Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Quem não age vive morrendo
Quem não age vive morrendo Perde tudo e até a sua memória E quem assim vive não vivendo Será atropelado pela História.
Devorar-nos-á o tempo se dele nos não nutrirmos para em tudo nos consumarmos. Devorar-nos-á o tempo se dele nos não nutrirmos para tudo nos consumar. Devorar-nos-á o tempo se dele nos não nutrirmos para tudo consumarmos.
Perder tempo é morrer de véspera ao fim de cada dia. Perder o tempo é desaparecer antes mesmo de ter aparecido. Perder-se no tempo é resignar-se a ser labirinto de si às avessas. Perder-se o tempo é recusar a hora sem tempo, na irremediável desora de nos não cumprirmos.
Quem corre contra o tempo é sempre por ele o vencido. Quem é percorrido pelo tempo é por este o desprezado. Quem se percorre no tempo é de si o senhor e do tempo o irmão. Quem no tempo percorre o tempo que nele decorre há-de nisso encontrar disso o fio, fiel de tal balança: Balanço entre todo o desequilíbrio companheiro, no almejar do vórtice extático do repouso que se move por um espaço sem distância.
A História, a de todos, é, entre beleza e terror, o mútuo atropelo de todo o anterior dito.
A história, a de cada um, é o íntimo arrepio do tempo na mesma casa de que ele é o saudoso menos ausente.
Maria da Aurora, Subscrevo o que diz quanto ao silêncio e às palavras. O que sempre, creio, nos cabe fazer em nós (em cada um) é interpermutarmos todos os contrários que em nós estejam e que nos coloquem na perplexidade constante dum mundo que nos querem em tudo impingir como tendo um rosto maniqueu. Se o silêncio for o mar profundo de que as palavras estão embebidas, se um certo escutar nos permitir ter ouvidos para o que nos sussurra ao ouvido interior, no meio do silêncio - acredito que poderemos estar no meio da mais estridente algazarra e, todavia, ela nos não perturbar: o nosso sentir e sentido estarão ancorados no silêncio, e dele brotará o que nos fala em palavras indizíveis que e dá sentido a tudo quanto nos perpasse.
Caro Almada, Folgo em vê-lo ainda e sempre no seu "Recomeçar". Dourado no número, sempre, bem vejo. É mesmo coisa sua! Não o sabia, porém, leitor da "Ver": fico a saber. Quanto à acção, deixe-me citar-lhe a Bhagavad Gita:
"Não é abstendo-se das obras que o homem alcançará o não-agir, nem através da simples renúncia que ele chegará à perfeição" (III,4)
E, já agora, para reforçar isto bem, deixo-lhe também citação de um texto seu, meu caro Negreiros e bom Almada. Chama-se ele "Civilização e cultura" e está a págs 37 do vol V "Ensaios I", da edição das suas Obras Completas, Editorial Estampa, Lisboa, 1971. Vou citá-lo na íntegra por dois motivos: 1. por valer demais a pena fazê-lo, não apenas pelo que vem aqui e agora ao caso, mas pelo que vem ao caso agora e sempre. 2. porque me apetece. Posso?
Aqui vai disto, então:
"Uma mesa cheia de feijões. O gesto de os juntar num montão único. E o gesto de os separar, um por um do dito montão. O primeiro gesto é bem mais simples e pede menos tempo do que o segundo. Se em vez da mesa fosse um território, em lugar de feijões estariam pessoas. Juntar todas as pessoas num montão único é trabalho menos complicado do que o de personalizar cada uma delas. O primeiro gesto, o de reunir, aunar, tornar uno, todas as pessoas de um mesmo território, é o processo da CIVILIZAÇÃO. O do segundo gesto, o de personalizar cada ser que pertence a uma civilização é o processo da CULTURA. É mais difícil a passagem de civilização para cultura do que a formação da civilização. A civilização é um fenómeno "colectivo"(em itálico, no texto original). A cultura é um fenómeno "individual"(em itálico, no texto original). Não há cultura sem civilização, nem civilização que perdure sem cultura.
(Aqui há uma ilustração, cujo desenho representa uma balança, perfeitamente equilibrada com a civilização num dos pratos e a cultura no outro.)
FIM
Justaposição disto mesmo a Portugal: uma civilização sem cultura. As excepções, inclusive as geniais, não fazem senão confirmá-lo.
...
Pronto, meu caro "Almada Negreiros"! Quer-me cá parecer que gesto, ainda que seja de juntar ou reunir feijões ou pessoas, é sempre acção. Ou não será? Bolas, meu caro Almada! Estou assim a modos que perplexo: como vou mover o raio dos feijões sem acção... Deve ser "paranóia" minha, com certeza! Ando cá com uma "incontinência"... (desculpe-me o desabafo...) Abraço!
Obrigado, Lapdrey, por mostrar que erudição se concilia com ignorância: "Ver" é o título de minha obra maior e póstuma... Quanto ao resto, penso que sim, que neste caso a sua "acção" foi uma incontinência de paranóico... Pelo que aliás vejo, o meu amigo escreve e exibe-se muito e pondera pouco. Coisas...
Devorar-nos-á o tempo se dele nos não nutrirmos para em tudo nos consumarmos.
ResponderEliminarDevorar-nos-á o tempo se dele nos não nutrirmos para tudo nos consumar.
Devorar-nos-á o tempo se dele nos não nutrirmos para tudo consumarmos.
Perder tempo é morrer de véspera ao fim de cada dia.
Perder o tempo é desaparecer antes mesmo de ter aparecido.
Perder-se no tempo é resignar-se a ser labirinto de si às avessas.
Perder-se o tempo é recusar a hora sem tempo, na irremediável desora de nos não cumprirmos.
Quem corre contra o tempo é sempre por ele o vencido.
Quem é percorrido pelo tempo é por este o desprezado.
Quem se percorre no tempo é de si o senhor e do tempo o irmão.
Quem no tempo percorre o tempo que nele decorre há-de nisso encontrar disso o fio, fiel de tal balança:
Balanço entre todo o desequilíbrio companheiro, no almejar do vórtice extático do repouso que se move por um espaço sem distância.
A História, a de todos, é, entre beleza e terror, o mútuo atropelo de todo o anterior dito.
A história, a de cada um, é o íntimo arrepio do tempo na mesma casa de que ele é o saudoso menos ausente.
(Muito obrigado, JSL! Abraço!)
Como ser atropelado pelo atropelo?
ResponderEliminarÉ tentar, caro Interrogativo...
ResponderEliminarQuer tentar?
"...acção, essa incontinência de paranóicos" - "Ver"
ResponderEliminarCaro Lapdrey, adorei (rimei!)
ResponderEliminarDevorar-nos-ão as palavras enquanto o silêncio nos não desperte.
Estou num destes dias de descobrir um dicionário das palavras novas totais do silêncio.
A amiga anónima.
Maria da Aurora,
ResponderEliminarSubscrevo o que diz quanto ao silêncio e às palavras.
O que sempre, creio, nos cabe fazer em nós (em cada um) é interpermutarmos todos os contrários que em nós estejam e que nos coloquem na perplexidade constante dum mundo que nos querem em tudo impingir como tendo um rosto maniqueu.
Se o silêncio for o mar profundo de que as palavras estão embebidas, se um certo escutar nos permitir ter ouvidos para o que nos sussurra ao ouvido interior, no meio do silêncio - acredito que poderemos estar no meio da mais estridente algazarra e, todavia, ela nos não perturbar: o nosso sentir e sentido estarão ancorados no silêncio, e dele brotará o que nos fala em palavras indizíveis que e dá sentido a tudo quanto nos perpasse.
Caro Almada,
ResponderEliminarFolgo em vê-lo ainda e sempre no seu "Recomeçar".
Dourado no número, sempre, bem vejo. É mesmo coisa sua!
Não o sabia, porém, leitor da "Ver": fico a saber.
Quanto à acção, deixe-me citar-lhe a Bhagavad Gita:
"Não é abstendo-se das obras que o homem alcançará o não-agir, nem através da simples renúncia que ele chegará à perfeição" (III,4)
E, já agora, para reforçar isto bem, deixo-lhe também citação de um texto seu, meu caro Negreiros e bom Almada.
Chama-se ele "Civilização e cultura" e está a págs 37 do vol V "Ensaios I", da edição das suas Obras Completas, Editorial Estampa, Lisboa, 1971.
Vou citá-lo na íntegra por dois motivos:
1. por valer demais a pena fazê-lo, não apenas pelo que vem aqui e agora ao caso, mas pelo que vem ao caso agora e sempre.
2. porque me apetece. Posso?
Aqui vai disto, então:
"Uma mesa cheia de feijões.
O gesto de os juntar num montão único. E o gesto de os separar, um por um do dito montão.
O primeiro gesto é bem mais simples e pede menos tempo do que o segundo.
Se em vez da mesa fosse um território, em lugar de feijões estariam pessoas. Juntar todas as pessoas num montão único é trabalho menos complicado do que o de personalizar cada uma delas.
O primeiro gesto, o de reunir, aunar, tornar uno, todas as pessoas de um mesmo território, é o processo da CIVILIZAÇÃO.
O do segundo gesto, o de personalizar cada ser que pertence a uma civilização é o processo da CULTURA.
É mais difícil a passagem de civilização para cultura do que a formação da civilização.
A civilização é um fenómeno "colectivo"(em itálico, no texto original).
A cultura é um fenómeno "individual"(em itálico, no texto original).
Não há cultura sem civilização, nem civilização que perdure sem cultura.
(Aqui há uma ilustração, cujo desenho representa uma balança, perfeitamente equilibrada com a civilização num dos pratos e a cultura no outro.)
FIM
Justaposição disto mesmo a Portugal: uma civilização sem cultura.
As excepções, inclusive as geniais, não fazem senão confirmá-lo.
...
Pronto, meu caro "Almada Negreiros"!
Quer-me cá parecer que gesto, ainda que seja de juntar ou reunir feijões ou pessoas, é sempre acção. Ou não será?
Bolas, meu caro Almada! Estou assim a modos que perplexo: como vou mover o raio dos feijões sem acção...
Deve ser "paranóia" minha, com
certeza!
Ando cá com uma "incontinência"...
(desculpe-me o desabafo...)
Abraço!
quem age tem igual sorte
ResponderEliminarcom mais zelo ou menos zelo
mesmo fugindo da morte
ninguem escapa ao atropelo
não sei se sou demasiado pessimista. Derrotista?
O seu lindo poema poema não merecia
isto.
Sim.
ResponderEliminarCetas palavras são como o mar. Apelo de infinito.
Grata
Obrigado, Lapdrey, por mostrar que erudição se concilia com ignorância: "Ver" é o título de minha obra maior e póstuma... Quanto ao resto, penso que sim, que neste caso a sua "acção" foi uma incontinência de paranóico... Pelo que aliás vejo, o meu amigo escreve e exibe-se muito e pondera pouco. Coisas...
ResponderEliminarmt bom. obrigada.
ResponderEliminar