quinta-feira, 30 de julho de 2009

X

Não é como se a mão hesitasse no gesto fundador.
O movimento espera que um astro se incendeie
em todos os tendões
para que nenhuma palavra seja o frio nexo da loucura
ou o vento soprado como sangue.
Uma pedra sobre a boca pode ser o único sustento
para essa fome.
Mas a mão que escreve avança como faca
arrancando à garganta o seu êxtase carbonizado.
A violência é a religião de Deus.


de O vento soprado como sangue, Cosmorama, 2009.

4 comentários:

  1. João,

    Chegou-me hoje o livro às mãos. Chegou e senti-me "soprada como sangue", em golfadas fulminantes, porque não mereço nada do que me dedidaste. Hoje o dia parece pequenino com o grande que lá está e não sou eu. Um exagero que mima o que deveria ser e ainda não consigo. E vem-me a pergunta funda: como pude eu ter o privilégio de ter um aluno que se tornou poeta? Ou que a vida fez com que fosse poeta? Lembro os teus olhos parados na primeira carteira, de volta das sombras e dos ecos. Da impaciência em torno do vazio que se gera quando há bloqueios no que se ensina e aprende, lembro o cd que me deste com as tuas músicas preferidas e com as que tocavas, lembrarei para sempre a tua mão a correr pelos ferros do gradeamento da escola e pensar: "tanto ritmo à procura da expresão...". Lembro a tua timidez ofuscante, o medo da Directora de Turma em que explodisses e a minha calma nos dias, pelas terças e pelas quintas em que havia aula,para te acarinhar da incompreensão dos outros. Lembro que era difícil o teu sorriso, mas era rasgado pelo esplendor da Palavra...e ela brilha como um astro nos meus olhos cansados do mundo.

    Nunca te saberei agradecer! Que o livro te encha de glória.

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  2. cheguei pra ler...
    encontrei estas palavras que me soam ao ouvido e me fazem querer ler o livro :)

    Obrigada pela partilha, João*

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  3. Querida Sereia ler o que o João escreve é ficar plena de vontade de poesia, ainda mais do que aquela que há em ti naturalmente.

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