sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A propósito dum comentário a despropósito dum descomentário a certo, digamos, poema dum certo Nobel, digamos que "português” talvez incerto


Não será de todo inútil comparar - com o que, para Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, seja o mais fundo sentido de escrever - aquilo que um tal de Nobel, glória provavelmente muito meramente fortuita, diz do “acto” (diz ele) de escrever.
Se não, vejamos:

Dificílimo acto é o de escrever, responsabilidade das maiores.(...) Basta pensar no extenuante trabalho que será dispor por ordem temporal os acontecimentos, primeiro este, depois aquele, ou, se tal mais convém às necessidades do efeito, o sucesso de hoje posto antes do episódio de ontem, e outras não menos arriscadas acrobacias(...)”

José Saramago, “A jangada de pedra


Escrevendo, cedo apenas a uma necessidade espiritual de revelação ou confissão. Cumpro uma lei da vida

Teixeira de Pascoaes, “São Jerónimo


À minha sensibilidade cada vez mais profunda, à minha consciência cada vez maior da terrível e religiosa missão que todo o homem de génio recebe de Deus com o seu génio, tudo quanto é futilidade, mera-arte, vai gradualmente soando cada vez mais a oco e repugnante. Pouco a pouco, mas seguramente, no divino cumprimento íntimo de uma evolução cujos fins me são ocultos, tenho vindo erguendo os meus propósitos e as minhas ambições cada vez mais à altura daquelas qualidades que recebi. Ter uma acção sobre a humanidade, contribuir com todo o poder do meu esforço para a civilização, vêm-se-me tornando os graves e pesados fins da minha vida. E, assim, fazer arte parece-me cada vez mais importante coisa, mais terrível missão – dever a cumprir arduamente, monasticamente, sem desviar os olhos do fim criador-de-civilização de toda a obra artística. E por isso o meu próprio conceito puramente estético da obra de arte subiu e dificultou-se; exijo agora de mim mesmo muito mais perfeição e elaboração cuidada. Fazer arte rapidamente, ainda que bem, parece-me pouco. Devo à missão que me sinto uma perfeição absoluta no realizado, uma seriedade integral no escrito”.

Fernando Pessoa, “Cartas de Fernando Pessoa a Armando Côrtes-Rodrigues”, citado por António Quadros, “Fernando Pessoa – A Obra e o Homem” vol. I, Editora Arcádia, Lisboa, 1981, pág. 146 e seg.

Qualquer coincidência é impura semelhança!

6 comentários:

  1. Lapdrago, assamaragey-te? Ou apessoas o pascoalar?

    Mas stou dacordar, of cursivo!

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  2. Este blogue tem muitos doidos fechados na mesma jaula... E alguns bem furiosos. O resultado é este.

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  3. Devias criar um blogue também pá. E quanto a hard feelings isso é que não pode ser.
    Lá muitos doidos diz que sim, que há. Talvez não estejam a arrebitar o suficiente. Ou talvez estejam apenas a trabalhar em ficção inútil. Quando o Oscar Wilde afirmou que toda a arte é, em si, inútil, só pode ser porque o gajo nunca estudou filosofia. Filosofia sim, é inútil em si. Arte é compaixão e pelo menos participa do que fica de fora da ficção. É o tipo de ficção útil.

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  4. Arte é compaixão!? Estás tonta ou quê? Há algum artista sensível a outra coisa senão à sua própria sensibilidade?

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  5. Hey, no name calling here, we're all adults as far as Im concerned. Sim, é compaixão. É o outrar-se constante. É interessante como se pode quase anular a identidade e esborratar a fronteira entre mim e o outro para criar alguém novo através da arte. You should learn how to read, man. Além disso o que é a sua própria sensibilidade? É só sensibilidade, não é uma única e exclusiva.

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  6. foto genial.
    um livro cosido? sabes de quem?
    (desculpa falar só da foto, não estou a ignorar o texto, que li atentamente e gostei imenso, mas estou a fazer uma tese sobre publicações de artista).
    obrigada

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