domingo, 12 de julho de 2009

Da Saudade e da "Índia de miragem"

“Saudade… […] movimento pendular do coração lusíada entre a pátria e todas as Índias que se atingem e aquela Índia de miragem, que não é nenhuma destas e sempre se procura e deseja, quando estas se nos deparam; incessante movimento do coração do homem entre as terras e os céus visíveis e um Céu e uma Terra que apenas se pressentem na misteriosa polarização de toda a nossa alma”

– Leonardo Coimbra, “Sobre a Saudade”, in Dispersos. III - Filosofia e Metafísica, compilação, fixação do texto e notas de Pinharanda Gomes e Paulo Samuel, nota preliminar de Francisco da Gama Caeiro, Lisboa, Editorial Verbo, 1988, pp.137-138.

13 comentários:

  1. O que é a polarização da alma? É entre eu e outro? Ou é entre agora, antes e depois? Presença e ausência (estas reportam-nos ao tempo)? Ou nada disto?

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  2. Encontrei umas páginas sobre saudade. Algumas identificam-na com solidão. Outras não.

    E estes versos muito belos daqui http://www.hottopos.com/videtur19/saudadebeto.htm

    Uma sodade é dor que não consola,
    Quanto mais dói a gente qué lembrá (...)
    O que é sodade,
    Uma lembrança que vancê nunca sentiu. (...)
    No dia que doê seu coração,
    De uma sodade que eu tanto senti. [xv]

    Ninguém compreende, a grande dor que sente
    Um filho ausente a suspirar por ti.
    Uma saudade que punge e mata, que sorte ingrata
    Longe daqui. [xvi]

    Saudade palavra triste quando se perde um grande amor
    Na estrada longa da vida, eu vou chorando a minha dor. [xvii]

    A saudade nas noites de frio
    Em meu peito vazio irá se aninhar...
    A saudade mata a gente, morena,
    A saudade é dor pungente, morena! [xviii]

    Ainda ontem, chorei de saudade,
    Relendo a carta
    E sentindo o perfume,
    Mas o que fazer com essa dor que me invade [xix] ?

    A tua saudade corta,
    Como aço de navaia
    O coração fica aflito
    Bate uma, a outra faia
    E os óio se enche d’água
    Que até a vista se atrapaia, ai, ai, ai

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  3. A semântica da palavra saudade é apresentada, por Joaquim de Carvalho, como fruto do advérbio salu, estar só fisicamente ou psicologicamente; evoluindo para solitas, solidão, e solitudo, solitude; passando, finalmente, a soledade. Soledade e saudade têm a mesma origem mas, significados diferentes: soledade significa consciência isolada e autocontemplativa, enquanto que, saudade remete para a evocação de um passado vivido. Para o autor a evolução continuou, por Frei Amador, que modificou a palavra soledade para saudade, permanecendo o seu significado. Desta evolução não existem certezas, mas, de certa forma, D. Duarte e Gil Vicente provam-na. D. Duarte afirmando que saudade é tão próprio que não há possível tradução; Gil Vicente recorreu a soledad e, inventou saludad, para não ter que exprimir o conceito em castelhano.

    daqui

    http://209.85.229.132/search?q=cache:wdCgBJqFrm0J:www.exames.org/apontamentos/Filosofia/filosofia-elementosconstitutivosconsciencia.doc+soledad+e+saudade&cd=3&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt

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  4. ah. é entre as índias e as índias de miragem.

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  5. ah ele quer dizer que o homem anda entre este e o outro mundo, ora cá ora lá, num movimento incessante. mas a saudade não é isso. o homem saudoso dirige-se sempre para lá, o seu movimento incessante é incessante saída. não há polarização, há direcção.

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  6. então... a consciência saudosa existe no infinito, fora do mundo de contingências em que o corpo sensível está.

    tem poder para ir e vir, entre mundos caminhar, se Sua Excelência o Ego assim determinar.

    olho para tudo isto e vejo egos, realmente vejo egos. uns de uma maneira outros de outra, uns que se expõem de um modo e outros de outro, mas egos, pequenos egos batalhando a sua batalha, cada um dando o seu pequeno gritinho.

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  7. de que nos vale a saudade se a saudade é dor? há uma pequena, mórbida e masoquista sensação ao relembrar o objecto da saudade. a saudade de facto torna-se dor, como afirma o poeta "na estrada longa da vida, eu vou chorando a minha dor". e se isso é o fado valha-nos o carmo e a trindade.

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  8. fado. sofrer. comprazimento da alma na tristeza. consolo na tristeza. apreciação das coisas tristes. comprazimento nas coisas tristes. apego às coisas tristes. busca de consolo para a tristeza através de coisas tristes. fado. tristeza.

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  9. «aquela Índia de miragem» - julgo que a meditação permite pressentir a Índia de miragem ou, o Céu e a Terra de que Leonardo Coimbra nos fala. Sogyal Rinpoche, em «O Livro Tibetano da Vida e da Morte» conta-nos como o Mestre Jamyang Khientse explica a um discípulo seu como se medita:
    «-Olha, é assim: quando o pensamento passado cessou e o futuro ainda não nasceu, não há um intervalo?
    -Sim, respondeu Apa Pant.
    -Pois bem, prolonga-o. É isso a meditação.»

    Grato pelo momento de reflexão:)

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  10. ó mestre, tu só pensas em intervalos!

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