quinta-feira, 14 de maio de 2009

Poeta

Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.

Humildes, pobres cousas, como eu sou
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou-
Em num, o antigo tempo é nova idade.

Sou fraga da montanha, névoa astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.

Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.


Teixeira de Pascoaes
Sempre (1898)
In Poesia de Teixeira de Pascoaes
Org. de Silvina Rodrigues Lopes
Lisboa, Editorial Comunicação, 1987

4 comentários:

  1. é dos primeiros poemas que leio de Pascoaes:Perdôe-se-me a ignorância atávica.
    Encantou-me a descoberta.
    Obrigado pela oportunidade

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  2. de nada platero :),

    cruzei os olhos, pela primeira vez, com a poesia de Pascoaes há cerca de um ano, e ficou.

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  3. Os poetas morrem na criação. isso é Pascoaes.

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  4. um deus ausente, louco,que nos criou para a morte, triste o fado de um deus enganado e de um homem derrotado.
    como é possivel resistir?

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