Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
“Sulcos de mistério” ... de “ praias mutáveis”
XXXI
Sulcos de mistério conduzem-nos o olhar
para um sítio onde o ar embala a luz mais pura.
Quando dentro da carne tudo soa a pavor
e a razão nos foge e o coração hesita,
gostaríamos de erguer aquele estandarte
que fala ao vento duma pátria segura.
Encerrados na abóbada do espaço, detemos o olhar.
Nenhuma rota nos espera. Então, demasiado tarde,
compreenderemos que os vales do azul celeste se transpõem
com o olhar afeiçoado a desvendar o oráculo
que ao fundo do coração nos mostra o caminho duma estrela...
Porém a mente rebelde suspeita da miragem;
e nas suas lágrimas se afogam as palavras
que tornariam transparente o obscuro véu.
XXX
A procura é fugir de nós próprios:
Ser canção e escapar da garganta
para nos fundirmos com os cantos alheios...
Estar em todas as rotas,
eternos cata-ventos saudosos
de praias mutáveis.
Félix Cucurull (1919 -1996)
Dois poemas da série “Os Outros Mundos” (“Els altres mons”) in “Vida Terrena”, Editora Ulisseia, Lisboa, 1966, págs. 65 e 63.
Poema conversado, para Lapdrey:
ResponderEliminarE nessas areias mutáveis
Ser a voz do deserto!
Nenhum mistério é tão limpo
Como o grão do silêncio que aproxima
O ar que corre por dentro da palavra muda.
Nenhum de nós acende o lume
Que prometeu rosas de mudar,
Lírios cantantes, pedras de rolar.
Nenhum oráculo se ouve
Na distância do verbo
Escura a pedra escuta
os sons que hão-de mudar-nos
em rio corrente ou ponte
em invertida imagem
O espelho nos espera.
(grata pelas palavras...)
"Na praia dos sulcos: o mutável reverso"
ResponderEliminar(em Saudades, a Cucurull)
Enes sasare iasmut ave is
Se ravo zdode sert o!
Nen hummi ster ioe taoli mpo
Co moogra odos ilenc ioqu eapr oxi ma
Oar quecor reporden trod apal avramu da.
Nen humdeno sacen deol ume
Quep rom e teuros asdemud ar,
Li rioscan tant espe drasde rol ar
Nen hu morac ulose ou ve
Nadi stanc iadov er bo
E scur aap edraesc uta
osson squeha odem udarn os
emri ocor ren teo up onte
emin ve rtidai mag em
Oes pel hon osesp era.
Do nisdef rolgu il hade
Sempre surpreendente, meu caro Lapdrey! (Donis de Frol Guilhade)
ResponderEliminarS au da des d of utu r o
O r utu fo d sed ad ua S
:)
enquanto brincam o mundo sofre
ResponderEliminar!,
ResponderEliminarOu o seu avesso... Quiçá?!
Snif!...snif!
Caro Excla-mudo,
ResponderEliminarO mundo sofre porque brincamos?
Ou brincamos, para que não soframos?
Ou brincamos , porque brincar ao "jogo do mundo" (vide o mais recente livro de Paulo Borges) é a melhor maneira de levar a sério isto a que chamamos mundo?
Aliás, só podemos estar a brincar se levarmos a sério o mundo que temos!
Bi-aliás: nem o mundo nos leva a sério!
É por isso que o caso é muito sério, isto é, é de rir.
Riamos então, à séria!
Ah, e de caminho, aproveitamos e .... exclamudamo-nos!
E, assim, exclamudamos o mundo também!
!L!a!p!d!r!e!y!
(eu cá já comecei a exclamudar-me!)
Entre tanta exclamudança
ResponderEliminarNem sei mesmo o que dizer
Ou o mundo sofre o mundo
Ou o mudo exclama a ser.
Melhor mundo é este jogo
Do jogador de risadas
Brinca o jogo, sai do fogo
Quem tem asas chamuscadas(?)
Entre tanta exclamação
Anda o mundo em desvario
Leva a sério, meu irmão,
Isto está exclamudo por um fio.
Exclamudemo-nos !S!A!U!D!A!D!E!S!
(Estou a começar a rir... agora não exclamo....
Porquê? Porque não quero... “prontos! (ora bolas! É difícil não exclamar!...)
Reticencio-me...
palavras e mais palavras
ResponderEliminarleva-as o vento que nelas sopra
se sopra
Lapdrey,
ResponderEliminarÉ precisamente isso, um Olhar Afeiçoado. What else could it be?
Agradeço-te a presença.
Por falar em "Outros Mundos" (e de tornar transparente o véu) ...
ResponderEliminar«Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo!» Álvaro de Campos
Mais, aqui:
http://multipessoa.net/labirinto/obra-publica/10
Belo poema.*
Esse caminho entre praias e alvos litorais...
ResponderEliminarObrigado Lapdrey.
Abraço-te... e entro no campo de não ter palavras para agradecer - e que agradecer é palavra (des)propositada - à tua entidade enquanto Pessoa.
Pessoa, que também o lembro, Pessoa que és.
O que dizer?:- Ao alto do monte desse campo!
Perceberás estas palavras, a seu tempo, mas como o meu amigo não tem BlogSpot :), não te enderecei o convite, ainda assim, endereço estas palavras de franca, verdadeira amizade.
Deixo outro poemazinho da senhora que disse muito e de uma só vez...
Admiração
Porquê tanto a uma só pessoa?
A esta e não a outra? E que faço eu aqui?
Num dia que dizem terça-feira? Em casa e não em ninho?
Com pele e não com escamas? Com cara e não folha?
Porquê pessoalmente só uma vez?
E logo na Terra? Junto a uma estrela pequena?
Depois de estar ausente tantas eras?
Para além de todos os tempos e algas?
Para lá do pólipo e da medusa?
E logo agora? Para o sangue e os ossos?
Só comigo em mim? Por que
não mais além ou a cem milhas daqui,
ou ontem ou há um século
sentada e olhando o canto escuro
- tal como de focinho erguido de repente
olha um que rosna e a que chamam cão?
Wislawa Szymborska
É verdade, ando a ler este Ente, que ainda connosco partilha o lugar dos vivos.