segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Coita de amor

[ porque nem só a nossa Brünhild perderá os cabelos com Siegfried]


Instrucções


Só
 existirá 
o 
cabelo.

Despenteado, 
ensonado, 
embaraçado











































































(provavelmente
 tê‐lo‐as 
de 
desembaraçar,

















































































com
 cuidado 
e 
morosidade,
 em
 silêncio
 como 
o
 resto).


Depois 
podes 
parar.

Parar 
para
 ver 
o 
cabelo
 desembaraçado



























































e 
escolher, 
entre 
a
 multiplicidade
 das
 ondas,
 quase 
escargots 
prensados,





























uma 
madeixa.


Pode 
acontecer
 que
 haja 
um
 gancho
 no 
cabelo.


Um
 gancho 
cintilante, 
branco 
ou
 cinzento,
 para 
contrastar 
com
 a
 escuridão
 que 
terás

pela 
frente.


Usa‐lo‐`as 
como
 farol, 
luz,
 ou 
simplesmente
 será momento 
de 
distracção ,
para 
os 
teus 
dedos,

mãos 
ou 
ossos 
cansados 
de 
tanto 
embaraço.

Poderás,
 por
 exemplo,
 pegar 
num
 fio 
de 
cabelo
 e
 segui‐lo 
até 
aonde
 ele 
te 
levar.

Se 
o
 caminho 
for 
curto, 
arranca‐o.

















































































































(Só 
queremos 
a 
eternidade.)


Mas 
como
 sabes, 
o 
teu 
direito 
de 
descoberta 
(ou 
achamento 
ou 
colonização)






















confinar‐se‐`a
 aos 
meus 
cabelos.


370 
léguas 
a 
mais, 
não
 serão 
concedidas,

nem
 mesmo
 com
 a
 intervenção 
de 
todos 
os

suspiros
 que
 advirão
 de 
trópicos 
movediços.


A 
geografia, 
como 
a 
botânica, 
são 
ciências
 mesuráveis.

E 
a 
geopolítica 
faz‐se 
graças 
a

traficantes como Rimbaud.


E 
nem
 te
 atrevas a 
cortar 
o 
lábio,
outra 
vez.
























































































A 
cor 
negra
 dos 
cabelos

seres 
vivos 
mas 
somente
 minerais

não
 se 
compadece 
com
o
 sangue 
dos

 que 
têm
 alma.



Joana


8 comentários:

  1. Também acho que... adorei!...
    :)

    Coitadado de quem coita cabelos
    "ensonados", tardios, espigados; decorados e des.embaraçá-los, fora desfiá-los e perdê-los...

    Por amor, sem embaraço, traço o laço e faço o lasso laço do desembaraço;

    Coita de amor em mor cuidado
    em seu silêncio me desfaço
    Prefaço o traço em que te abraço...

    "Depois podes parar"
    as endeixas e as madeixas da escrava a ensaboar cabelos
    no rio... e as camisas também...
    somos só pedaço e gancho de serpente ou tridente... no cabelo molhado.
    É o triste fado...

    Acho que estou "louquinha" e vou parar por aqui!

    Um beijo, Joana, de Saudades...saudosa de ser... e de Brunhild a de seda de prata no preto dos cabelos!:)

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  2. baal,

    E isso é mau ou bom? :) ou nem uma coisa nem outra?... ou será que é transcendente a imanência que emana da existência!(riso)

    Gostava de te ver por lá mais vezes se existisse realmente!

    Um abraço da que saudosa de tudo de tudo em presença se ausenta.

    Um beijo terno, baal.

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  3. claro que é bom, mas é tanta a ternura, que até para um resistente a 'sério' é dificil resistir
    abraço e saudações 'lutadoras'

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  4. Adorei, Joana! Gosto do teu humor e do teu jeito de escrever... diferente! E tal como já havia dito à nossa querida Saudades do Futuro: "empresto [também] os meus cabelos à tua escrita".

    Um Abraço apertadinho a ambas.
    Brünhild

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  5. Joana, vi os vídeos e gostei muito... vou comprar o livro.

    Beijo.

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