Não se repete o que é eterno
A dança de dentro na quietação do pleno
A paixão da luz que se entrança
Nas coisas desertas de mim
A sede a frescura presa a dois dedos de conversa
Conversos ao sonho voamos na largura que nos tem
No regaço da noite presa por pouco
Ao sorriso de alguém
Pode até ser a imaginação e tudo mais
A irromper do fundo de onde o escuro brota
Para fecundar a claridade
A intensidade do olhar
Nada tem que o torne presa da concretude
Num dia o universo inteiro se faz no dia
O que nos chega descoberto ou não
Mas tudo é mais que tudo
Se visto com o coração
Até a sombra do que foi
Os restos só são restos na incompletude da memória
bom regresso
ResponderEliminarcom um auspicioso taleigo de palavras
abraço
A verticalidade do poema na horizontalidade da poesia... Mera hipótese do poeta!
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarJogo de palavras...
ResponderEliminar?! quem sabe?
"No Budismo atende-se a que as coisas sejam simplesmente o que são, sem sequer se pretender dizer que assim o sejam, sem adjectivações, etc."
ResponderEliminarMarga absolvido ou o caminho da cruz? - Revista Lusófona de Ciência das Religiões
O mundo sem adjectivações... Não compreendo. O mundo sem seres “humanos”? Um mundo de estátuas de cera, sem poetas, sem música, sem arte, sem humanidade? Que mundo é esse? Substantivamente asséptico, pelo que, existencialmente estático?
Criar é adjectivar. Construir é adjectivar. Amar é adjectivar. Odiar é adjectivar. O adjectivo espreita em todos os substantivos, dá-lhes alma, extrai-lhes alma… O adjectivo é mestre, é caminho, é percurso, é pelo adjectivo que vamos... que podemos modificar o substantivo que não queremos ser. Vivam as flexões de género, de número, de grau normal, comparativamente superiores, iguais ou inferiores ou superlativamente absolutas ou relativas. São injustas? Talvez. Mas tudo já nasceu condenado. O Buda sentado não tem razão. A culpa não é do adjectivo, mas do Verbo. O Verbo age indiscriminadamente, temporalmente, atingindo tudo e todos, tentando-nos endiabradamente com todas as possibilidades de ser e fazer. O Verbo esteve nisto desde o princípio. Foi ele que se fez carne. Mas se tudo está condenado por causa da carne, deixemo-nos ao menos senti-la enquanto estamos! Que os sentidos adjectivais me tragam o mundo do Buda, a cores, ainda que ilusório e fútil, ainda que irreparável, ridículo e formalmente morto! Quero as palavras abertas, irrequietas, desassossegadas, terríveis, plácidas, belas, a rasgar janelas em cada túmulo, a salvar mendigos e príncipes por céus que não se esgotam, montados em tapetes voadores de sonhos possíveis! Que se divinize a luxúria e a sagrada mãezinha e a avó e o lobo mau e que o capuchinho caia na lama de que são feitos todos os santos e que os heróis, ao salvar um de nós, se salvem da mediocridade de nós e que os mitos continuem a apoiar as bengalas em que florescemos porque enquanto “porcóreos”, somos tudo isso e menos do que isso é ser pó sem hipótese de Deus. E, se no princípio era o Verbo, no fim será o Adjectivo porque o Adjectivo há-de cumprir o papel supremo e final para o qual foi criado.
“Sursum corda! Erguei as almas! Toda a Matéria é espírito.” F. Pessoa
Que pena eu não acreditar nisto!
Caro Paulo,
ResponderEliminarna verdade, estas ausências, quando as sinto, fazem-me sorrir de saudade.
Porque me fazem lembrar de como fui feliz, em presença.
Beijinhos de Sereia*
Caro Platero... :)
ResponderEliminarSereia! Toda a ausência é símbolo da Presença. :)
E agora, um breve comentário às palavras do comentário mais extenso:
Considero que é impossível ser-se "budista". O Dharma não precisa de defesa porque, desde sempre que está aberto à refutação. Ou à falsificação, se quisermos ser popperianos.
A cada momento da minha vida procuro alcançar essa refutação. Isso ajuda-me a compreender as minhas falhas e também que "quem se falha na vida, não encalha", por assim dizer.
Quanto aos adjectivos, são qualquer coisa de segundo, algo que juntamos às coisas e às experiências, no fundo, a tudo quanto vivenciamos. Como se as coisas, essencialmente despidas de atributos, necessitassem de se ver revestidas pela nossa subjectividade.
Talvez seja tudo uma questão de crença. E muitas vezes as crenças acontecem-nos, não dependem da nossa vontade. Fazem parte da nossa facticidade. Aparecem-nos como o que traça a fisionomia da verdade em nós, ou para nós.
Mas muitas vezes também a nossa vontade nos acontece. E parece que a vida tem que ter um sentido, manufacturado, imposto pela lógica sem ambivalência, sem paradoxo.
Se conseguirmos alcançar a raiz do que acontece, talvez deixemos de precisar acreditar seja no que for.
Despertar, do verbo e dos adjectivos!
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