“Que há dentro deste ser, que não tem limites? Que há dentro deste ser de real e verdadeiro? Cada um assume proporções temerosas. Caem lá dentro palavras, sentimentos, sonho – é um poço sem fundo, que vai até à raiz da vida. À superfície todos nós nos conhecemos. Depois há outra camada, outra depois. Depois um bafo. Ninguém sabe do que é capaz, ninguém se conhece a si próprio quanto mais aos outros, e só à superfície ou lá para muito fundo é que nos tocamos todos como as árvores de uma floresta – no céu e no interior da terra. De mais baixo ainda vêm terrores, ânsias, desespero… A maior parte das criaturas não só se ignoram como não passam nunca da camada superficial.
É um erro supor que o homem ocupa um espaço limitado no universo: cada homem vai até ao interior da terra e até ao âmago do céu. A parte de cima foi cortada, mas o que resta da alma é um poço sem fundo. Uma obscuridade”
- Raul Brandão, Húmus, Lisboa, Vega, 1991, 3ª edição, pp.47-48.
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ResponderEliminarQue pode haver no que não tem limites senão essa ausência e nem isso?
ResponderEliminarSe o sentisses nem falavas... Ou, ao falar, proferias um verbo apocalíptico que dissiparia o mundo.
ResponderEliminarQue há dentro de uma bola de sabão senão o espaço infinito!? Assim somos nós.
ResponderEliminarRaul Brandão!... Que me recorde ninguém até agora o citou. Grande autor, muito esquecido.
ResponderEliminarO que quer dizer a parte de cima haver sido cortada?
ResponderEliminarA nossa alma pode ser um abismo sem fundo. Mas à superfície flutua, de quando em quando, a Alegria primordial.
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