sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Quem não age vive morrendo

Quem não age vive morrendo
Perde tudo e até a sua memória
E quem assim vive não vivendo
Será atropelado pela História.

11 comentários:

  1. Devorar-nos-á o tempo se dele nos não nutrirmos para em tudo nos consumarmos.
    Devorar-nos-á o tempo se dele nos não nutrirmos para tudo nos consumar.
    Devorar-nos-á o tempo se dele nos não nutrirmos para tudo consumarmos.

    Perder tempo é morrer de véspera ao fim de cada dia.
    Perder o tempo é desaparecer antes mesmo de ter aparecido.
    Perder-se no tempo é resignar-se a ser labirinto de si às avessas.
    Perder-se o tempo é recusar a hora sem tempo, na irremediável desora de nos não cumprirmos.

    Quem corre contra o tempo é sempre por ele o vencido.
    Quem é percorrido pelo tempo é por este o desprezado.
    Quem se percorre no tempo é de si o senhor e do tempo o irmão.
    Quem no tempo percorre o tempo que nele decorre há-de nisso encontrar disso o fio, fiel de tal balança:
    Balanço entre todo o desequilíbrio companheiro, no almejar do vórtice extático do repouso que se move por um espaço sem distância.

    A História, a de todos, é, entre beleza e terror, o mútuo atropelo de todo o anterior dito.

    A história, a de cada um, é o íntimo arrepio do tempo na mesma casa de que ele é o saudoso menos ausente.


    (Muito obrigado, JSL! Abraço!)

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  2. Como ser atropelado pelo atropelo?

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  3. É tentar, caro Interrogativo...
    Quer tentar?

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  4. "...acção, essa incontinência de paranóicos" - "Ver"

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  5. Caro Lapdrey, adorei (rimei!)

    Devorar-nos-ão as palavras enquanto o silêncio nos não desperte.

    Estou num destes dias de descobrir um dicionário das palavras novas totais do silêncio.

    A amiga anónima.

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  6. Maria da Aurora,
    Subscrevo o que diz quanto ao silêncio e às palavras.
    O que sempre, creio, nos cabe fazer em nós (em cada um) é interpermutarmos todos os contrários que em nós estejam e que nos coloquem na perplexidade constante dum mundo que nos querem em tudo impingir como tendo um rosto maniqueu.
    Se o silêncio for o mar profundo de que as palavras estão embebidas, se um certo escutar nos permitir ter ouvidos para o que nos sussurra ao ouvido interior, no meio do silêncio - acredito que poderemos estar no meio da mais estridente algazarra e, todavia, ela nos não perturbar: o nosso sentir e sentido estarão ancorados no silêncio, e dele brotará o que nos fala em palavras indizíveis que e dá sentido a tudo quanto nos perpasse.

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  7. Caro Almada,
    Folgo em vê-lo ainda e sempre no seu "Recomeçar".
    Dourado no número, sempre, bem vejo. É mesmo coisa sua!
    Não o sabia, porém, leitor da "Ver": fico a saber.
    Quanto à acção, deixe-me citar-lhe a Bhagavad Gita:

    "Não é abstendo-se das obras que o homem alcançará o não-agir, nem através da simples renúncia que ele chegará à perfeição" (III,4)

    E, já agora, para reforçar isto bem, deixo-lhe também citação de um texto seu, meu caro Negreiros e bom Almada.
    Chama-se ele "Civilização e cultura" e está a págs 37 do vol V "Ensaios I", da edição das suas Obras Completas, Editorial Estampa, Lisboa, 1971.
    Vou citá-lo na íntegra por dois motivos:
    1. por valer demais a pena fazê-lo, não apenas pelo que vem aqui e agora ao caso, mas pelo que vem ao caso agora e sempre.
    2. porque me apetece. Posso?

    Aqui vai disto, então:

    "Uma mesa cheia de feijões.
    O gesto de os juntar num montão único. E o gesto de os separar, um por um do dito montão.
    O primeiro gesto é bem mais simples e pede menos tempo do que o segundo.
    Se em vez da mesa fosse um território, em lugar de feijões estariam pessoas. Juntar todas as pessoas num montão único é trabalho menos complicado do que o de personalizar cada uma delas.
    O primeiro gesto, o de reunir, aunar, tornar uno, todas as pessoas de um mesmo território, é o processo da CIVILIZAÇÃO.
    O do segundo gesto, o de personalizar cada ser que pertence a uma civilização é o processo da CULTURA.
    É mais difícil a passagem de civilização para cultura do que a formação da civilização.
    A civilização é um fenómeno "colectivo"(em itálico, no texto original).
    A cultura é um fenómeno "individual"(em itálico, no texto original).
    Não há cultura sem civilização, nem civilização que perdure sem cultura.

    (Aqui há uma ilustração, cujo desenho representa uma balança, perfeitamente equilibrada com a civilização num dos pratos e a cultura no outro.)

    FIM

    Justaposição disto mesmo a Portugal: uma civilização sem cultura.
    As excepções, inclusive as geniais, não fazem senão confirmá-lo.

    ...

    Pronto, meu caro "Almada Negreiros"!
    Quer-me cá parecer que gesto, ainda que seja de juntar ou reunir feijões ou pessoas, é sempre acção. Ou não será?
    Bolas, meu caro Almada! Estou assim a modos que perplexo: como vou mover o raio dos feijões sem acção...
    Deve ser "paranóia" minha, com
    certeza!
    Ando cá com uma "incontinência"...
    (desculpe-me o desabafo...)
    Abraço!

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  8. quem age tem igual sorte
    com mais zelo ou menos zelo
    mesmo fugindo da morte
    ninguem escapa ao atropelo

    não sei se sou demasiado pessimista. Derrotista?
    O seu lindo poema poema não merecia
    isto.

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  9. Sim.
    Cetas palavras são como o mar. Apelo de infinito.

    Grata

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  10. Obrigado, Lapdrey, por mostrar que erudição se concilia com ignorância: "Ver" é o título de minha obra maior e póstuma... Quanto ao resto, penso que sim, que neste caso a sua "acção" foi uma incontinência de paranóico... Pelo que aliás vejo, o meu amigo escreve e exibe-se muito e pondera pouco. Coisas...

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