Imagem retirada do google
Se fechar os olhos e me calar, sei que posso, mesmo daqui deste torrão de terra, desta madeira velha serpenteando sobre antigas e atlânticas águas, ouvir o imenso som do mar. E o mar é um rumor. E há uma barca e há marinheiros que segredam alfabetos, sílabas deste país, e os atiram para o longe. Esse longe que nos chega no mesmo som e tem a antiga voz do mar. Eu digo que há pontes que se erguem sobre a estrutura funda da língua. Como uma sólida raiz. Uma identidade. E se nos sons arrastados de uma voz cantante para além do Tejo vemos o cimo, o canto da nossa fala; do outro lado do Atlântico uma cantiga, uma morna adormece nos braços de uma canoa. Temos aí um rosto que nos olha da distância do mar e tem na fala o que é português e Portugal. Como quem semeia arados, assim se escava a língua. Arar o mar, como só os poetas o sonham. Um mar para unir e não para separar. Uma ilha. A Língua, como as pontes atravessadas pela raiz. A eterna voz do mar. Por ela o atravessamos em barcas e navios de palavras e de rostos do longe e do perto; de cá e de lá: mares e palavras. Terá dito o poeta que viver não é preciso, o que é preciso é navegar. Nós dizemos que construímos pontes para as atravessar e afagar distâncias.Entre o trigo e o mar se cruzam e encontram os ancestrais rumores da língua: a fala, a raiz e a identidade. A reunião de várias e plurais vozes, cantando no mesmo e “gerundivo” sotaque, nota singular de uma mesma língua materna e matriz. A pluralidade de sementes e grãos semeados por um país maior do que o seu tamanho, levado pelo sonho de unir, mais do que de dividir, mais do que o de separar… A língua como chama. Sejam esses os cantos de uma solidariedade na unidade e diversidade que nos fortalece na tradição. Tronco e raiz de uma árvore; sopro de poeta, vozes de cá e de lá, poetas a semear singularidades nas diferenças, no respeito pelas palavras e vontades de cada um na construção de uma ponte por onde todos passaremos. Vozes lusófonas! Uma mesma matriz, tanto de cá, como de lá dos vários lados da ponte. Que melhor lugar para abrir os fundamentos dessa ideia de respeito e defesa de uma língua que é, além de pátria e mátria, o espaço onde se estruturam também os fundamentos da aceitação da alteridade, do outro, que, livremente, e de forma criativa e cooperante, constrói uma ponte de humana e fraterna civilidade. Uma outra ponte feita de sonhos de futuro e de esperança no Homem Novo: mais justo, mais fraterno e mais solidário.
vais dizer é a lenga-lenga do baal. apesar de acreditar que vale a pena, é tudo tão pequeno (como as minhas letras). o país consome-se na pequenez de umas pequenas eleições europeias esquecendo-se de áfrica. os moçambicanos esquecem-nos e escolhem outra lingua, os angolanos pensam-se mais cosmopolitas. os timorenses já se esqueceram. os únicos os caboverdianos lembram-se porque as mornas são o fado de ambos.
ResponderEliminarsaudações
baal,
ResponderEliminarNão vou dizer nada, baal. Ama-se a língua e mais nada e se, de facto, se ouvem, ainda que dispersas as sílabas de maresia que para lá do atlântico se abres ou se fecham em vogais que são o que nos torna ímpares com pares.
É evidente que, se perguntarmos o que são os séculos de História perto do que realmente dura para formar-se, como é também de vento, essa ideia de Língua. Mas não pequena, porque é a casa dos poemas e do mar e do mar vê-se o universo e o universo escuta-nos na Língua de Camões, pois os seus sons acordam em nós os acordes fundos da nossa nota vibrada. Esse som somos nós. Essa cor distinta. Pode ser pouco, pode não ser...
pode a alma ser luto ou alegria imensa. A minha é português e Portugal sem ser, o Portugal do Futuro, em divina Saudade, baal.
Música de fado, morna, e toda a que sai do ventre e da matriz que nos une à Terra.
Já apreciou o som do cantsr dos índios da América do Norte?
A relação que tudo tem com tudo?
A música da Lapónia, tão semelhante que é a essa...
Obrigada pelo comentário.
(Não tema a mudança ou a ingratidão, tudo não passa do mesmo sítio... estamos sempre à mesma distância... a roda gira, gira...
Peço imensa desculpa dos tantos erros de pontuação e não só. Fui escrevendo na janela muito depressa e sem verificação.
ResponderEliminarDesculpem!
claro que de uma forma holística, tudo está em tudo, até a própria ausência, ou o não ser ou a anti-matéria. mas no que acreditas saudades,é na unidade de uma lingua pela qual nada foi feito, por outro lado as linguas com mais vitalidade são as chamadas menores ou nómadas que definem lugares em constante mutação e literaturas fragmentadas (esta é para nossa amiga), que abandonam um espaço ou trama central, procurando nas lateralidades e que se tornam em obras inacabadas kafka, musil.procurármos o uno na lingua, nos sons é esquecermos a mutação e os pequenos uns que se diferenciam.pode ser que as minhas e as tuas palavras se encontrem num uno primordial, mas agora o que é necessário é que se separem e se individualizem para serem constantes. a vitalidade é a separação. por outro lado como diz barthes, quando leitor experimenta o seu prazer, o velho mito biblíco inverte-se a confusão das linguas deixa de ser uma punição, o sujeito tem acesso à fruição da coabitação das linguagens, que trabalham lado a lado: o texto de prazer é babel feliz.
ResponderEliminarhum, já estou confuso, retiro-me.
ps acho que estas duas posições não são antagónicas.
Interessante baal, a nossa Língua pode ser, apesar do número de falantes, quiçá como essas Línguas “periféricas”; como deixas fluir no pensamento, também considero - falo seguindo o teu rasto - o fragmentu pode ser essencial na vitalidade, a riqueza duma Língua não pode ser vista apenas pelo marketing ou projecto, ou sistema... Apesar de tudo ser Lei Sistema, mesmo o desvio...Tudo é sistema... até o anti-sistema... Como podemos então não nos encontrar nisso que é onde todos nos encontramos, só que não nos damos conta. Estrutura-se algo e nasce, porque existe o vento e o vento é que espalha o som... Quem quer homogenia? Se o que é diverso é que torna o uno existente... Mas o uno não somos nós. É sempre mais do que isso e para além ou nisso...
ResponderEliminarNão há qualquer antagonia, não. Há encontro.
P.S. ... a Fragmentus... Não é o outro... o de ontem! ups!
saudades,por falares no dia de ontem (tristes eleições) fui verificar e os dois últimos anónimos, no comentário ao lapdrey, sou eu.
ResponderEliminare, já agora também sou aquela verificação de palavras, isto de um deus/demónio voltar a escrever sobre o mesmo não está a correr nada bem.
ResponderEliminarOlá, baal,
ResponderEliminarQue bem que te ficam essas confissões! Não penses, deusinho endemoinhado, que te vão perdoar essa heresia...
PS.Tem um bom dia em qualquer língua do mundo.
Agora nada mais digo, pra que não venha um Anónimo dizer, esclarecidamente: "Conversa de Chacha!"
E pensar: "onde é que eu já ouvi isto?"
PS. Não percebi: "E o mesmo é?"
Saudades, não creio em id-entidades. E na língua portuguesa mais prezo o silêncio que nela ecoa todas as línguas e linguagens, humanas e não-humanas.
ResponderEliminarO Homem Novo não pode ser futuro. Nem homem.
Dito isto, o texto é belo. Como sempre.
Meu caro Paulo,
ResponderEliminarO que encontro na Língua, como de resto na vida, não é só identidade, nem tampouco a diferença. O que encontro na língua é esse instante em que há encontro no mais íntimo de nós que é esse para além da Língua e para além das fronteiras dela, da Europa ou de outros continentes e de outros planetas, se quiseres, onde deixámos o Passado que fomos ser Presente que é...
A forma sem forma do Silêncio é o que melhor nos fala, sabemos, mas a outra face da Saudade é para além de divina...
Que o Homem Novo seja Outro Homem ou Não Homem, ou seja o Homem não nascido... Importa que o caminho se faça dentro e fora de nós, com outros homens não nascidos e por nascer...
Grata. Um abraço.
também considero uma conversa pouco interessante. o mesmo, mesmidade,não reconhecimento da alteridade como constituinte do eu, etc...
ResponderEliminar1. não gostei da identificação como anónimo.
2. postei porque pensei que podias pensar que era a fragmentus
3. não gosto da palavra ladrar, mas se pensarmos bem participamos todos à mesma comunidade moral(salvo-seja).
A sua conversa, baal, é mesmo muito "surrealista". Como sempre, acho-lhe mesmo piada e reconheço-lhe pensamento sem uma clara expressão dele. Filósofos é o que é!(brincadeira, mesmo!)
ResponderEliminarReconhecendo que aqui os há que o não são, mas que o são sem ser, também os há...
PS. Não percebi nem quero perceber o que para pensar que era que pensou...
Lenga-lenga baaliana(sorriso).
Abraço
saudades até sou filósofo, ou mais, ou tudo, é uma brincadeira de escrita automática/associativa, que possivelmente não funcionou.
ResponderEliminarabraço, por hoje já 'asneirei' o suficiente.
saudações
conversa de chucha
ResponderEliminarQuem precisa, Anónimo, das suas dezasseis letras que nada dizem de nada. Nem dialogam, nem conversam, nem desconversam.
ResponderEliminarSe o meu amigo quiser dizer mais qualquer coisinha, só para sabermos se quis dizer "conversas de chacha", como antes se tinha preconizado, ou se era só mesmo "conversas de chucha" e isso significa: conversas de bebé ou de socialistas?... Fico sem saber.
Sendo assim, não há diálogo e as dezasseis letras nada significaram e de muito menos adiantaram ou atrazaram... ainda se dissesse: "conserva de chucha", confesso que acharia graça, agora assim...
Enfim, está bem...
saudades, eu não sei se sou filósofo, mas tu deves ser professora, tão desorientada com chucialistas.
ResponderEliminarchucha de conversa
ResponderEliminarEstá bem, baal, parece-me que não nos estamos a entender e não vale a pena...
ResponderEliminarTenha uma boa noite. E sou professora, sim. Parece-me já o ter dito uma e outra vez. Se estivesse mais atento teria percebido.`Sobretudo nesta parte final, há profissionais que têm muito trabalho e não adianta estarmos aqui a perder o tempo que nos faz falta ou para criar (escrever) ou para tudo o mais que está à minha responsabilidade. Não faço parte de clubes de ociosos, nem gosto de desperdiçar tempo precioso em discussões estéreis.
Não se retirando delas qualquer proveito, nem um mínimo de boa disposição, por vezes tão salutar e inteligente...
"Passar bem!"
O que é um blog senão um clube de ociosos!? Saudades sempre tão susceptíveis...
ResponderEliminarCara interjeição "Oh!",
ResponderEliminarLamento desiludi-la, mas não acho nada que um blog seja um clube e muito menos de ociosos.
E sim, é verdade que existe susceptibilidade de Saudades a vozes que, apesar de breves, são intensas e bem carregadas de negatividade. Isso sente-se à distância, sobretudo quem tem os sentidos apurados. Situação tanto mais dolorosa, sobretudo quando estamos "iludidos" do utópico desafio que é o bem de "todas as formas de vida", no respeito por elas...
A susceptibilidade de Saudades, pode crer que não é por embaraço ou temor de ridículo de si mesma, pois que não se apega a isso, mas pelo não conseguimento da indiferença ao que ainda falta fazer em todos nós e em cada um...
baal,
Desculpe o facto do efeito das minhas palavras ter atingido o seu comentário que, se calhar, não passava de mais uma "inofensiva provocação".
(Vi logo que era de Filosofia!(risos) - A sério. Já sabia que era, já tinha dito que tinha sido aluno de Paulo Borges, não é verdade?
Um abraço de reconciliação (sorriso matinal mais bem disposto..)
reconciliação aceite, com todo o prazer, mas também falo de mais (e sim, era um comentário inofensivo relacionado com a luta dos professores), vou visionar (para não falar demais...),'o grande silêncio', que deves conhecer, sobre a vida interior da grande chartreuse, da ordem dos cartuxos. com respeito.
ResponderEliminarabraço.
também sabia que era professora, nota-se. (é para rir, saudades)