"Se bem que cada um de nós seja responsável por ajudar o mundo, pode acontecer que, tentando impor as nossas ideias ou a nossa ajuda aos outros, acabemos por acrescentar ao caos. Muitas pessoas têm teorias sobre as necessidades do mundo. Alguns afirmam que o mundo tem necessidade de comunismo, outros que carece de democracia; para alguns, a tecnologia salvará o mundo, para outros destrui-lo-á. Os ensinamentos Shambhala não visam converter o mundo a uma nova teoria. A visão Shambhala parte da hipótese de nos ser necessário em primeiro lugar descobrir em nós mesmos o que podemos oferecer ao mundo antes de estabelecer uma sociedade iluminada. Então, para começar, devemos esforçar-nos por examinar a nossa própria experiência a fim de ver o que ela contém de útil para enobrecer a nossa existência e para ajudar os outros a fazerem o mesmo.
Se estivermos dispostos a lançar aí um olhar imparcial, veremos que, apesar de todos os nossos problemas e de toda a nossa confusão, apesar de todos os altos e baixos emocionais e psicológicos, há alguma coisa de intrinsecamente bom na nossa existência de seres humanos. A não ser que experimentemos este fundamento de bondade na nossa própria vida, não podemos pretender melhorar a vida dos outros. Se não somos senão seres miseráveis e infelizes, como poderíamos sequer imaginar uma sociedade iluminada e ainda mais realizá-la ?"
- Chögyam Trungpa, Shambhala - The Sacred Path of the Warrior (Shambhala - A Via Sagrada do Guerreiro)
Volto a este post pelo qual já tinha passado sem me demorar. Agora que melhor o leio, sempre me lembra ensinamentos comuns a muitas religiões, vias e caminhos.
ResponderEliminarÉ sempre em nós que construimos o que for de aperfeiçoar, de unir de semear: as pontes, os abismos, os jardins... Tudo isso que somos e mais ainda o que nos sonhamos... Para, generosamente, disso que em nós é distinto e único, nos liertarmos nos outros.
Poderá ser esse o contributo da nossa eterna impermanência, que pede para ser entregue ao mundo: o sinal da nossa busca.
O que aí formos de bem, será o que ao mundo doaremos, nas múltiplas formas e facetas de estar no mundo, e do que nele nos cumpre fazer...
Dar sinal dessa busca, pode ser a única coisa que podemos deixar ao mundo... se houver nisso que buscamos: bem, verdade e iluminação...
No resto, não interferimos, pois não sabemos...
Examinando a minha experiência pessoal e humana, faço a pergunta a mim mesma: O que posso dar ao mundo? Para além de uma data de escritos mal alinhavadas, uma vontade de me encontrar a sós comigo e com o Sem Nome, e a bondade de, nisso que me sonho de melhor, oferecer aos outros... Cumprir-me nessa busca. Nada mais...
Seguir as "minhas" regras. No respeito e na compaixão que me merecem todos os que peregrinam por cá, companheiros todos desta "viagem" ou regresso...
Não vejo nada mais que valha a pena!
Um abraço, Paulo
PS. Agradeço o post.
Errata: onde se lê "liertarmos", deve ler-se "libertarmos".
ResponderEliminarSim. Sem deixar de estar em silêncio algumas vezes para melhor receber e ouvir.
ResponderEliminarpaulo, quem é voce, para falar do comunismo, nao e voce o homem que diz que nao existem 'ismos', tenha dó.
ResponderEliminarsaudades do futuro é uma canção das 'trovante'?
ResponderEliminarBaal, ao que parece, anda com alguma sirrose(-ismo?)...
ResponderEliminarAté os deuses já estão doentes...
Que mundo....!
(Citar fará de nós, só por isso, subscritores implícitos do que citamos? Não creio, pois podemos muito bem querer citar contra nós mesmos...)
lapdrey, sirrose ou cirrose, bebe uns copos à saúde.
ResponderEliminarBaal, tenho dó da sua tresleitura, mas bebo todos os copos à sua saúde!
ResponderEliminar"Sirrose" ou "cirrose" (escolha, meu amigo, a grafia de mera convenção), por principio não bebo com quem não (re)conhece partilha nem comunhão.
ResponderEliminarMas, meu caro, sou incapaz de indiferença (que aqui poderia ser uma opção) e, menos ainda, como é óbvio, de "ódio" (o que aqui, como em toda a parte, não o será nunca)...
Um abraço, com um "sirriso"... ainda que sem "sirrose"...
Agostinho da Silva, sobre a Revolução:
ResponderEliminar"Há, talvez, duas espécies de revolução: uma é a de mudar o mundo, como tanto tem sido tentado, sempre com resultados muito aquém das levantadas esperanças, a outra a de mudar cada pessoa, já que as perspectivas da transformação oposta ou parecem muito exageradas, muito desmentidas pelos resultados no quotidiano, ou envolvem tais dificuldades ou tais riscos, mesmo vitoriosas, e sobretudo quando vitoriosas, que parece melhor tentar a alternativa. É isso o que diríamos da revolução pessoal que tem, no Ocidente, os exemplos de São Paulo ou São Francisco, no Oriente, e por exemplo também, o caso de Buda e de, quase em nosso tempo, Ramakrishna, que experimentou as três vias do hinduísmo, do cristianismo e do islão, nelas três atingindo suas metas. Quem sabe se não haveria ainda que trilhar novo caminho: o de, tomando toda a simplicidade, todo o despojamento, toda a disciplina, toda a dedicação do que foi citado - e bem sabendo de nossas inferioridades e limitações - ninguém se retirar do mundo, como muitos deles fizeram, ninguém se recolher a convento algum, mas no século permanecer, com bom humor, paciência, entusiasmo, fé no triunfo e absoluta confiança nas qualidades do homem, quaisquer que sejam as aparências. Combater sem agressividade, esperar sem se tornar passivo, acreditar haver saída para tudo, conservar-se na marcha geral, embora escolhendo o seu próprio caminho e jamais esquecendo seu rumo, abertos sempre a novas ideias e acolhedores de todos os estimulos. Sem internas quebras, navegar o que parece impossivel, sem desânimo, adiantar a tarefa sem temer o paradoxo, dar toda a eternidade à corrida do tempo, sem pressa nunca cessando a marcha. E ver em todos os companheiros não um grupo que se seguia, o que logo faz surgir hierarquias, mas o nosso amparo, o nosso incitamento: Mestres, afinal, não discipulos."