sexta-feira, 5 de junho de 2009

Jorge de Sena: Morra o bispo e morra o papa

Morra o bispo e morra o papa.
maila sua clerezia.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram frades, morram freiras.
maila sua virgaria.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morra o rei e morra o conde.
maila toda fidalgula.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram meirinho e carrasco.
maila má judicaria.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morra quem compra e quem vende,
maila toda a usuraria.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram pais e morram filhos.
maila toda filharia.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morram marido e mulher.
maila casamentaria.
Ai rosas de leite e sangue,
que só a terra bebia!
Morra amigo, morra amante.
mailo amor que se perdia.
Ai rosas de sangue e leite,
que só a terra bebia!
Morra tudo, minha gente.
vivam povo e rebeldia.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!




Jorge de Sena
in Visão Perpétua
5/1964

5 comentários:

  1. madalena, concordo com tudo, contudo saliento. 'vivam povo e rebeldia'

    ResponderEliminar
  2. Sim, baal. Não creio que o outro cá volte.

    ResponderEliminar
  3. Qual outro? Se é para morrer tudo, porque salvar povo e rebeldia?

    ResponderEliminar
  4. Porque pela mão/poesia de Jorge de Sena, é o povo que pragueja e se rebela contra as instituições.

    ResponderEliminar
  5. O outro é uma espécie de assombração decadente.

    ResponderEliminar