Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
"A Batalha das Formigas", Aleister Crowley (1875 – 1947)
Max Ernst, "O olho do silêncio", 1944
A BATALHA DAS FORMIGAS
Aquilo não é o que é.
A única palavra é Silêncio.
O único Significado dessa Palavra é não.
Pensamentos são falsos.
Paternidade é unidade disfarçada de dualidade.
Paz implica guerra.
Poder implica guerra.
Harmonia implica guerra.
Vitória implica guerra.
Glória implica guerra.
Fundação implica guerra.
Ai! pelo Reino onde todos estes estão em guerra.
Aleister Crowley, “ Livro das Mentiras”, cap. 5, pág. 14
Fonte: http://www.hippies.com.br/books/Liber_333-O_livro_das_mentiras.pdf
THE BATTLE OF THE ANTS
That is not which is.
The only Word is Silence.
The only Meaning of that Word is not.
Thoughts are false.
Fatherhood is unity disguised as duality.
Peace implies war.
Power implies war.
Harmony implies war.
Victory implies war.
Glory implies war.
Foundation implies war.
Alas! for the Kingdom wherein all these are at war.
Aleister Crowley, “The Book of Lies”
Fonte: http://www.hermetic.com/crowley
(Não vou voltar a cara a este desafio!)
ResponderEliminarTenho alguma dificuldade, confesso, em comentar Crowley. Num exercício de puro seguimento do texto, sem pistas visíveis, sigo um raciocínio que ainda assim se enreda na sua teia, vou tentar aproximar-me do poema-enigma - como de resto, muita poesia o é. Esta aqui desenvolve proposições antitéticas que se anulam umas às outras, como se o que existe fosse um Caos, constantemente em guerra ou que encontra a sua mesma Paz no interior da Guerra.
Tenho alguma dificuldade em compreender esses conceitos de ou da “força", digo, mas mesmo o dizê-lo é intuitivo. Sempre no desconhecido...
Só posso aproximar-me pela palavra daquilo que não é
Ao ser dito, o que é deixa de ser.
Não há palavra que se aproxime daquilo que é
Silêncio é o que mais se assemelha a Isso
Não é a única verdade da Mentira
Não é pelo pensamentos
Não é pelas cisões ou divisões
Heráclito é que se move na sua mobilidade
Os contrários degladiam-se e devoram-se eternamente
Glória é uma guerra terminada no infinito
Vitória é uma geurra infinita
Guerra é uma Harmonia em acção(?)
Poder, Paz, Unidade?
A Guerra existe
O Reino é espiritual.
Sempre em Guerra
Com o que existe.
Uma sensação estranha de pensar...
Crowley por certo apreciaria o seu comentário, cara Saudades. Tal como eu o aprecio também, e muito.
ResponderEliminarContinuando então esta ousadia de postar Crowley - à esquerda e à direita de todas as "ortodoxias" do auto-contentamento -, eu arriscaria aqui uma “outra retroversão” do texto inglês para português.
Faço-o, no respeito possível (ou seja, impossível) pelo "paroxismo trans-paradóxico" (perdoe-se-me o palavrão) em que se insta e "instá" sempre a palavra do mago-poeta.
Aqui vai, pois, o meu "pescoço", no cadafalso do quase certo sardonismo auto-emplumado do serpenteio urobórico aqui felizmente sempre bem abundante.
Eis Crowley “mentido” em português (de blog?):
Isso é: não o que é.
Palavra: só o Silêncio.
Só ao significar, isso a Palavra não é.
O pensar, é-o do falso.
Pai é um que, em disfa(r)ce, de dois se reveste.
Há guerra já, na paz.
E no poder, a guerra é.
Guerra há na harmonia, implícita.
E a vitória, em si mesma, implica a guerra.
Está implícita a guerra, na glória.
E guerra há nos fundamentos mesmos das coisas.
Ai do Reino onde todos estes estão em guerra!
(Continuemos, pois, Saudades e outros saudosos e não saudosos, no fio acerado da lâmina desta intérmina batalha de formigas: ... entre a inevitável "polémos" que nos desassossega a dormência, e bem, e a ordenação que nos congrega no impossível... melhor ainda)
o silêncio é a única palavra não dita.
ResponderEliminarA batalha de formigas é este blogue e o mundo inteiro
ResponderEliminarCom as suas palavras, Caro Anónimo, acabou por confirmá-lo (para si mesmo?).
ResponderEliminarJá o sabíamos. Grato, na mesma.
Welcome to the club!
Caro Nunca Mais,
Eu diria mais, com os sábios e perspicacíssimos Dupont e Dupont:
"Este blogue e o mundo inteiro são a batalha das formigas."
E, quem sabe (mais do que muito provavelmente), o "contrário" também.
Estamos em paz, portanto. Quero eu dizer: estamos em plena guerra...
(Nunca Mais deixe ver vir, sim? A batalha precisa de si, e o meu amigo/a também...)
Boas tardes Lapdrey,
ResponderEliminarFiquei, direi, surpreso, ao ver o que estava por detrás desta passagem de Hesse. Também em Siddartha, o autor, revela uma aproximação ao universo "mágico" de Crowley, quer por referência quer por alusão. Foi o que me deu a entender quando mergulhei na superfície de Crowley. E, desta vez, fico-me mesmo pela superfície (sorrisos)!
Demian
"A vida de todo ser humano é um caminho em direcção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro. Homem algum chegou a ser completamente ele mesmo; mas todos aspiram sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode. Todos levam consigo, até o fim, viscosidades e cascas de ovo de um mundo primitivo. Há os que não chegam jamais a ser homens, e continuam sendo rãs, esquilos ou formigas. Outros que são homens da cintura para cima e peixes da cintura para baixo. Mas, cada um deles é um impulso em direcção ao ser. Todos temos origens comuns: as mães; todos proviemos do mesmo abismo, mas cada um - resultado de uma tentativa ou de um impulso inicial - tende a seu próprio fim. Assim é que podemos entender-nos um aos outros, mas somente a si mesmo pode cada um interpretar-se."
Hermann Hesse
Um abraço.
Trata-se de um poema hermético. Tudo o que é dual é imperfeito. Tudo o que pode ser pensado é falso. Nós somos as formigas. Temível exército, se controlado. Nas sociedades secretas sempre existiu essa tentação: o controlo das formigas.
ResponderEliminarSobre a Palavra do Silêncio: o único significado dessa Palavra é o seu não significado/o seu não existir. É assim que leio o poema em inglês.
Sobre as dualidades, claro que quando falamos/pensamos em paz é porque há guerra. E esse reino é o reino das formigas. O nosso mundo. O mundo imperfeito das emanações.
Hermann Hesse: "A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Aquele que vai nascer, tem que destruir um mundo."
ResponderEliminar"Paz implica guerra.
ResponderEliminarPoder implica guerra.
Harmonia implica guerra.
Vitória implica guerra.
Glória implica guerra."
retive estas passagens. Não conhecia,
grata pela partilha.
e, aqui
neste blogue
encontramos a força da palavra.