Um semblante melancólico pela partida dos amigos;
um mar de gente a acenar a despedida;
o quartel
a casa que, apesar de tudo, fora o lar daquele tempo;
o rio sem o garrido das capulanas
das mulheres que faziam a barrela
o rio
sem o chilreio vivo e alegre da pequenada
que nele se banhava
o rio parecia carpir um pranto dolente e triste
junto do canavial emudecido
e sem alma para lhe fazer coro.
No entanto, a manhã uma manhã de encanto
a manhã revestia-se de uma formosura diáfana.
Recordei Camões:
“Aquela triste e leda madrugada...”
Invadia-me uma nostalgia profunda
que me impedia de ser totalmente feliz
naquele instante.
Naquele instante, sabia que ficavam ali
muitos pedaços de mim.
Já o último olhar:
o rio...
o rio era já só uma pequena franja
em jeito de espelho cada vez mais baço.
Manuel Maria
Metamorfoses
in Farol das Letras, 2006
No rio o fluir da poesia.
ResponderEliminarCadinho RoCo
As verdadeiras fotos, fiéis ao real, são aquelas que se apagam. O resto é mera arte.
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