quarta-feira, 7 de outubro de 2009

desatenção


(Nazaré, Agosto de 2008)

Melancolia dourada cintilação do que há de dentro brota

O favo da espera translúcida aparência do que vem

Ao lume da vida na inquietação do reverso da escuta

Toda a música é silente na suspensão da aurora

A audição das coisas deixa-as em cinza calcinadas de antecipação e saciedade

A ossatura do desejo são duas asas de bruma uma fuga a semear-se na treva do depois

Um susto contido pedra a pedra da anestesia de ser na habituação às coisas

Viver em suspensão a boca cerrada para as palavras de fogo

As mãos pescadas à linha para serem só instrumentos de repetição

Criaturas de fundura trazidas para o aquário das tardes fechadas por fora

O que vier assim afogado nas águas paradas da mesmidade

Não poderá furtar-se à contra-luz da surpresa

Essa fome de novidade que esconde o facto de tudo ser novo

A cada instante

5 comentários:

  1. O velho, quando é verdadeiramente belo, nunca deixa, por isso, de ser itirativamente novo! JCN

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  2. Ola paulo. Ainda há dias estava a discutir com um "aguiano" se amor poderia ser definido como atenção selvagem. Haverá alguma desatenção selvagem?

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  3. Corrijo a gralha "itirativamente" por "iterativamente", ou seja, repetitivamente. JCN

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  4. Na poesia, a fotografia, dimana, ilimita pelo fundo sabor da deriva, o espaço interior da inspiração.

    "Alguém, índigo, perpassa a tela. Sua sombra indefinível."

    Assim, desatento, imagino o ponto-de-fuga.

    Forte abraço :)

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