segunda-feira, 28 de setembro de 2009

REVELAÇÃO

Eterno Deus! que errado tenho andado
buscando-te nos céus, de ponta a ponta,
pelas estrelas, tendo-te ao meu lado,
dentro de mim, talvez, sem dar-me conta!

Procurado te tenho, vê tu lá,
no bater de asas da águia do Marão,
nas névoas luminosas da manhã,
nos versos do Poeta de Gatão.

Busquei-te até no chão das alamedas,
no pó das vulgaríssimas veredas,
na douta voz dos lentes de capelo,

quando afinal, segundo o meu Amigo
Júlio Teixeira, eu tinha-te comigo
no coração, tão perto, sem sabê-lo!

JOÃO DE CASTRO NUNES

19 comentários:

  1. Não me parece que mereça fogueira... Porque seria esse o destino de qualquer coisa?.. e deste soneto em particular?


    Merece ser aplaudido, JCN, e o seu Amigo Júlio Teixeira tem razão.

    "Onde buscar o que no peito bate?
    Fora dele não tem onde morar...

    (dois primeiros e hesitantes versos para um soneto de Amor... ao seu jeito...)

    Um abraço e um sorriso muito pouco inquisitorial!

    Atirem só pedrinhas!
    Um abraço, JCN

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  2. Só para ouvir tão consoladoras palavras, valeu a pena ser inquisitorialmente... crucificado! Deus lhe pague, "saudadesdofuturo", ao seu jeito!
    Quanto ao sugerido soneto... vou aproveitar a inspiradíssima deixa, se para tanto tiver "engenho e arte". Camões me ajude! JCN

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  3. gostei muito! e subscrevo que "o teu amigo Júlio Teixeira tem razão". obrigada por o dizeres de forma tão melodiosa.

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  4. Fazendo da sua irrecusável sugestão a pedra angular de um novo soneto de Amor, aqui lhe apresento o resulatado, a pretender ombrear com o genial Camões, mas a léguas de distância... desde logo inalcansáveis. Desculpe, "saudadesdofuturo", não ter feito melhor!

    "Fora dele não precisas de morar"

    Desde que entraste no meu peito, amor,
    e nele para sempre te alojaste,
    um grande, um enormíssimo contrste
    marcou minha existência anterior!

    Vazio como estava, em desalento,
    sem morador ou inquilino algum,
    de estirpe aristocrática ou comum,
    dele fizeste, amor, teu aposento!

    Fizeste dele, sim, tua morada,
    das mais rics alfaias mobilada,
    por forma a nunca teres precisão

    de coisa mais nenhuma fora dele,
    como se acaso uma segunda pele
    para ti fosse, amor, meu coração!

    JOÃO DE CASTRO NUNES

    Coimbra, 29 de Setembro de 2009.

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  5. Altero o penúltimo verso para:

    de te satisfazeres fora dele,


    Obrigado! JCN

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  6. Os versos são seus, meu caro JCN, pois altere o que lhe aprouver.
    Se me permite,lhe respondo em verso, pois que assim manda a minha alma "árcade":
    Com “equiparadas” armas lhe respondo, não querendo ultrapassá-lo em genial.idade.

    No meu peito moravas sem saber
    Sonhado foi meu nome ao pé do teu
    Teu jeito que é o meu, mesmo sem ver
    Adivinhaste em canto o canto meu.

    Fizeste-me morar junto de ti
    Como é delícia ver-te em cada dia
    Sorrir do teu olhar, que no meu vi
    Em fogo, o brilho alado que me guia!

    Do teu peito não quero mais partir
    Prendes-me com correntes, e a sorrir,
    Não quero mais morar em casa alheia.

    Posto que o coração é meu abrigo
    Deus, se lá couber, será junto contigo.
    Fora dele não precisas de morar.

    Um sorriso :)
    JCN do futuro!
    (upss! Saudadesdofuturo!)

    Se mais tempo houvera! melhor fizera! (modéstia à parte!...)

    Um abraço, “sem pedrinhas”!

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  7. "Se mais tempo houvera!/melhor fizera!" Assim seria se não se desse o caso de não ser possivel aperfeiçoar a perfeição. A tanto não chego! Apenas me aproximo. Um primor de espontaneidade e repentismo! Não é para todos, "saudadesdofuturo"! Cuidado com os invejosos!
    Quem se atreve a atirar pedras, por minúsculas que sejam?!... Só "jóias de alto preço" como a que, em reciprocidade, lhe arremesso, pois jóia com jóia se paga, não de bazar, mas de requintada joalharia, contrapondo ao seu assumido "arcadismo" o meu não menos assumido "sozismo", em todas as suas variantes e matizes.
    Ei-lo:

    CORAÇÃO DE ALUGUER

    Eterno Deus! talvez por te encontrares
    mais do que farto de morar no céu,
    como se fosse um vasto mausoléu,
    terá sido a razão de me criares!

    Deste-me a honra de habitar comigo
    na caixa do meu peito, exactamente
    no coração, que é onde toda a gente
    ao que é de belo e bom concede abrigo.

    Enquanto me pagares o aluguer,
    ignoto Deus, que sinto mas não vejo,
    dispõe da casa... como te aprouver!

    Porém, se alguma vez te faltar verba,
    sê franco, por favor, não tenhas pejo,
    que sobre o caso... manterei reserva!

    JOÃO DE CASTRO NUNES

    P. S. - Dá gosto dialogar assim, passando a mão sobre o dorso da serpente... desenvenenada! JCN

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  8. De um alta e "varonil" genialidade! Nunca chegarei tão longe em louvação!

    "Louvado seja Deus! Como sois inspirado! JCN"

    Passando vossas mãos pelo dorso da cobra!... Não! pelo dorso da serpente, a obra nasce e o homem sonha! Ou é ao contrário?

    Que arrebatado foi o seu coração de aluguer, até parecia que pagava renda!... a Deus!... de ser tão altamente inspirado. Bem! De pérolas percebe vossemecê, JCN!

    De serpentes nem vale a pena percebê-las!
    São cobras sem veneno e sem lombo... são cobrar inefáveis... às vezes, tantas vezes! afáveis.

    Senhor de JCN, os meus cumprimentos com o olhar, de imediato desviado... suspirando (se)... (riso de pouco siso...)

    Por hoje, é tudo.
    Tenha uma boa noite Sr. de J.C.

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  9. Trocando uma pérol por um rubi, altero a primeira quadra, que passa a ter a seguinte redação:

    Determinste de habitar em mim
    na caia do meu peito, exacramente
    no coração, que é onde toda a gente
    a sete chaves guarda o seu marfim!

    JCN

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  10. Corrijo as gralhas, que são o meu calcanhar de Aquiles:

    Determinaste de habitar em mim
    na caixa do meu peito, exactamente
    no coração, que é onde toda a gente
    a sete chaves guarda o seu marfim!

    JCN

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  11. Grata, JCN!

    Por ser marfim guardado, antes lhe peço
    Que me dê a provar das sete moradias
    O licor do sonho em que me apresso
    A beber das horas sombras fugidias.

    Em castelos guardados, cofres fortes
    Sem chave ou outra porta de entrar
    Moramos é bem certo nos recortes
    Das nuvens que vemos no céu passar.

    ...
    Só faltam os tercetos que têm que ser limados com cuidado maior, para que as arestas não doam e seja doce o seu sabor...
    ...
    Atirai rubis, cristais e outras pedrinhas... preciosas...:)

    Um abraço e um sorriso agradecido.

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  12. Que belo começo de soneto, a cuaja altura longe me encontro de chegar. E ainda bem, pois não pretendo ensombrar a vossa luminosidade. Fico-me peas sombras das vossas horas fugidias, procurando verdes esmeraldas para lhe... arremessar, confundido aliás ou aturdido com as suas gratas e animosas considerações de ordem literária a meu respeito. Nem sempre o diabo está atrás da porta; às vezes está DEUS com quatro maiúsculas, por delegação!

    João de Castro Nunes

    das nuvens que no céu vemos passar

    Mais... ao meu jeito, apenas. JCN

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  13. Caro JCN,

    E não podia mais concordar consigo! Como fica mais leve o verso! Basta lê-lo em voz semi-alta:"Das nuvens que no céu vejo passar." Tem outro som, é mais... violino. A descida do timbre da voz na sequência ..."que vemos..." torna mais grave o verso,mais pesado, enquanto que a sua solução o torna mais subtil e o ditongo faz tranpolim para essa asa... Aceito a sua sugestão, mas dou-lhe em troca o privilégio de lapidar em forma de uma rosa os dois últimos tercetos :) ... o que são seis versos? Esmolas! JCN!

    O diabo sempre escuta atrás da porta, mas... não chega a entrar, a tanto não se atreve! Não tem aqui morada!

    E se tivesse (quem tivesse) medo, sempre poderia fazer como o sugerido no post do Rui Félix...
    "Tiro e queda!" Mas não a do pobre cabelo em sofrimento de Joana Serrado!
    Um sorriso desta janela para aquela... para ela:)

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  14. Num primeiro desbaste, saudadesdofuturo, o núcleo do cristal de rocha, ainda quase em bruto, não deu para mais, havendo que insistir... até à lapidãção sem zonas de sombra:

    No seio das montanhas virtuais
    onde se encontra o sonho a bom recato
    velado por milhentos Parsifais,

    não consintamos que ele se desfaça
    em névoas passageiras, em fumaça,
    o sonho de marfim... por que me bato!

    Será muito pedir, saudadesdofuturo, que amolde os tercetos... ao seu jeito? JCN

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  15. Altero o último verso, a saber:

    a troco de dez réis... ao desbarato!

    JCN

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  16. Quando a pedra já está tão trabalhada que das sombras nascem brilhos, pouco mais há de humano a fazer, JCN! Só DEUS, não um seu modesto secretário(a), mesmo inspirado(a)!

    ...Por mim, só lamento estar longe da perfeição divinal. Aqui vai a tímida tentativa... mais... a meu jeito!

    Não consintamos, pois que se desfaça
    Em névoas passageiras, em fumaça,
    Esse fiar das horas, em recato.

    ou

    "Esse marfim dos sonhos de recato."

    ou

    "Esse marfim dos sonhos em recato."

    Se me permite, não me dou muito bem com a "moeda antiga": "...dez réis", nem com lutas e combates: "...por que me bato", por isso pus de parte a última emenda...

    Foi um prazer "florear" consigo!

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  17. Banindo as cabeças coroadas e seu numerário, remetido para as vitrines dos museus, proponho por meu turno e mais ao meu jeito, sem desprimor para as suas bem logradas sugestões:


    não consintamos que ele se desfaça
    em passageiras névoas, em fumaça,
    perdendo os seus contornos e formato!


    Lutar... só pela perfeição! JCN

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  18. E valeu a pena! JCN!


    E agora? atingida a perfeição?!!
    O que fazer?

    Limpar as armas e guardá-las?

    Esperar pelo próximo "combate"?

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