se mata esta com o transcendê-la, em definitivo, em seu limite.)
Fazê-lo, tal como eu já aqui algures salientei, como se nos devorássemos a nós mesmos. Ver-se-á que isso não abre assim tanto o apetite.
No fundo, é esse porventura também o mais fundo sentido do pessoano "Ai, que prazer não cumprir um dever..." E bem assim do "enjoo" e "enfado", de outra ordem e motivos, ´we certo, que causa qualquer coisa em que se "transgrida": o supremo exemplo disso, de que falo, é a pornografia.
É este, enfim, o princípio da vacina: imunizar com a própria doença.
Neste caso: bom princípio, execução de arrepiar - como é patente com esta hortaliçada nefanda da "gripe" H1N1, com que nos querem começar a exterminar, com a nossa plácida licença!
Vossemecê parece que está a falar envolto em denso nevoeiro... sem se ver um palmo à frente do nariz. Será que está para vir finalmente... o tal D. Sebastião, meu irmão de leite? Clarifique as suas ideias, homenzinho de Deus!, e não se devore a si mesmo... vesanicamente! JCN
ResponderEliminarGenial, JCN!
ResponderEliminar"Vossemecê parece que está a falar envolto em nevoeiro!"
Espantoso!
Na verdade o humor é fundamental!
..."Não se devore a si mesmo... vesanicamente!JCN
Excelente!
Que personagens literárias!
Se estivesse realmente interessada em vozes romanescas...
(para fins de inspiração literária, JCN!) olha que dois... até parecem Um.
"Porra Senhor Abade!" (Peço de novo desculpa) É arte sacra ou farisaica?
Humm?!
olha que vocês, Senhores!
Quem é lá esse "irmão de leite " d'El-Rey?
ResponderEliminarDe leite???
Só se for condensado, e já azedote.
Não se me faça é dizer aquela do epíscopo do invicto burgo.
Não sei se a conhecem já...!?
Vai na mesma:
"Ó Senhor Dom Abade! Porrinha para si, homem!"
Quanto ao vate Luis Vaz, que Deus o tem (e nós o temos também e tão bem): o que ele não sabia, nem podia saber, é que teria epígonos de certa, tanto quanto incerta mas sempre desmusada injaez.
N.B.
O fio condutor dos comentários neste blogue comprova à evidência, para quem houvesse dúvidas ainda, a teoria do caos e dos fractais: o mais de prever é o imprevisível. Sem tirar nem pôr.
Começou-se numa sapientíssima Upanishad, e vai-se por aqui fora... até doer ou cansar.
Ah, e "à vol d'oiseau", dei de testa num site dum vilarejo, como os há por esse Portugóis fora. Tem lá, profuso e ungido, um sonetista que não me é nada estranho. Ora confiram:
http://www.portaldomovimento.com/joao_de_castro_nunes.html
Ah, e tem também por lá o tal Damião (de Góis) de que, por aqui, amiudadamente se ouvido falar, lembram? E tem ainda na terra (pasme-se!) um Pedro Nunes, fotógrafo neste encarne.
É só gente ilustre, ou puxada ao lustre.
"Irmão de leite" e "companheiro de armas", sim senhor! Criados juntos e batendo-nos juntos, lado a lado, nos areais de Alcácer. Escapei... por um triz, para infernizar, séculos depos, o Damião (de Góis). Se não fui eu, foi um homónimo por mim, o que vem a dar o mesmo. O leite... cá esta! De robusta e alentada ama. O "condensado e azedado" fica para o Damião... que se assume ao nível do meu padeiro, respeitável que nem ele! JCN
ResponderEliminarSó agora é que vossemecê descobriu a minha colaboração no Blogue do Movimento Cidadãos por Góis?!... Actualize-se, homem! Só sonetos... passam de quinhentos, a publicar para breve em monumental edição de luxo. Faço-lhe um desconto... sem dedicatória. Era a terra dos avós do cronista. Actualize-se, homem! e deixe-se lá de védicas antiqualhas, repetindo indefinidamente o "tudo que é nada e o nada que é tudo"! E que é vossemecê... senão menos que nada?!... "Sine animo injuriandi", mas tão-somente "Pour bien". JCN
ResponderEliminarNem que às quinhentas me deitasse (e já durmo menos que pouco) teria copinhos de leite bastantes para acompanhar a tardia sonetada, sr. Doutor.
ResponderEliminarFica para outra vida. Que pode ser já amanhã.
Ah, pois claro! O seu homónimo!
Eu devo ter tido também vários homónimos e antiquónimos. Mas não perco tempo com isso, pois o tempo não se perde, desperdiça-se a sua ausência de nós.
O "robusto e alentado" da ama nota-se, sim senhor.
Quanto ao luxo da edição: o luxo é só da edição. Camões precisou lá de luxo nas edições?! O luxo era ele, pela boca que deu obra.
Ademais quinhentos sonetos em edição de luxo, mais as cento e vinte páginas de intérminos preitos e prefácios, fora o tetralongo enumerar de brasonia e medalheira, até um carrinho do AKI transporta a custo.
Descubra-se, homem! Desmame-se! Algum dia há-de ser gente. Que não apenas presumir de estatura.
Dê-se alma, e sacuda o canudo: vale o que vale, e valemos nada à face de Deus. À "face" do Vazio e do além dele, menos ainda.
Grato pelo latinório e pelo "rien de rien", a lembrar Piaf.
Pronto! Já me passou...
Boa noite, Senhor Doutor de Castro Nunes.
Boa noite também, Senhor Abade!
Boa noite, caras Amigas e Amigos! A ler-vos também fico como o amante upanishádico: sem nada mais saber do exterior nem do interior nem de nada!
ResponderEliminarMuito grato. Sem ironia.
Boa noite, Paulo
ResponderEliminarGrata pela honra de em "sua" casa permanecer tanto tempo, em tão agradável(sorriso sem ironia também) e boa companhia.
PS. ... de todos... bem...(tal como no Asterix, também aqui)de todos menos menos... do baal, que tem medo de mim:))
e de si que só chegou agora.
Um abraço Paulo e desculpe se "brinquei" demais e abusei da sua hospitalidade fazendo demasiado ruído.
É mesmo dedicação e Amizade.
Beijo.
Homenzinho de Deus! em vez de "copinhos de leite"... emborque uns bons copázios de aguardente, à laia de Pessoa, para quem, já "tocado",
ResponderEliminaro binómio de Newton era comparável à Vénus de Milo. Por isso morreu... solteiro. Raios o partam! JCN
Os viúvos não morrem solteiros: morrem sós, o que é mais triste.
ResponderEliminarSeria bom que não partisssem azedos.
Além de incontáveis amigos, tenho muitos filhos, netos e bisnetos para me adoçarem... a velhice, não com mel de vespa, mas de abelah! Assim tivesse vossemecê, senhor arcipreste de "alhures"! JCN
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