sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

I'll Read You A Story



De um palco para um palco

à Isabel

11 comentários:

  1. O Vergílio não se importará que dentro de uma caixa, coloque outra caixa, e nela, uma bailarina de música a ler, para a Isabel, a história de uma "bailarina cega":

    ...A menina nesse dia não dormiu. Haviam de dizer-lhe que, quando chegasse a Aurora, os olhos se lhe fixariam na luz que sempre nova lhe adormeceria desde esse não tempo no colo de onde viera. Entre essa memória e a outra caixa da memória, Quignard entrou nesse instante que antes a menina ouvira... Antes do mistério de haver...
    Era o entardecer, quando M. lhe trouxera a caixa que. aberta, era o tule de uma bailarina cega que presa à lentidão do que a figura real nos pode tocar...toca a música de dormir e de sonhar: a música e o canto...

    No silêncio, as luzes que em foco o palco acalentavam de dourado círculo... eram a saudade do sol... No silêncio eram os passos lentos da bailarina; a suave lentidão dos gestos e da música dos sorrisos; no silêncio do gesto que silenciosamente seguia o outro gesto que surgia por dentro das palavras brancas, do tule alvo da bailarina-menina...

    O coração da bailarina era um cofre fechado, uma caixa de música para guardar o silêncio.

    A menina não dormiu, nesse dia. E dentro da caixa cresceu uma asa branca e uma luz que a acompanhava. Quando ela saltou para o "palco" a música recomeçava uma outra vez a tocar... e parecia que sempre se tinha ouvido esse som que se ouvia...

    Amo as caixas de música com uma bailarina a girar devagar, para saborear o movimento do tule a esvoaçar mais devagar; à espera de um olhar.
    E isso era também o tempo e um sorriso, um acenar de seda, adormecida no cisne do seu dançar...

    Para a Isabel, dentro de uma caixa de música que trouxe outra caixa de música, que guarda outra caixa de música cheia de bailarinas a girar; e bailarinos também, e músicos e filósofos, poetas e serpentes. Assim é a Serpente. O que quisermos que seja, o que tem sido sempre...


    Um abraço, Isabel, uma pena soprada...

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  2. Que ser é este, Vergilio, que mais parece falar-nos quando aparentemente ausente, do que já nos tanto falava, quando aqui se nos dava?

    Na verdade,... o que é presença?
    E que é estar presente?

    (Já a Saudade nos tanto ungiu aqui duma tal, sagrada, convocação ...)


    Gratidão infinda, Vergilio!
    Estas imagens - mal tu sabes - falam-me de mil e tantas maneiras.

    Falam por minha filha bailarina, de ser e profissão, e anjo de "delicar" movência - como eu entendo, meu amigo, esse teu dedicar: "De um palco para um palco!"

    Fala de mim, ai, que do êxtase da imobilidade meramente derradeira me "vejo" cada vez mais na primordial dança do imóvel.
    O poeta, extático na dança de Shiva...?

    Finalmente, fala de Isabel, nossa amiga, que nos visita de tão inesperadas, quão misteriosas maneiras...

    Repito: que ser é este - Vergilio, Saudades, Paulo, Luiza, Ana, Madalena, Rui e todos os outros? - que nos convoca a sermos em tal paradoxia?...

    E que somos nós?
    Seres de ausência? De ausências?

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  3. Não sei… não sei, não sei, não sei…
    E estou a tentar responder a uma única pergunta, que ser é este?
    Não sei que ser é este… acção. Só acção. Movimento. Cor. Música.
    Não sei. Não é resposta, eu sei. Eu sei que não é resposta.
    Eu sei, eu sei, eu sei, sê-lo-ei se o souber… Mas de que vale não saber? Não sei.
    Sei que não em nada. Sei que sim que não sei. Sei que vale tudo. Tudo sim, tudo não.
    Vou-me esgotar na minha ignorância agora.
    Não sei. Sei que me pede para que saiba, que me pergunta, que me venda se lhe respondo, se responda, se não sei que resposta será.
    Que ser é este? Quem, que, qual?
    Não querer responder-te, não sei responder-vos… responder-me, sem saber porquê.
    Não sei se quero, se não sei se não quero…
    É esta a minha agonia? É esta a minha dor? Não sei em que me pergunto se é, se não sei que dor é? Não querer dizer que sei? Mas não sei.
    E quero fugir dessa acção, do movimento, da voz, do tempo. Mas não sei.
    E quero estar e ser parte viva desse ser. Sei se quero, se me quer, se sou ou não aquele que sabe ou se quer saber que pergunta se não sabe. Não sei sê-lo. Jamais. Jamais ser, para todo o ser-se. Para todo o não ser.
    Mas porquê? Não sei. Responde-me por quê… respondo-me porquê. Por quê responder… por tudo, por nada, por tudo-nada, num sempre em negação.
    Responde-te rapaz! Eu sei que queres dizer que sabes! Mas não sabes.
    É esta, é este… não quero adjectivos, não quero, não quero nada. Para que peço? Por que preço? Porquê esta prece… Não sei. E sei. Sei… não quero nada. Nada. Nada!
    Que ser é este ser?
    Que ser é este ser-se? Mais que imperfeito, sê-lo-ia, ser-se-ia, em condição, em futuro, em presente, em passado, onde ser-se é estar para lá do Tempo!
    Mas não sei. Ser-me, ser-te, sede de saber quem, em quem pode este ser ser. E dá erro. Não posso ser duas vezes. Posso não ser duas vezes, por uma vez que diga que sei quantas posso não ser. Mais que uma, mais ninguém, mais que nada, menos que saiba se sei… se não sei ser dois tudo no mesmo nada, e tudo, e voz interior, não sei.
    Que tormenta, que espasmo, que inércia é esta?
    Fui, sou, serei. Ser. Não sei, não sou, e somos. Não sei se somos. Não sei se sei se sou. Tudo assim me faz sentido. Não se não somos.
    Sabes? Não sei! Já me disse! Não sabes.
    Quem sou se não sei que sou, o que sou e ao que soa o ser que não que é...
    Quem és se não sei que és. O que és… quem és que sou eu? Não sou. Não sei.
    Quem sou se não sei se sou. Se fui. Se serei. Se algum dia responderei.
    Não tem brilho nenhum. Não tenho. Não sei se tenho. Sei que não se tenho.
    Muito menos brio.
    Não sei o que estou a escrever.
    Não sei, não sei, não sei!
    Basta… basta… basta!!

    Mas não estou aos gritos, sei que não estou a gritar… em movimento, em cor, em música que não sei se som. Sem voz para todo o mundo, calado para ninguém.
    Estou aqui, a escrever, sereno, em paz, fingindo que sou eu, e que me conheço.
    Fingindo que não sei se finjo quando digo que sei que não sou, se sou eu, ou não.
    Sei que é mais forte do que eu. E sim, sei que não.

    Sem voz para todo o mundo, calado para ninguém, e nesta ausência ser... Apenas isto retiro de uma visão.

    Mas esta não é a minha resposta e seguramente não é resposta também.

    Não sei que ser será para que a resposta se possa dar.

    "Esgotava-se o vinho e quando não me bebia desejava ser uva, pronta a ser esmagada. Sê-lo. E porque não?... É tão fácil ser-se como desejá-lo. Ainda nessa distância, em que chego de perto e parte, ansiava ou desejo, imaginava-me sem imaginação. E quando encontrava, não achava nada, nem uma simples graínha.
    Era o que a mim parecia ser eu..."

    Não arrisco publicar esta mensagem; talvez ainda hoje a apague, tal como fiz ontem, quando essa pergunta me elevou.

    Um abraço a todos, um abraço a ti.

    PS - Eu sei que nada quer dizer esta visão, peço-vos um sincero perdoar por isso.

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  4. Sei bem, Vergílio.. perdermo-nos nas palavras, nelas metrgulharmos e afogar-mo-nos dessa ausência: consumindo-nos nelas. Matarmos nelas a Saudade, para nos libertarmos e em infinito calarmos a fala, para deixar entrar o silêncio que leva e traz, Isabel, a dos gestos lentos que nos lê escuta em Silêncio.



    Um abraço e um aceno destes nenhuns lugares...

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  5. Quem é o ser?
    Que mais pode ele ser senão o ser que é.

    E para sabê-lo, é só sê-lo.

    «E entra a Saudade... Fiquei
    Como assombrado e sem voz!
    Sinto-a melhor, que senti-la
    é vê-la, dentro de nós.»
    Pascoaes, 'Terra Proibida'

    Sentir é ver para dentro, pela «visão que a alma tem», e vê-la assim... é Vivê-la, de novo ser o que éramos, o que seremos.

    Um beijo, Vergílio.

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  6. Anita,
    Resposta tautológica ou não é resposta ou é A resposta: depende apenas de como se pergunta a resposta!
    Caso contrário, é resposta à procura da pergunta.

    Vergilio,
    Se eu quisesse ser "ácido", diria (digo na mesma, não é?) que me parece, meu amigo, que deves ter sido alvo de abdução, e que te implantaram algum malvado dum chip avariado.
    Ou será isso um "Lapdrey Effect"?
    (A Anita, agora, é mais o "Pascoaes Effect", mas esse é mais inócuo!)

    Brinco contigo (e com a Anita!), evidente e saudavelmente!
    Apenas me parece que, no "ponto" de escrita em que te colocas, não tens como sair desse labirinto.

    A minha pergunta ("quem é este ser?", etc.) dirigia-se a alhures de onde, me parece, foi entendida.
    Melhor assim, pois, de tal sorte, não tenho de haver-me com a pardalada do costume...

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  7. Amigo Lapdrey,

    e que valente abdução!
    Alien Abduction!! (risos)

    A incursão nesses labirintos permitem-me, de quando em vez, encontrar o que não procuro, como mero exercício nada publicável.

    Imaginemos a tempestade.
    E dela o que advém da destruição.
    Serão esses destroços que levados pela falsa maré, se espraiam à costa de um alvo litoral.

    Como de costume, lá estou eu... a coleccionar restos e sobras do grande navio, pela fúria do mar abalroado.

    Uma coisa é certa, permaneço, por força de existir, ao longo da luz desta praia.

    Lapdrey effect seja! :)
    E percebi claramente a pergunta.

    Ficaria mais enriquecido se alguém mais se juntasse para a recolha de mais e mais destroços, por forma a que no fim, destroços reunidos, pudesse (como é usual em arqueologia) conceber, estudar, uma suposta ideia desse navio há muito naufragado. Ou não...

    Esse alhures de onde soa a vasto oceano... e eu, teimei em percebê-lo como navio... perceba-se aqui o problema da personificação.

    Bem, amigo, na medida do possível bom carnaval, melhor... bom feriado! que se avista e subsquente ponte!

    Is anybody in?

    Um abraço irmão!

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  8. Quem disse tudo simples e rápido foi a boa da Maria do Céu.

    Que nome, meu Deus! Que coisa de invejar, como timbre e sinete de vida!
    Até me imagino já, "roído de invejidade", baptizado Manuel do Céu! (risos)

    Sem ofensa alguma, cara amiga! Não ligue! É apenas esta minha relação fatal (e respectivas ralações) com as pobres palavras, coitadas, que assim me aturam, que as massacro e torturo eu, infindo e incansável!


    Vergilio, irmão!

    Isso de destroços e de escombros entendo, mais do que bem...

    Em miúdo, usava deambular eu por certos barracões portuários e suas redondezas povoadas de barcos coxos, mancos e zarolhos.

    Que viagens imaginárias eu ali não fazia, só de tocar, só de cheirar, só de sentar-me à beira de tais cadáveres viageiros!

    Há um fascínio em barcos abandonados, como não o há em automóveis acidentados ou aviões decrépitos: estes são duplamente mortos, aqueles, os barcos, renascem em nós, que neles revivemos futuros passados...

    Abraço forte!

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