Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
O Reino de Deus já chegou
Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, Jesus respondeu-lhes:
«O Reino de Deus não vem de maneira ostensiva. Ninguém poderá afirmar: 'Ei-lo ali', pois o Reino de Deus está entre vós.»
Esta Beleza não surgirá à imaginação coo a beleza de um rosto, de umas mãos ou de algo corpóreo, nem como a beleza de um pensamento ou ciência, ou como a beleza que tem berço em algo exterior a si, seja uma coisa viva, seja a terra, o céu, ou outra coisa qualquer.
Julgo que "entre" significa o silêncio vazio que há entre pensamentos, palavras e acções, sendo o vazio o nada que é tudo e não um vazio fechado e com limites. É esta a leitura que faço do "entre", muito inspirada na via de Buda... Se Deus e Dharmakaya indicarão o mesmo?... Julgo que Deus é essência a partir do qual tudo se origina e morre... Com Deus, talvez haja um princípio e um fim, uma história com a qual as coisas se originam e se findam na essência, na partícula divina que desta forma atribui ex-istência e realidade (rés) a todos os fenómenos... Julgo que Dharmakaya é o nada que é tudo, sem princípio nem fim, sem história com origem e fim porque as coisas não foram criadas a partir de nada nem têm existência intrínseca uma vez que sempre houveram e se as há é porque são o resultado de causas e de condições que perenamente as transformam... O nada que é tudo não atribui e-xistência a nada pois todos os fenómenos são ilusão, mentira, ilusão que encobre a verdadeira natureza das coisas - a vacuidade. Deus é essência e Dharmakaya é vacuidade; Deus é real e Dharmakaya é ilusão; Deus é o uno e Dharmakaya é o nada que é tudo... Vejo diferenças, mas não serão estas diferenças dois lados da mesma moeda?
Talvez os teístas "agarram-se" (con capio) à ideia de Deus, à luz, à verdade, ao Reino de Deus porque acreditam que havendo essência divina tudo o resto derivado dela consequentemente existe... Talvez os ateístas refutem o essencialismo divino e consequentemente a existência intrínseca de todos os fenómenos, sendo mais desprendidos em relação a verdades, arautos, reinos divinos, deus e deuses, permitindo este mesmo desprendimento um mais livre acesso à natureza primordial, à luz ou arrisco mesmo a escrever - a Deus - que os teístas crêem existir. Assim nas diferenças vejo parecenças pois afinal uns e outros, ocidentais e orientais, teístas e ateus buscam o mesmo - o nada que é tudo que Agostinho da Silva denominou Espírito Santo. Sim, acredito que o Reino de Deus já chegou... mas para vê-lo acredito que é preciso trilhar um caminho para lá ir ter... Uma vez chegados, há que destrui-lo para que nada reste...
Caro Kunzang, leio os seus comentários num retiro budista, onde é suposto viver-se a experiência disso que, no dizer de Pessoa, é o "King of Gaps"... E fico por aqui.
(...)"King of Gaps", o "rei desconhecido" que reina no espaço entre as coisas e os seres, alheio às categorias de tempo e lugar, sem início nem fim, "presença vazia" que não é senão um "abismo" e do qual se conclui: "Todos pensam que ele é Deus, excepto ele mesmo".
Paulo Borges, O Jogo do Mundo, Portugália Editora, p.87 ;)
Esta Beleza não surgirá à imaginação coo a beleza de um rosto, de umas mãos ou de algo corpóreo, nem como a beleza de um pensamento ou ciência, ou como a beleza que tem berço em algo exterior a si, seja uma coisa viva, seja a terra, o céu, ou outra coisa qualquer.
ResponderEliminarPlatão
Um bem-haja para todos os seres sencientes!
ResponderEliminarA questão é o que significa esse "entre"... E outra questão: Dharmakaya e Deus serão ou indicarão o mesmo?
ResponderEliminar«Naquela Ilha de Amores
ResponderEliminarque sonhou Camões outrora
só entra e fica liberto
quem lá viva desde agora»
Agostinho da Silva
Julgo que "entre" significa o silêncio vazio que há entre pensamentos, palavras e acções, sendo o vazio o nada que é tudo e não um vazio fechado e com limites. É esta a leitura que faço do "entre", muito inspirada na via de Buda...
ResponderEliminarSe Deus e Dharmakaya indicarão o mesmo?... Julgo que Deus é essência a partir do qual tudo se origina e morre... Com Deus, talvez haja um princípio e um fim, uma história com a qual as coisas se originam e se findam na essência, na partícula divina que desta forma atribui ex-istência e realidade (rés) a todos os fenómenos... Julgo que Dharmakaya é o nada que é tudo, sem princípio nem fim, sem história com origem e fim porque as coisas não foram criadas a partir de nada nem têm existência intrínseca uma vez que sempre houveram e se as há é porque são o resultado de causas e de condições que perenamente as transformam... O nada que é tudo não atribui e-xistência a nada pois todos os fenómenos são ilusão, mentira, ilusão que encobre a verdadeira natureza das coisas - a vacuidade. Deus é essência e Dharmakaya é vacuidade; Deus é real e Dharmakaya é ilusão; Deus é o uno e Dharmakaya é o nada que é tudo... Vejo diferenças, mas não serão estas diferenças dois lados da mesma moeda?
Talvez os teístas "agarram-se" (con capio) à ideia de Deus, à luz, à verdade, ao Reino de Deus porque acreditam que havendo essência divina tudo o resto derivado dela consequentemente existe... Talvez os ateístas refutem o essencialismo divino e consequentemente a existência intrínseca de todos os fenómenos, sendo mais desprendidos em relação a verdades, arautos, reinos divinos, deus e deuses, permitindo este mesmo desprendimento um mais livre acesso à natureza primordial, à luz ou arrisco mesmo a escrever - a Deus - que os teístas crêem existir.
ResponderEliminarAssim nas diferenças vejo parecenças pois afinal uns e outros, ocidentais e orientais, teístas e ateus buscam o mesmo - o nada que é tudo que Agostinho da Silva denominou Espírito Santo.
Sim, acredito que o Reino de Deus já chegou... mas para vê-lo acredito que é preciso trilhar um caminho para lá ir ter... Uma vez chegados, há que destrui-lo para que nada reste...
Caro Kunzang, leio os seus comentários num retiro budista, onde é suposto viver-se a experiência disso que, no dizer de Pessoa, é o "King of Gaps"... E fico por aqui.
ResponderEliminarAbraço
adorava estar convosco... e estou mesmo... primordialmente... estarei um dia mesmo... totalmente.. abraço
ResponderEliminar(...)"King of Gaps", o "rei desconhecido" que reina no espaço entre as coisas e os seres, alheio às categorias de tempo e lugar, sem início nem fim, "presença vazia" que não é senão um "abismo" e do qual se conclui: "Todos pensam que ele é Deus, excepto ele mesmo".
ResponderEliminarPaulo Borges, O Jogo do Mundo, Portugália Editora, p.87 ;)