Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Palavras que justificam aprender a ler - Nonada
"Nonada"
- João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas [primeira palavra do livro].
Espere. É a lágrima que nos liberta de tudo isto. A lágrima é de raiva e revolta por um mundo em que há tanto sofrimento. A lágrima é uma explosão, um grito. Um grito que corta toda a existência e que ecoa eternamente até ao infinito. Um grito que engole o mundo. Um grito que mata a noite. Um grito que amedronta e encolhe Deus. Um grito que tudo cria e destrói. Um grito que nunca chegou a existir e que no entanto é mais verdadeiro que todas as coisas. Um grito que as sustenta. Um grito do nada. Um grito que consome o nada. Um grito existencial. Um grito que grita por um mundo novo que nunca verá porque o grito é cego...
"Se por nascer tão subida perde a rosa a perfeição, enquanto a rosa em botão mais se lhe dilata a vida: nessa pompa já perdida, com que, rosa, te enfeitaste, vendo o pouco que duraste, da vida foste um nonada, nem foste rosa, nem nada, Se tão depressa acabaste."
Obra Poética, de Gregório de Matos (1636-96), poema: Nasce a Rosa, e Nasce a Flor
“Otros, que, aunque tuvieron princípios grandes, acabaron en punta, como pirámide, habiendo diminuído y aniquilado su principio hasta parar en nonada, como lo es la punta de la pirámide, que respeto de su basa o asiento no es nada.”
Miguel de Cervantes y Saavedra, (1547-1616), Don Quijote de la Mancha
Não nada. Não nata. Não nascida. Não coisa nascida ("res nata"). Incriado.
O que os dicionários dizem ser "bagatela, insignificância, ninharia, nuga" é, etimologicamente, o não nascido, o incriado, a natureza primordial de tudo...
Porque "nada" originariamente quer dizer "nata", nascida, coisa nascida (res nata). Por isso dizemos "não sou nada" e, em francês, "je ne suis rien" ("rien" de "res", "coisa", em latim).
Nonada sugere o não "alguma coisa", sem ser "nada", no sentido comum de não ser em absoluto.
Nonada sugere a "shunyata" indiana, a vacuidade, como diz Raimon Pannikar, em "De la Mística. Experiencia plena de la vida", chamando a atenção para as virtualidades filosóficas e interculturais da língua portuguesa e castelhana, por via desta palavra.
Então "não sou nada" quer dizer "não sou nascido". "Je ne suis rien", não sou coisa, assemelha-se ao inglês "nothing", não coisa: I am nothing, eu sou não coisa; significará isso que o que somos está para lá da coisa (corpo) que aparentemente somos? E será que "coisa" pode ser interpretada como "corpo" (que dá a ideia de algo imóvel, presente) ou poderá sê-lo como "corpo no tempo", narrativa, história?
Da minha parte, quando falo em nada, e se me interpreto bem, falo de duas coisas: daquilo que está para lá de todas as coisas e da impermanência e no entanto eternidade de qualquer coisa que exista. Impermanência porque é efémera, como uma pedra, eterna porque fica na memória da existência (o que é o mesmo que dizer: porque um dia veio a existir).
Mas isto são já crenças injustificadas, as tais visões que alguém quer impôr à realidade. Penso que é bom que tenhamos consciência disso. Mas bastará? Ou será isto como dizer: não importa que eu faça mal desde que tenha consciência disso?
Uma nota: poderíamos ir para além do incriado? Não é o incriado já algo criado pelo ser humano? não é já um conceito? Não é já algo complexo ou composto?
Uma pequena "brincadeira": o mundo é nonada no nada.
Se assim é, que lugar para Deus?
Se bem interpreto Pseudo-Dionísio, cujo livro não tenho, até porque deitei tudo fora, excepto alguns que me dizem muito - Bíblia, Tao, Upanixades -, ele procura Deus nas coisas (teologia positiva) e procura Deus negando as coisas (negativa).
Parece que Deus é, para ele, ao mesmo tempo: cada coisa, nenhuma coisa e o conjunto de todas as coisas.
"Amamos Deus precisamente porque Ele não existe" [Miran Bozovic]
E ainda:
""Según te adentras en ti mismo y en ti mismo ahondas, vas descubriendo tu propia inanidad, que no eres todo lo que eres, que no eres lo que quisieras ser, que no eres, en fin, más que nonada. Y al tocar tu propia nadería, al no sentir tu fondo permanente, al no llegar ni a tu propia infinitud ni menos a tu propia eternidad, te compadeces y te enciendes en doloroso amor a ti mismo, matando lo que se llama amor propio, y no es sino una especie de delectación sensual de ti mismo, algo como un gozarse a sí misma la carne de tu alma. El amor espiritual a sí mismo, la compasión que uno cobra para consigo, podrá acaso llamarse egoísmo; pero es lo más opuesto que hay al egoísmo vulgar. Porque de este amor o compasión a ti mismo, de esta intensa desesperación, porque así como antes de nacer no fuiste, así tampoco después de morir serás, pasas a compadecer, esto es, a amar a todos tus semejantes y hermanos en aparencialidad, miserables sombras que desfilan de su nada a su nada, chispas de conciencia que brillan un momento en las infinitas y eternas tinieblas. Y de los demás hombres, tus semejantes, pasando por los que más semejantes te son, por tus convivientes, vas a compadecer a todos los que viven y hasta a lo que acaso vive pero existe" (UNAMUNO, Miguel, Obras selectas, Madrid: Espasa, 1998, p. 137).
Texto lindíssimo, o de Unamuno. Porém, não deveríamos amar os outros no nonada que são profundamente, se bem entendi o sentido da palavra, e não no nada que são aparentemente?
A ligação humana mais forte ("soul to soul our shadows roll", Bob Dylan, When the deal goes down) não surge precisamente quando reconhecemos o outro como nonada e reconhecemos que existe algo de muito importante para lá de todas as aparências?
Não é esse nonada que temos que conservar? Não é esse nonada que temos que amar? Não será errado amar alguém pelo seu nada, pelas propriedades que tem ou aparenta ter, em vez de pelo seu imo que decerto é belo, sublime e infinito?
Ou serão tudo isto visões?
Será que Cristo e São Francisco não têm amor próprio ou terão um amor próprio tão grande e um respeito tão grande pelas suas pessoas que isso só os pode levar a esquecerem-se de si e a dedicarem-se de corpo e alma aos outros?
Seremos miseráveis sombras ou será que no fundo somos a tal Luz que nasce com o grito, como referiu um anónimo na noite serpentina que cada vez se encontra mais luminosa, a que o autor chama "desespero"?
Parece-me que o autor defende que da consciência de nós como seres contingentes, que não foram e não serão, nasce o amor superficial (se bem li o texto, já que não percebo todas as palavras).
Mas não será da consciência da mortalidade que nasce a visão da importância da vida? (tal como ocorre com a consciência do sofrimento)
Se bem me lembro (porque não tenho livros, textos ou apontamentos para citar excepto os que já referi), Husserl diz que a empatia é ver o outro como se fôssemos nós, pormo-nos no seu papel.
Como se compadece com o esfomeado quem nunca passou fome? Com o inválido? Com o doente mental?
Penso que basta para isso que saibamos o que é sofrer. Basta para isso que tenhamos sofrido. Mas não basta sofrer para se ser compassivo, é preciso algo mais. Talvez a compassividade seja como a rosa.
Tradução de texto acima de Unamuno (perdoem qualquer erro, pois foi traduzido por mim):
"À medida que penetras em ti mesmo e em ti mesmo aprofundas, vais descobrindo a tua própria inanidade, que não és tudo o que és, que não és tudo o que quiseras ser, que não és, enfim, mais que nonada. E ao tocar a tua própria nadaria, ao sentir o teu fundo permanente, ao não chegar nem à tua própria infinidade nem muito menos à tua eternidade, te compadeces e acendes em ti mesmo o doloroso amor a ti mesmo, matando o que se chama amor próprio, e não é senão uma deleitação sensual de ti mesmo, algo como gozar-se a si mesma a carne da tua alma. O amor espiritual a si mesmo, a compaixão que um sente para consigo, poderá acaso chamar-se egoísmo; no entanto, é o mais oposto que há ao egoísmo vulgar. Porque deste amor ou compaixão por ti mesmo, deste intenso desespero, porque assim como antes de nascer não foste, assim tão pouco depois de morrer serás, passas a compadecer-te, ou seja, a amar, todos os teus semelhantes e irmãos em aparencialidade, miseráveis sombras que desfilam do seu nada ao seu nada, chispas de consciência que brilham um momento nas infinitas e eternas tinieblas. E dos demais homens, teus semelhantes, passando pelos que mais semelhantes te são, pelos teus conviventes, virás a compadecer-te por todos os que vivem e até ao que por acaso vive, mas existe."
Este nada não é no sentido que lhe é dado habitualmente, aliás Unamuno fala apenas em nonada, nadaria e inanidade e não fala em "nada".
Embora provavelmente o Paulo não vá concordar comigo, quando se está em nonada, quando se é nonada, para mim é plenitude.
Quanto à questão da compreensão do que é o sofrimento não experienciado, como dizia Schopenhauer, "a compaixão é a mais alta forma de amor, é sentir em nós a dor do outro", pode chamar-lhe também uma empatia tão absoluta que o outro, já não se distingue de nós ou nós do outro.
É o mesmo que "Nada" ou "Vazio", certo?
ResponderEliminarEspere. É a lágrima que nos liberta de tudo isto. A lágrima é de raiva e revolta por um mundo em que há tanto sofrimento. A lágrima é uma explosão, um grito. Um grito que corta toda a existência e que ecoa eternamente até ao infinito. Um grito que engole o mundo. Um grito que mata a noite. Um grito que amedronta e encolhe Deus. Um grito que tudo cria e destrói. Um grito que nunca chegou a existir e que no entanto é mais verdadeiro que todas as coisas. Um grito que as sustenta. Um grito do nada. Um grito que consome o nada. Um grito existencial. Um grito que grita por um mundo novo que nunca verá porque o grito é cego...
ResponderEliminarBolas, Nuno, fiquei sem fôlego! Gostei desse "grito".
ResponderEliminarNuno, não é o grito que é cego. É quem grita.
ResponderEliminarO grito é o que dá à Luz.
"Se por nascer tão subida
ResponderEliminarperde a rosa a perfeição,
enquanto a rosa em botão
mais se lhe dilata a vida:
nessa pompa já perdida,
com que, rosa, te enfeitaste,
vendo o pouco que duraste,
da vida foste um nonada,
nem foste rosa, nem nada,
Se tão depressa acabaste."
Obra Poética, de Gregório de Matos (1636-96), poema: Nasce a Rosa, e Nasce a Flor
“Otros, que, aunque tuvieron princípios grandes, acabaron en punta, como pirámide, habiendo diminuído y aniquilado su principio hasta parar en nonada, como lo es la punta de la pirámide, que respeto de su basa o asiento no es nada.”
Miguel de Cervantes y Saavedra, (1547-1616), Don Quijote de la Mancha
"Inominado
ResponderEliminarsó ficam as palavras
quando inauguradas
de ouro ou de lata
não devoradas
viajante lucanar
nonada"
MAGALHÃES, Carlos Fernando Filgueiras de. Perau. Goiânia: Editora Vieira, 301 p.
Não nada. Não nata. Não nascida. Não coisa nascida ("res nata"). Incriado.
ResponderEliminarO que os dicionários dizem ser "bagatela, insignificância, ninharia, nuga" é, etimologicamente, o não nascido, o incriado, a natureza primordial de tudo...
Porque "nada" originariamente quer dizer "nata", nascida, coisa nascida (res nata). Por isso dizemos "não sou nada" e, em francês, "je ne suis rien" ("rien" de "res", "coisa", em latim).
Nonada sugere o não "alguma coisa", sem ser "nada", no sentido comum de não ser em absoluto.
Nonada sugere a "shunyata" indiana, a vacuidade, como diz Raimon Pannikar, em "De la Mística. Experiencia plena de la vida", chamando a atenção para as virtualidades filosóficas e interculturais da língua portuguesa e castelhana, por via desta palavra.
Grato, Madalena, pelos belos poemas, que não conhecia. Seria interessante fazer uma antologia de textos onde esta palavra surge.
ResponderEliminarEntão "não sou nada" quer dizer "não sou nascido". "Je ne suis rien", não sou coisa, assemelha-se ao inglês "nothing", não coisa: I am nothing, eu sou não coisa; significará isso que o que somos está para lá da coisa (corpo) que aparentemente somos? E será que "coisa" pode ser interpretada como "corpo" (que dá a ideia de algo imóvel, presente) ou poderá sê-lo como "corpo no tempo", narrativa, história?
ResponderEliminarDa minha parte, quando falo em nada, e se me interpreto bem, falo de duas coisas: daquilo que está para lá de todas as coisas e da impermanência e no entanto eternidade de qualquer coisa que exista. Impermanência porque é efémera, como uma pedra, eterna porque fica na memória da existência (o que é o mesmo que dizer: porque um dia veio a existir).
Mas isto são já crenças injustificadas, as tais visões que alguém quer impôr à realidade. Penso que é bom que tenhamos consciência disso. Mas bastará? Ou será isto como dizer: não importa que eu faça mal desde que tenha consciência disso?
Uma nota: poderíamos ir para além do incriado? Não é o incriado já algo criado pelo ser humano? não é já um conceito? Não é já algo complexo ou composto?
Será que o mundo é nonada?
ResponderEliminarUma pequena "brincadeira": o mundo é nonada no nada.
Se assim é, que lugar para Deus?
Se bem interpreto Pseudo-Dionísio, cujo livro não tenho, até porque deitei tudo fora, excepto alguns que me dizem muito - Bíblia, Tao, Upanixades -, ele procura Deus nas coisas (teologia positiva) e procura Deus negando as coisas (negativa).
Parece que Deus é, para ele, ao mesmo tempo: cada coisa, nenhuma coisa e o conjunto de todas as coisas.
"Amamos Deus precisamente porque Ele não existe" [Miran Bozovic]
ResponderEliminarE ainda:
""Según te adentras en ti mismo y en ti mismo ahondas, vas descubriendo tu propia inanidad, que no eres todo lo que eres, que no eres lo que quisieras ser, que no eres, en fin, más que nonada. Y al tocar tu propia nadería, al no sentir tu fondo permanente, al no llegar ni a tu propia infinitud ni menos a tu propia eternidad, te compadeces y te enciendes en doloroso amor a ti mismo, matando lo que se llama amor propio, y no es sino una especie de delectación sensual de ti mismo, algo como un gozarse a sí misma la carne de tu alma. El amor espiritual a sí mismo, la compasión que uno cobra para consigo, podrá acaso llamarse egoísmo; pero es lo más opuesto que hay al egoísmo vulgar. Porque de este amor o compasión a ti mismo, de esta intensa desesperación, porque así como antes de nacer no fuiste, así tampoco después de morir serás, pasas a compadecer, esto es, a amar a todos tus semejantes y hermanos en aparencialidad, miserables sombras que desfilan de su nada a su nada, chispas de conciencia que brillan un momento en las infinitas y eternas tinieblas. Y de los demás hombres, tus semejantes, pasando por los que más semejantes te son, por tus convivientes, vas a compadecer a todos los que viven y hasta a lo que acaso vive pero existe" (UNAMUNO, Miguel, Obras selectas, Madrid: Espasa, 1998, p. 137).
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarTexto lindíssimo, o de Unamuno. Porém, não deveríamos amar os outros no nonada que são profundamente, se bem entendi o sentido da palavra, e não no nada que são aparentemente?
ResponderEliminarA ligação humana mais forte ("soul to soul our shadows roll", Bob Dylan, When the deal goes down) não surge precisamente quando reconhecemos o outro como nonada e reconhecemos que existe algo de muito importante para lá de todas as aparências?
Não é esse nonada que temos que conservar? Não é esse nonada que temos que amar? Não será errado amar alguém pelo seu nada, pelas propriedades que tem ou aparenta ter, em vez de pelo seu imo que decerto é belo, sublime e infinito?
Ou serão tudo isto visões?
Será que Cristo e São Francisco não têm amor próprio ou terão um amor próprio tão grande e um respeito tão grande pelas suas pessoas que isso só os pode levar a esquecerem-se de si e a dedicarem-se de corpo e alma aos outros?
Seremos miseráveis sombras ou será que no fundo somos a tal Luz que nasce com o grito, como referiu um anónimo na noite serpentina que cada vez se encontra mais luminosa, a que o autor chama "desespero"?
Parece-me que o autor defende que da consciência de nós como seres contingentes, que não foram e não serão, nasce o amor superficial (se bem li o texto, já que não percebo todas as palavras).
Mas não será da consciência da mortalidade que nasce a visão da importância da vida? (tal como ocorre com a consciência do sofrimento)
Se bem me lembro (porque não tenho livros, textos ou apontamentos para citar excepto os que já referi), Husserl diz que a empatia é ver o outro como se fôssemos nós, pormo-nos no seu papel.
Como se compadece com o esfomeado quem nunca passou fome? Com o inválido? Com o doente mental?
Penso que basta para isso que saibamos o que é sofrer. Basta para isso que tenhamos sofrido. Mas não basta sofrer para se ser compassivo, é preciso algo mais. Talvez a compassividade seja como a rosa.
Talvez a compassividade seja a rosa.
ResponderEliminarTradução de texto acima de Unamuno (perdoem qualquer erro, pois foi traduzido por mim):
ResponderEliminar"À medida que penetras em ti mesmo e em ti mesmo aprofundas, vais descobrindo a tua própria inanidade, que não és tudo o que és, que não és tudo o que quiseras ser, que não és, enfim, mais que nonada. E ao tocar a tua própria nadaria, ao sentir o teu fundo permanente, ao não chegar nem à tua própria infinidade nem muito menos à tua eternidade, te compadeces e acendes em ti mesmo o doloroso amor a ti mesmo, matando o que se chama amor próprio, e não é senão uma deleitação sensual de ti mesmo, algo como gozar-se a si mesma a carne da tua alma. O amor espiritual a si mesmo, a compaixão que um sente para consigo, poderá acaso chamar-se egoísmo; no entanto, é o mais oposto que há ao egoísmo vulgar. Porque deste amor ou compaixão por ti mesmo, deste intenso desespero, porque assim como antes de nascer não foste, assim tão pouco depois de morrer serás, passas a compadecer-te, ou seja, a amar, todos os teus semelhantes e irmãos em aparencialidade, miseráveis sombras que desfilam do seu nada ao seu nada, chispas de consciência que brilham um momento nas infinitas e eternas tinieblas. E dos demais homens, teus semelhantes, passando pelos que mais semelhantes te são, pelos teus conviventes, virás a compadecer-te por todos os que vivem e até ao que por acaso vive, mas existe."
Este nada não é no sentido que lhe é dado habitualmente, aliás Unamuno fala apenas em nonada, nadaria e inanidade e não fala em "nada".
Embora provavelmente o Paulo não vá concordar comigo, quando se está em nonada, quando se é nonada, para mim é plenitude.
Quanto à questão da compreensão do que é o sofrimento não experienciado, como dizia Schopenhauer, "a compaixão é a mais alta forma de amor, é sentir em nós a dor do outro", pode chamar-lhe também uma empatia tão absoluta que o outro, já não se distingue de nós ou nós do outro.
ResponderEliminarnonadas para o povo, a revolução es'
ResponderEliminarMadalena, não poderia concordar mais consigo. O Unamuno é um pensador muito estimulante, embora seja difícil acompanhá-lo em tudo.
ResponderEliminarUm Abraço, para si e para o Nuno.