O discípulo tornou-se mestre e o mestre tornou-se discípulo.
O mestre é mestre porque sabe que é discípulo.
O mestre é um receptáculo vazio do que existe e com tudo se espanta sem se exaltar. O seu interior é júbilo, na luz e na escuridão. Aceita a realidade.
O mestre não é mestre senão de si e eterno discípulo da realidade. Treina-se, porquanto é real - sabe que nada pode fazer.
O mestre é mestre de si (e apenas de si), porque sabe que ele mesmo é algo a ser constantemente controlado - ele é descontrolo.
Mestre é aquele que se não sabe mestre. Quem pensa que é mestre nunca o será. Por isso: abaixo as manias!
O mestre deixa de o ser quando tem a consciência de sê-lo. Por isso tem permanentemente de retornar ao seu estado inicial de ignorância.
O mestre sabe que vê, mas não sabe o que vê. Sabe que ouve, mas não sabe o que ouve. Sabe que cheira, mas desconhece o quê. Por isso diz apenas "Isto", "Algo".
Ele olha para a flor, mas não vê coisa outra que não Graça. Para ele tudo é veículo, dado que é eterno nómada.
O mestre não tem teorias, e se algo tiver a dizer, retirado é da sua experiência - por isso respeita veneratoriamente os anciãos.
Eterno discípulo de tudo, aprende igualmente com as crianças, guardando a inata sabedoria destas - que desaparece no altar do tempo - na sua memória.
O mestre acumula tesouros no céu e é interiormente rico, sabendo-se no entanto infinitamente pobre - o seu vaso nunca se enche.
Sabe que palavras, especialmente aquelas que tentam descrever e agarrar a realidade, como "o seu vaso nunca se enche", são vãs.
Por isso mestres vários ensinaram o "foge, cala e repousa". Por isso outros afirmaram que a realidade é inatingível. Outros não têm a arrogância de atribuir propriedades ao mais alto.
O mestre não diz da Imaculada coisa outra que não Pura ou Imaculada. É a sua jóia, verdadeiramente é A jóia.
Em júbilo contempla-a, extasiado: o mestre é um fogo interior, puro pulsar. Deixa de ser o que sente que pulsa, torna-se pulsação.
O mestre respira com o mundo, sincronizadamente, porque sente e ama a respiração universal.
O mestre sobretudo ama.
bem, estou siderada perante estas palavras de sabedoria! há excertos que me tocaram verdadeiramente:
ResponderEliminar«Mestre é aquele que se não sabe mestre. Quem pensa que é mestre nunca o será. Por isso: abaixo as manias!
...
Ele olha para a flor, mas não vê coisa outra que não Graça. Para ele tudo é veículo, dado que é eterno nómada.
...
O mestre acumula tesouros no céu e é interiormente rico, sabendo-se no entanto infinitamente pobre - o seu vaso nunca se enche.
...
O mestre não diz da Imaculada coisa outra que não Pura ou Imaculada. É a sua jóia, verdadeiramente é A jóia.
Em júbilo contempla-a, extasiado: o mestre é um fogo interior, puro pulsar. Deixa de ser o que sente que pulsa, torna-se pulsação.
O mestre respira com o mundo, sincronizadamente, porque sente e ama a respiração universal.
O mestre sobretudo ama.»
o mestre é o (e)terno aprendiz que se recria e reinventa na contemplação de si e do mundo, sabendo que a sabedoria se encontra na simplicidade e nesse olhar fluido, cosmicamente, perante a natureza que contempla com o coraçã, compassivo.
namastê, e um bj em ti
O MESTRE não tem mestres, porque se faz a si mesmo! JCN
ResponderEliminarSinto-me realizado quando os meus antigos alunos me tratam de Mestre, imerecidamente, por mera cortesia... as mais das vezes! JCN
ResponderEliminarNão há, alfim, real diferença entre mestre e discípulo...
ResponderEliminarCada um (con)funde-se no outro...
Entretanto:
ResponderEliminarUma "realização" que tem por base uma "mera cortesia" é, creio bem, tão-só a realização de um "manual de etiqueta".
Mas sempre "sabe bem", para quem aprecia tais "sabores"...
O ponto é, talvez, que entre os dois sentidos de "saber bem" vai todo um (in)finito...
P.S. Salvou do desastre o "imerecidamente" (uff! foi por um triz!)
(risos)
MESTRE E AMIGO
ResponderEliminarAo Prof. Amadeu Carvalho Homem
que, não tendo sido meu aluno,
teima em chamar-me... Professor
Meio século ou mais da minha vida
a leccionar passei, coisas diversas:
muitíssimas lições eram conversas,
minha docente via preferida.
Na secretária nunca me sentei,
andando pela sala o tempo todo,
e foi desta maneira, deste modo,
que a atenção dos alunos suscitei.
Com eles convivi da melhor forma,
dentro e fora das aulas, sem por norma
deixar de me assumir em seu mentor.
De cada aluno fiz um grande amigo
que sempre que se cruza hoje comigo
se mostra, como então, respeitador!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Publicado em ALTERNATIVA - CULTURA OUTRA.
Senhor DAMIEN, aprecio a "eironeia", mesmo quando... descabida, por mera exibição! JCN
ResponderEliminarNão se deu conta de que o "imerecidamente" não passa de ... falsa modéstia?!... E que a "cortesia" é meramente ocasional e circunstancial?!... É que há alunos e... alunos, como há mestres e... mestres. Subtilezas, que ficam sempre bem ou, para usar do seu vocabulário, sempre "sabem bem"! JCN
ResponderEliminarQue entende V. Exª por "real diferença"?!... Gostaria francamente de saber, porque, nestas coisas de semiologia, sou um impenitente coca-bichinhos! JCN
ResponderEliminarPois...
ResponderEliminarA superior ironia é (conseguir saber)ironizar com a própria ironia.
Há quem sabe, e quem nunca venha a saber sequer como saber...
P.S.
Registo com agrado e, confesso, uma pontinha de bonomia (pelo versejar singelo de Vexa), que foi brioso cultor de certa aula mais "passeada", conquanto só para o professor.
O que o docente usufruía, por certo, em deambulação peripatética, ganhavam os alunos, na certa, em "circunvolução" resultante em torcicolos.
A disciplina era de...?
Endireita?
Nota (i)nútil:
vou lanchar, que, não tarda, é hora de jantar...
Vocês são geniais.
ResponderEliminarQue lhe faça bom proveito e veja lá se consegue dar um jeito à sua falta de jeiteira para os socráticos jogos da ironia. Vossemecê usa com mais à vontade o seixo rolado que o florete. E, já agora, obrigado pelo "singelo" que "me soube muito bem", para de novo usar o seu gastronómico vocabulário. A singeleza com musicalidade é, por sinal, o que faz a "real diferença" da minha Poesia. Não tem reparado?!... Leia os meus panegiristas. Posso facultar. JCN
ResponderEliminarQuando vossemecê citou o "manual de etiqueta", pensei que fosse sua leitura habitual. Muito erra... quem julga! JCN
ResponderEliminarNinguém me tira da cabeça que essa de V. EXª ir "lanchar" foi uma maneira de bater em retirada... pela porta do cavalo! JCN
ResponderEliminarJCN o teu primeiro poema como post tem duas quadras geniais.
ResponderEliminarEstará vosselência a chamar-me cavalo?
ResponderEliminarCavaleiro, ainda vá que não vá!
Quererá vossa senhoria (perdoe-me, rogo, a minúscula, mas o dedo que me tecla o shift está ora já fatigado) que me alce em cavalgadas outras, mais de cavalgadura? Assim não presumo.
Quanto a tirar coisas da cabeça, da de vossa singeleza, sempre poderá ela (a cabeça) contar com os meus modestíssimos préstimos: basta-me pôr as luvas clínicas e estou pronto para a extracção seja do que for.
(Nos limites estritos da minha competência, escusado dizer...)
Quanto à ironia, sou um tanto mais vernacular e menos filosófico: prefiro Camilo, Tomaz de Figueiredo ou Gumarães Rosa - tudo gente que um incerto nobelizado deve ter treslido à mesa da repartição.
Quanto ao resto, confesso que me ia engasgando no seixo rolado com compota, que era um tanto ácida. De castro, talvez...
Ora: hora da janta...
Passar bem, Senhor Dom João!
P.S.
Ia-me a esquecer (indeed the last is the least!):
O Sr.Dr., que sabe destas coisas da semântica, diga-me, se faz o obséquio: panegírico tem a ver com pão.
É por causa daquilo do meu "gastronómico vocabular", sabe?... (risos)
Abraço sincero, meu caro JCN.
De... admiração, morta de riso!
(Hei-de de ler, sim, ao lanche, os seus panegiristas, se mos facultar. E me facultar, outrossim, o panegirizado: este, sem lanche - melhor em estrito jejum! Para o que der e vier, de má-figadeira...)
Ó senhor FABIEN, digo, DANIEN: que mal lhe assentou essa do cavalo! Caso para dizer, como o carismático Bispo do Porto, quando escandalizado: "Porra, senhor abade!". JCN
ResponderEliminarCaso também para eu dizer:
ResponderEliminarApre, senhor de Casnes Nutro, perdão, de Castres Nuno, irra, de Nunes Castro, enfim, de..."disso".
Ocorem-me aqui as palavras, aqui oportunas e muito cabidas, de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, figura de exalçado destaque do grande Camilo, grão-ginasta da Língua, quando aquele, em plena verve parlamentar, e em defesa própria, se sai com este teor, dirigindo-se ao presidente do ali o seu quê abanado hemiciclo:
"Tomo a liberdade de perguntar a V. Exª se as locuções repolhudas do ilustre colega são parlamentares; e, se o são, peço ainda a merçê de se me dizer onde se estudam aquelas farfalhices?"
E mais não digo.
Senhor DAMIEN: esse truque da troca de apelidos tem graça... quando em primeira mão; em segunda, "sabem" a comida requentada. Causam fastio!
ResponderEliminarQuanto a "essas farfalhices", fique sabendo que não se "estudam" em parte nenhuma: brotam de per si... quando há talento!
Assina: JOÃO DE CASTRO NUNES ou
JOÃO NUNES DE CASTRO, como há também quem me chame por achar... mais soante. Ao critério de Vossa Senhoria!
Parece que vossemecê está a perder o fôlego, senhor DAMIEN! Respire fundo: alma até Almeida! JCN
ResponderEliminarSabe, senhor DAMIEN, esta azedada conversa deve ser resultante do mau sestro de hoje ser dia nove do nove de dois mil e nova. Engalinho solenemente com este número, que foi o do dia em que nasci: "O dia em que eu nasci morra e pereça"!
ResponderEliminarDeixe vir o dia de amanhã, com mais bonançoso augúrio. Ao fim e ao cabo, ambos somos devotos ou prosélitos das mesmas sacripantas divindades, digo, emendando e corrigindo, dos mesmos literários entretenimentos. Sem ponta de ironia, evidentemente. Com a alma nas nãos- JCN