Para construir um navio, quantos litros de sal sobre a folha aberta dos dias são necessários para que o mar venha colher à mão do tempo o Amor que lhe sabe, em Saudade. Para a impermanência das horas fomos feitos. Na errância de tudo fazer recolher para o fundo, para lá do navio; para trás do mar. Para cada lado do mar, cruzando as direcções, o corpo escreve o suave gesto de um aceno: a Norte de onde me chegam os pássaros e o coração da Primavera é uma frágil flor no peito do vestido; um aceno ao Sul, ao canto-chão, às vozes que do ventre da noite e da terra desbravam a lonjura em horizontes largos como braços. A todos os lados da impermanência sem dimensão de tudo. A impermanência da dança; a impermanência de nada, a de tudo. Tudo se despedindo de tudo; tudo a ser de outro modo em tudo... A impermanência do amor - tudo como não foi - tudo levado para trás do grande mar.
E o gesto de imitar o vento levantava a brisa nos dedos: o coração virado a oriente, o espírito no deserto, a esperança na montanha. O riso da impermanência do amor e de tudo! A preparação, o separar dos objectos; o acender o fogo; a espera, a eterna espera, em ouro imaginada... o silêncio que se quer a ampliar o silêncio e a dilatar o tempo, a moldar o tempo...
O que fica de tudo o que passa? Nada fica do que nada passou... Continuamos até onde nos levar o que permanente permanece na impermanência de tudo.
Foi preciso ao poema audaciar-se para abrir todas as páginas do caderno de escrever. Impermanecer demorado sob a forma movente dos olhos, reflexo parado do amor que se vai, entre pingos de chuva e memória de beijos até à porta falsa do esquecimento. Ali onde se guarda o que permanece à superfície das águas, como rosas de guardar. Era preciso ao poema transmudar-se, embarcar, naufragar em uma praia de seixos claros e rir até não poder mais do seu mesmo sorriso; Rir de dor do Amor que mal chega ao seu acenar, logo, logo, emudece. Impermanente e errante, como quero que seja o beijo que não demos em nenhum jardim... Fica um gosto de saudade que morre em cada poema tecido ele mesmo da sua impermanência. Da sua substância de pulverizar mundos.
Um dia, construiremos um navio singular, feito de terra e de mar e, quem quizesse lá ficar... tinha de andar léguas em seu pensar....E, bebido o ar e o som, pudéssemos dizer que a sinfonia foi tocada altíssima em vozes colhidas e nascidas da divina colheita do amor. A vide, Iabel, a vide!
Trazei-me o Outono já que o Inverno tarda, para que volte ao que em teia de seu mesmo tear, o manto teça, o manto do seu ser de dor e de saudade. Tomai comigo um cálice, amigos! Que este é o nectar sagrado dos deuses, o perfume enganador dos sentidos, os cantos alegríssimos do vinho. Banquete e mesa posta, em nós, sentados, como se comungássemos dum mesmo dolorido gesto de nascer. Banquete rico de nós, entregues ao pensamento no Egipto do ser. Quem se não sonha por um dia: Cleópetra, Inês, Beatriz, Isolda, Penélope, Isabel ou Saudades? Quem não se sonha Pitonisa, Oráculo, Cálice, Cruz e Rosa e Cristo? Buda ou o Grande Grande Vazio, ou o SILÊNCIO que por ora é um eco. Desde o navio até ao sal do dia, serei a coroa e o anel. A espada está onde o punho a deixou, suspensa da vontade e do merecimento. Sabe-se que terá que ser puro, corajoso e fiel. Por isso a impermanência do Amor sempre será Cálice cheio de quem bebe a sua mesma impermanência. Um brinde ao Amor, meus amigos!
E o gesto de imitar o vento levantava a brisa nos dedos: o coração virado a oriente, o espírito no deserto, a esperança na montanha. O riso da impermanência do amor e de tudo! A preparação, o separar dos objectos; o acender o fogo; a espera, a eterna espera, em ouro imaginada... o silêncio que se quer a ampliar o silêncio e a dilatar o tempo, a moldar o tempo...
O que fica de tudo o que passa? Nada fica do que nada passou... Continuamos até onde nos levar o que permanente permanece na impermanência de tudo.
Foi preciso ao poema audaciar-se para abrir todas as páginas do caderno de escrever. Impermanecer demorado sob a forma movente dos olhos, reflexo parado do amor que se vai, entre pingos de chuva e memória de beijos até à porta falsa do esquecimento. Ali onde se guarda o que permanece à superfície das águas, como rosas de guardar. Era preciso ao poema transmudar-se, embarcar, naufragar em uma praia de seixos claros e rir até não poder mais do seu mesmo sorriso; Rir de dor do Amor que mal chega ao seu acenar, logo, logo, emudece. Impermanente e errante, como quero que seja o beijo que não demos em nenhum jardim... Fica um gosto de saudade que morre em cada poema tecido ele mesmo da sua impermanência. Da sua substância de pulverizar mundos.
Um dia, construiremos um navio singular, feito de terra e de mar e, quem quizesse lá ficar... tinha de andar léguas em seu pensar....E, bebido o ar e o som, pudéssemos dizer que a sinfonia foi tocada altíssima em vozes colhidas e nascidas da divina colheita do amor. A vide, Iabel, a vide!
Trazei-me o Outono já que o Inverno tarda, para que volte ao que em teia de seu mesmo tear, o manto teça, o manto do seu ser de dor e de saudade. Tomai comigo um cálice, amigos! Que este é o nectar sagrado dos deuses, o perfume enganador dos sentidos, os cantos alegríssimos do vinho. Banquete e mesa posta, em nós, sentados, como se comungássemos dum mesmo dolorido gesto de nascer. Banquete rico de nós, entregues ao pensamento no Egipto do ser. Quem se não sonha por um dia: Cleópetra, Inês, Beatriz, Isolda, Penélope, Isabel ou Saudades? Quem não se sonha Pitonisa, Oráculo, Cálice, Cruz e Rosa e Cristo? Buda ou o Grande Grande Vazio, ou o SILÊNCIO que por ora é um eco. Desde o navio até ao sal do dia, serei a coroa e o anel. A espada está onde o punho a deixou, suspensa da vontade e do merecimento. Sabe-se que terá que ser puro, corajoso e fiel. Por isso a impermanência do Amor sempre será Cálice cheio de quem bebe a sua mesma impermanência. Um brinde ao Amor, meus amigos!
Sonhamos o que somos, sonhamos o que ainda não somos, porque antes há a impermanência de nós mesmos. Como a vide rebentamos em excesso, festa, embriaguez, mas as mais das vezes somos vide e Inverno. Somos a taça vazia e à espera do SILÊNCIO que é eco. Se brindo consigo ao Amor? Até ao que o não é e aos que ainda ou não amo, brindo! Tudo quanto é merece o louvor dos seus cantos em poemas ou narrativas que são poemas transmutados. Um sorriso do tamanho do mundo.
ResponderEliminarBrindo de Amor, Saudades,
ResponderEliminare ao endireitamento da Folha.
"endireitamento" desnecessário. basta um toque para que se erga, desde que haja "merecimento"
ResponderEliminar"Um dia, construiremos um navio singular, feito de terra e de mar e, quem quizesse lá ficar... tinha de andar léguas em seu pensar....E, bebido o ar e o som, pudéssemos dizer que a sinfonia foi tocada altíssima em vozes colhidas e nascidas da divina colheita do amor."
ResponderEliminarE, nesse mar, ver-vos-ei passar a todos e a todos vou acenar...
Acaso haja quem, por momentos impermanentes, à janela redonda desse navio espreite, à procura de um canto, voz de Sereia* disfarçada de voz de onda, com agudos e sustenidos e bemóis da cor que o céu tiver nesse dia, em pleno alto mar de maresia
Gosto destes Devaneios, Saudades!
Saúde!
ResponderEliminarDevaneando em Saudades, chego à taça de beber que erguida seja o nosso cálice cheio de quanto de pleno e de vazio for em alma de brindar. Amor sempre se erguerá em espada e pena, para cantar-nos humanos e saudáveis em nossas lágrimas de alegria triste, de tristeza alegre, ausência plena; presença vazia...
ResponderEliminarQue a Folha em gume seja o que for de cortar ou de sarar. A pena o escreverá se Amor quiser...
Grata pelas vossas palavras,
Saudades
impermanência, ou felizmente imanência?
ResponderEliminarPois baal, será o paradoxo da imanência transcendida...
ResponderEliminarImpermanência eterna...
Senhor, devaneio nesta saudade divinamente terrena...
Brinde ao Amor e à Saudades e às saudades de Amor e ao Amor da saudade!
ResponderEliminarObrigada, Tamborim, por brindares comigo ao Amor e a todos os Amores: aos Amores, então!
ResponderEliminarO que seria de nós sem o Amor? Toda a ciência vâ... toda a arte inútil... todo o Silêncio sem profundidade, toda a plenitude incompleta...todo o cantar de amigo, amargo...Que amor não se engane...
Saúde!
Permitam-me que brinde convosco.
ResponderEliminarMadalena,
ResponderEliminarAinda há dias tinha perguntado a mim mesma, "Que será feito da Madalena?" E a Madalena trouxe a sua casa e nela nos encontrámos, porque somos a Casa, também e o sonho dela... E para brindar ao Amor somos sempre bem vindos. Haverá sempre um cálice simples que o leve aos lábios. Fico contente que tenhas vindo, porque os teus ecos me são tão familiares, que às vezes me confunde o espírito (?) Não sei porquê... Saberei.