Perante os resultados das recentes Eleições Europeias o Partido Pelos Animais congratula-se com a votação obtida pelo seu congénere holandês, o Partij voor de Dieren, cujos 3.5% quase o levaram a eleger um deputado, e com a subida da representação parlamentar dos Verdes/Aliança Livre Europeia, o único grupo político europeu cuja votação cresceu, de 5.5 para 7.2 %, enquanto todos os outros baixaram.
A abstenção massiva em toda a Europa, junto com os votos em branco, mostra o crescente descrédito e indiferença da maioria da população em relação aos velhos modos de fazer política, configurando um preocupante divórcio entre os Estados, os partidos e os cidadãos. Com efeito, a afluência às urnas, ao longo de 30 anos e em 7 Eleições Europeias, desceu sempre, passando de 61.99% em 1979 para 43.2% em 2009. Perante este quadro, deve colocar-se a questão da legitimidade real das aparentes “maiorias” triunfantes, que na verdade correspondem a uma reduzida minoria do número total de cidadãos eleitores. Esta verdade é escamoteada no discurso oficial dos partidos e dos comentadores políticos, apesar de ser uma evidência incontornável que põe em causa o sentido da própria democracia, o princípio de representação e o sistema eleitoral vigente.
Tudo isto mostra a urgente necessidade de outro modo de se fazer política, movido por valores éticos inquestionáveis e não pela obediência aos grandes grupos económicos e ideológicos mundiais ou pelo mero desejo de poder e promoção pessoal. No mundo de hoje, após a emancipação dos escravos e das mulheres, o progresso mental, ético e civilizacional exige o respeito pela natureza e por todas as formas de vida consciente e sensível. Disso depende a sobrevivência, a evolução e o bem do próprio homem. O Partido Pelos Animais, que recolhe assinaturas para a sua constituição oficial, representa em Portugal essa nova forma de estar na política, lutando por uma sociedade humana mais justa, em harmonia com a natureza e os seres vivos. Sabemos que muitos milhares de portugueses nos acompanham na rejeição dos sofrimentos atrozes a que os animais estão sujeitos pelo actual sistema de produção e consumo e pelos costumes sociais, sem terem qualquer protecção jurídica, pois são considerados como objectos. O Partido Pelos Animais surge para defender os que estão indefesos perante a violência gratuita a que estão sujeitos, para promover a protecção animal em todos os domínios e para introduzir na política o novo paradigma mental, ético e civilizacional que o futuro exige.
10 de Junho de 2009
A Comissão Coordenadora
www.partidopelosanimais.com
Não vai ser fácil em Portugal, terra de gente cruel disfarçada de doce, mas bem vale a pena...
ResponderEliminarCaro Paulo, creio que as fundamentais e decisivas questões permanecem (insolúveis?) as de:
ResponderEliminar1.Como interagir e articular "acção na pólis" (a política, tout court, ainda que no seu mais nobre sentido) com (no âmbito holónico, já) "acção na ecúmena"?
2. Como coexiste "poder" - na tríade da sua expressão: poder ser, poder deixar ser, e poder fazer - com o penhor de "representação" que a demotirania que temos uroboricamente nos impõe como modelo dir-se-ia intocável?
Poder é poder (entre outras coisas) de decidir (de si e de outrem), logo, poder de cindir. Como pode, então (cá está o poder, de novo!) unir, em defesa do que quer que seja, aquilo mesmo que é por natureza, "cindente"?
E, porém, como compaginar tais interrogações sem permanecer na inacção?
E como evitar, por outro lado, que a acção se enrede na teia mesma de que se propõe libertar-nos?
Abraço.
Saúde!
(Apesar do que vai escrito, os animais e a natureza valem, obviamente, sempre o amá-los. Como tudo, aliás, que não tem preço)
A abstenção é uma afronta ao sufrágio universal, nunca poderá ser um voto de protesto contra uma política nem contra o sistema político. A abstenção não se manifesta só em eleições, granjeia hordas descomunais em referendos. A abstenção é no meu entender uma afronta a todos quantos no passado lutaram para dar voz aos que não tinham direito de se expressar. A abstenção clama pela ditadura ( não interessa qual ) ,clama pelo esquecimento. Nunca haverá partidos políticos suficientes para dizimarem este flagelo de indiferença amorfa. Porque os HOMENS estão MORTOS e a cidadania não existe sem Homens.
ResponderEliminarDe certa forma, tenho as mesmas interrogações que o Lapdrey. Em relação a este partido e também ao MIL, movimento, pois o Renato parece-me inclinado para uma abordagem idêntica, pelo que tenho lido. Não me juntei ao MIL pensando que alguma vez este se transformaria num partido. Não acredito em partidos. Acredito em movimentos, ética, princípios. valores, escolhas e rebeldia, no seu sentido mais profundo. Não creio que mergulhar nessa teia possa produzir algum resultado, a não ser mais uma alada para ser devorada pela aranha.
ResponderEliminarPosto que Pã, pela mão matreira de Crowley, tem andado ultimamente algures por aqui, vou aproveitar para deixar também aqui uma diabrura chanfrada daquele, pela mão cifrada deste:
ResponderEliminar"Optimist"
Kill off mankind,
And give the Earth a chance!
Nature might find
In her inheritance
The seedings of a race
Less infinitely base.
Aleister Crowley,"Poems"
.............
Desafio em diagonal:
Em cada expiração (uma pequena morte!), renasça-se irreconhecível para si mesmo.
Deste modo, todos a tudo saudarão sempre pela primeiríssima vez. E pela última também. Remédio (muito provavelmente) "santo"!
(Just like babies: no past, no future, just ...)
... agora. Sim, fui ler. Sou curiosa. E também li isto. Aqui não houve diabrura de Pã.
ResponderEliminarLiber LXXVII
"the law of
the strong:
this is our law
and the joy
of the world." AL. II. 2
"Do what thou wilt shall be the whole of the Law." --AL. I. 40
"thou hast no right but to do thy will. Do that, and no other shall say nay." --AL. I. 42-3
"Every man and every woman is a star." --AL. I. 3
There is no god but man.
1. Man has the right to live by his own law--
to live in the way that he wills to do:
to work as he will:
to play as he will:
to rest as he will:
to die when and how he will.
2. Man has the right to eat what he will:
to drink what he will:
to dwell where he will:
to move as he will on the face of the earth.
3. Man has the right to think what he will:
to speak what he will:
to write what he will:
to draw, paint, carve, etch, mould, build as he will:
to dress as he will.
4. Man has the right to love as he will:--
"take your fill and will of love as ye will,
when, where, and with whom ye will." --AL. I. 51
5. Man has the right to kill those who would thwart these rights.
"the slaves shall serve." --AL. II. 58
"Love is the law, love under will." --AL. I. 57
Será a lei das formigas?
Na verdade, Madalena, apenas os néscios e medíocres vêem no duplo "mandamento" thelémico de Crowley ("Do what thou wilt shall be the whole of the Law" e "Love is the law, love under will") um convite à libertinagem.
ResponderEliminarTal como diz Nietzsche (alguém, porventura, com semelhante verve e calibre): "A beleza fala em voz baixa; e penetra apenas nas almas mais despertas" (In "Zaratustra", 2ª parte,"Dos virtuosos")
Apenas quem é superior na baixeza que em si venceu, pode saber que "faze o que tu queres" não é, de todo, o mesmo que "faze o que quiseres".
A subtil diferença está em que o homem senhor de si precisamente não está centrado em si, como o homem "vulgar" e "comum", mas tem o "eixo" e coluna do seu ser e viver em algo que, a um tempo, o transcende e nele imanesce: na finíssima linha da lâmina que vai do poder ao querer...
Entre o poder ser o que se quer (de acordo com o que em si é superior vontade) e o querer ser o que se pode, está a morna mediania abstinente, abstémia e indiferente de que dão conta quer o comunidado trazido por Paulo Borges, quer as por certo pertinentes palavras de Ana Moreira.
o sistema paga aos partidos por cada voto, promove isenções fiscais, o que os leva a utilizar todas as possibilidades para se imporem., ninguém dúvida da bondade e das intençoes de algumas pessoas que formam os partidos, mas infelizmente, em todo o mundo, o poder corrompe e os partidos tornam-se marionetas de interesses pouco éticos sempre desculpados por alguma estratégia necessária.
ResponderEliminartodos conhecemos os partidos, todos formados com boas intenções, mas também vemos no que se tornam, pequenos deuses caseiros na manipulação, e especialistas no mascarar da verdade.
Caro Baal, nisto, como na vida, não basta as intenções: importa sempre os resultados.
ResponderEliminarSão fundamentais e fundamentantes os princípios, mas decisivas apenas a "eficácia" e "eficiência" do fazer.
O resto é pura retórica...
Abraço.
Caras Amigas e Amigos,
ResponderEliminarAgradeço os vossos comentários críticos e, para ir ao essencial, digo-vos que tenho um irredutível passado e fundo anarquista, sendo o primeiro a desconfiar de todo o poder e jogo político. Do poder e da política nada espero quanto às questões essenciais da vida e do espírito. A grande libertação e o verdadeiro Bem não se obtêm por via política nem pelo combate partidário. Disso não me restam, há mais de 30 anos, quaisquer dúvidas.
Dito isto, estou farto de ouvir pessoas a repetir isto e a não fazer nada, refugiando-se na espiritualidade, na filosofia, na arte e na literatura com desprezo pelos que sujam as mãos no lamaçal político. O mundo, real ou ilusório, real e ilusório, está aí e nele muito se sofre. Se um movimento ou partido político contribuir para que um milésimo desse sofrimento se atenue, já está, a meu ver, justificado. Essa a razão da minha opção: se o PPA conseguir levar à aprovação de leis que reduzam o sofrimento humano e animal, inseparáveis, pois o homem colhe no corpo e na mente os efeitos do que faz aos animais, dou-me por satisfeito. E esta é, a meu ver, a melhor forma de orientar a acção na pólis para a acção na ecúmena, como bem nota Lapdrey, preocupação que tenho por fundamental.
Agora, em tudo isto, para que a aranha não se prenda na teia que de si mesma segrega, há que contemplar que não somos nada. Como repetia o escravo que os generais romanos levavam a seu lado quando eram acolhidos triunfalmente em Roma: "Lembra-te que não és nada!".
Abraços
gostava de saber se alguma ligação etimológica existe entre
ResponderEliminarAnimal
e
anima
obrigado
Claro que sim, Platero! E, para dizer tudo, para mim não há homens, animais, deuses, demónios, mas apenas fluxos de consciência que, em função das suas acções e frequências vibratórias, assumem transitoriamente essas formas, numa mutação contínua de umas para as outras!... Já fomos, somos e seremos também animais, se não pararmos de os fazer sofrer, por exemplo... Um Partido Pelos Animais é, fundamentalmente, um Partido pelo bem dos homens.
ResponderEliminarCaro Paulo,
ResponderEliminarOrganizações como a Greenpeace e similares têm feito muito mais pela protecção dos animais e mudança de consciência do que qualquer lei. Aliás, as leis podem não ser cumpridas, pois a fiscalização é difícil ou fica mais barato pagar as multas (pode-se ver o que se passa em Portugal com a poluição dos rios, por exemplo).
Quanto à literatura, o que seríamos nós sem ela?
Caro Lapdrey,
não sei onde foi buscar essa ideia do convite à libertinagem. Será por eu ter perguntado se era a lei das formigas? Ou talvez tenha sido uma forma de me chamar néscia... enfim, o mais provável é sê-lo mesmo. E formiga também.
Libertem-se os animais dos jardins zoloógicos e metam-se nas jaulas os governos!
ResponderEliminarEsclareço, cara Madalena, que quando eu mencionei o que refere, fi-lo em abstracto, aludindo à costumeira reacção atolada na " boa moral", sempre que se fala de Crowley, puxando-se à colação alguns (não poucos) excessos que o mago-poeta se permitiu.
ResponderEliminarNão, de todo, que tivesse visto réstea de tal coisa em algo que a Madalena tenha escrito...
a necessidade de agir é ela própria fundamento na criação de uma moral prática.
ResponderEliminara questão é saber se devemos agir dentro de um sistema que provou a sua ineficácia ou no seu limiar?
quem opta por agir dentro do sistema, acredita na eficácia da decisão, aos outros resta a dúvida, e no meu caso a experiência diz-me que tentar mudar o sistema por dentro é pura ilusão. mas como foi foi dito é preciso tentar, resta-nos 'esperar para ver'.
Que é a literatura senão a masturbação dos impotentes para serem o que escrevem?
ResponderEliminarBaal,
ResponderEliminarNão é possível, creio, "sair" do sistema: a "realidade" é, ao que parece, ao menos de um certo ponto de vista, sistémica, holónica e paradoxalmente complexa, logo, simples como só uma criança a entende.
A questão (interessante talvez de delucidar) é que começamos a ter, do lado "combativo" e "comprometido" activamente neste tipo de intervenções, aqueles que tendem para "valorar" a "realidade" como "ilusão".
Aqueles, pelo contrário, que, por princípio(s) mais se imagina valorem a "realidade" como "real", esses, parecem estar descrentes num tal "combate" e "comprometimento".
Ah, Hegel, meu velho!
Ainda andas por aqui a fazer das tuas traquinices?
Caro(a) Nonada, já deu , pelos vistos, o seu contributo (pequenino, convenhamos) para a marturbação do seu egozinho, certo?
Bom esforço! Eu também me esforço, mas não naquilo que o meu amigo(a) imagina.
A que propósito, deixe-me perguntar, vem aqui, entretanto, aquilo da "coisa literatura"?
Devo estar muito "louro" hoje...
Ou será que o Santo António era lourinho, e eu não sei?
Alvíssaras, a quem o saiba!
lapdrey,
ResponderEliminarao falarmos de sistema, falamos de molares, da árvore-raiz, mas não de fluxos, de moléculas, continuamos na ideia do que está fora e do que está dentro, esquecendo o n-1 deleuziano, a questão não se coloca entre o uno e múltiplo, colaca-se na criação de multiplicidades (n-1), o uno -1, é necessário, no actual, optar pela nomadologia, criar pontos de fuga, descentrar, des-hierarquizar.
queria dizer o múltiplo -1 , para criar a multiplicidade, que contrariamente ao múltiplo não depende do uno, do centro, do livro raiz como binário.
ResponderEliminarBaal, eu falo do "ponto" de vista da teoria do caos e dos sistemas adaptativos complexos, por ex., entre outras formas de abordagem.
ResponderEliminarFalo também de Arthur Koestler, e de Morin e Heylighen.
Falo duma perspectiva holónica, holográfica, "holofânica" e além ...
Abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarNietzsche considerava Schopenhauer um "biófobo", por causa da sua ética da compaixão, que Nietzsche considerava uma espécie de "negação da vida". E no fundo, é de uma acção movida pela compaixão que estamos aqui a falar. Foi Schopenhauer que escreveu que "a compaixão para com os animais está intimamente ligada à bondade de carácter" e que "quem é cruel com os animais não é seguramente um bom homem". Esta compaixão, de Schopenhauer, tal como a entendo, não era de todo a negação da vida, mas antes o desapego de si, o sentir em nós o outro, a mais alta forma de amar, o fim da individualização.
ResponderEliminarSobre esta compaixão, não tenho dúvidas.
O que fazer com ela, quando surge, é que por vezes não sei. Quando surge, somos movidos. Não podemos não nos mover. Mas nem todos os movimentos têm bons resultados. Por vezes, até têm os piores dos resultados.
"L'enfer est pavé de bonnes intentions."
Mas não nos movermos, não é opção.
quem disse foi kant, quem copiou foi schopenhaeur.
ResponderEliminarObrigada pela correcção, baal.
ResponderEliminarSe a realidade é ilusão pode-se mudar. Se é real nada a fazer.
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