Não é necessário que saias de casa. Fica à mesa e escuta. Não escutes sequer, espera apenas. Não esperes sequer, está completamente quieto e só. O mundo oferecer-se-te-á para que seja desmascarado, não tem outra escolha, serpeará perante ti em êxtase.
- Franz Kafka, Aforismos, 109, edição, apresentação e tradução de Álvaro Gonçalves, Lisboa, Assírio & Alvim, 2008, p.133 [tradução ligeiramente modificada].
Não saio de casa.
ResponderEliminarFico à mesa. Escuto.
Não escuto. Espero.
Não espero. Estou quieta e só.
O mundo desmascara-se. O mundo, como eu(?), não tem escolha. Ele e eu desmascaramo-nos e serpearemos em êxtase.
Somos um só. Eu (?) e o mundo.
Não saio do mundo, o mundo é uma das casas.
Não saio da mesa, o mundo é o banquete.
Não escuto, nem espero. O mundo é a escuta do além-mundo e do inesperado. São eles que se desmascaram. Afinal, sendo destes dois mundos, não estou só. Estou quase quieta e Kakfa é a companhia de eleição para este mundo e para o além-mundo. Esta tarde atravessarei a ponte musical de Praga com ele. Talvez, em êxtase, ele dite um aforismo para a nossa tristeza que é êxtase e eu encontre o caminho para o castelo.
Tarde feliz, Paulo.
Seita de quietistas: alumbrados, dejados, Miguel de Molinos, Mme de Guyon. Chegou a Praga, esta praga.
ResponderEliminarAquieta-te, Maria, e repousa no centro do nada, como dizia Miguel de Molinos. Vais ver que é bom e liberta de teias mentais.
ResponderEliminarLembrou-me uma música dos Waterboys:
ResponderEliminarI spoke about wings
You just flew
I wondered, I guessed, and I tried
You just knew
I sighed
But you swooned
I saw the crescent
You saw the whole of the moon!
The whole of the moon!
Estou tão quieto que me vou calar...
ResponderEliminarSaúdo a infinita profundidade deste aforismo. O que mascara o mundo é a agitação das nossas faculdades, que encobrem a realidade nos véus da percepção condicionada pelas etiquetas conceptuais e a decorrente atracção e repulsa.
ResponderEliminarAquietemo-nos.
A velha sabedoria do não-agir. Também em Lao-Tsé o sábio nada faz e por isso o mundo gira espontaneamente em seu torno.
ResponderEliminarO rosto olha-se no rosto que o envolve. E nesse olhar-se
ResponderEliminarolhando, o rosto é confronto. Dobra-se, pois, sobre si,
questiona o sentido do outro rosto, essa secreta margem
de melancolia. Diante de si, o rosto é apenas um indizível
abandono. Até que um outro rosto o inaugura,
o resgata da morte. Aí, nesse momento em que a palavra
nasce, o olhar incendeia-se, sobe desamparado à boca,
rasga-se. E, rasgando-se, dá-se.
Cecília Meireles
Pois é Anónimo, parece que ninguém ligava ao retrato! Para estes Amigos das letras, a fotografia não passa de ilustração. Referem tudo como manda a tradição da linhagem dos eruditos: autor, editora, ano e página. Tudo correcto e direitinho, mas não referem o autor do retrato que utilizam para ilustrar o texto. Isto é assim por vezes, até nas obras literárias que por aí circulam. A fotografia é coisa menor! O texto é que conta, porque a fotografia é uma imagem técnica, um decalque, um instantâneo, que todos pode fazer. Desculpe Professor. É de facto uma crítica directa com alguma ironia, mas amiga. Daquela que tem dois amores (embora não perceba de nenhum deles): as palavras e as imagens, e que considera que ambas devem interagir numa relação amante, não subserviente.
ResponderEliminarUm abraço amigo. Não leve a mal a frontalidade. Também não pode ser só elogios!!! (eheh!)
Pois é Anónimo, parece que ninguém ligava ao retrato! Para estes Amigos das letras, a fotografia não passa de ilustração. Referem tudo como manda a tradição da linhagem dos eruditos: autor, editora, ano e página. Tudo correcto e direitinho, mas não referem o autor do retrato que utilizam para ilustrar o texto. Isto é assim por vezes, até nas obras literárias que por aí circulam. A fotografia é coisa menor! O texto é que conta, porque a fotografia é uma imagem técnica, um decalque, um instantâneo, que todos pode fazer. Desculpe Professor. É de facto uma crítica directa com alguma ironia, mas amiga. Daquela que tem dois amores (embora não perceba de nenhum deles): as palavras e as imagens, e que considera que ambas devem interagir numa relação amante, não subserviente.
ResponderEliminarUm abraço amigo. Não leve a mal a frontalidade. Também não pode ser só elogios!!! (eheh!)
Assim, sim! O recado foi bem dado!
ResponderEliminarBrinco... os duplicados acontecem! Até nas fotografias!!
Tornaste o Observador imutável, pois a não acção é por si, a acção. Como a criação é por si, o Criador.
ResponderEliminarPaz
Grato pela partilha