segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Os Mortos

Não há mortos que morram tanto como os nossos.
Se um daqueles que nos pertence morre sete
ou setenta vezes no coração,
de quem apenas ouvimos falar morre uma vez, na sua data,
e os que sempre viveram longe
morrem-nos metade ou um oitavo. E metade
de uma morte é quase nada, são casas
decimais no sofrimento. (Que digo? Milésimas, milésimas!)

(Gonçalo M. Tavares, in "1"/ Relógio D'Água Editores)

17 comentários:

  1. Só damos pela morte (e pela vida) do que julgamos pertencer-nos... O que temos por realidade depende daquilo a que nos apegamos e confundimos isso com o amor.

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  2. Morto está quem diz que há morte e vida.

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  3. Também acabaste de o dizer, pobre amigo "à queima-roupa"!

    Será que não há maneira de aprenderem a não caírem na própria armadilha que pretendem lançar a outros?

    Nem sei se chega a meter dó!
    Faz "semi-pena"... apenas...

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  4. De cada vez que recordamos alguém que partiu já do nosso olhar, concordo em que nos desafia então a ambígua (re-)visitação duma certa balança do lembrar e do esquecer.

    Tanto mais perdoaremos quem nos fez mal ou não fez bem, quanto menos na verdade injustiçarmos quem mais amámos, perdoando-lhe o quanto disso ele não careça, em lugar de nisso mesmo descortinarmos a grandeza de ter ser assim, e até quanto o mal que nos hajam feito pode alfim bem ter-nos feito.

    Deste modo, tal balança de contas atrasadas torna-se vã e, desde logo, mais e mais inútil de manter.

    Grato, cara Liliana, pelo excelente "pretexto" de dizê-lo.

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  5. Assinalar a armadilha não é cair nela...

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  6. Pois "não"!
    É estar nela (nem que seja com os olhos).
    Tolo!

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  7. Nada mais desvirginante que tais perdas repetidamente ecoadas. Belíssimo texto Liliana.

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  8. O Lapdrey por vezes precipita-se completamente abaixo de si mesmo...

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  9. anónimo,
    O Lapdrey é uma lança afiada que ajuda-nos a ver para além dos nossos limites. Usemos pois a sua ironia e sarcasmo ácidos como um catalisador para, por exemplo, treinar a paciência, combater o nosso orgulho, conhecer novas perspectivas daquilo que pensamos como certo. E com este comentário pobre espero que ele lance mais farpas para eu progredir.
    saúde a todos:)

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  10. Foi, caro Antónimo, perdão, Anónimo?
    Que tal ter a delicadeza de explicar o lapdreíco "precipitamento" (falo sem ironia, apenas com curioso cuidado).

    Sendo o caso (que é um caso!), vou ter de ir buscar-me a mim mesmo lá abaixo: tenho é de ir com o nosso bom amigo Queimax, perdão, "Queima-roupa" e levo-o a si também, meu atencioso amigónimo: dois virgílios para um dantrey!

    É bom ter amigos assim (e assado também, não sou esquisito)que nos alertem para os precipitamentos calamitosos.

    Melhores que aqueloutros que vejam o eventual esbananamento patinal e nada digam ou façam.

    Aguardo, quietinho (não vá haver por aí mais cascas molinhas da dita).


    N.B. Caro I. Perlmam, haja alguém ao menos que me compreende a desditosa sina.
    O lugar está sempre à disposição, para quem queira canditatar-se a bobo real desta corte sem rei.

    Longos anos, pois, ao blóguico senhor nosso príncipe sem pavor, e seus pares e ímpares palmeirins!

    Hip Hip Hurrah!

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  11. Perlman, mas não se poderá dizer isso mesmo de todos e de tudo o que nos rodeia!? E não será isso afinal menos verdadeiro acerca do Lapdrey, que parece ter a pretensão de o fazer? Será ele um mestre? Ou serás tu o Lapdrey?

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  12. Boa ideia, Maria Albertina, perdão Insolência Quintana, perdão de novo, Indecência Tintinha, triperdão, Prudência Quintina.
    (Que difícil, o seu nome, minha boa amiga! Pior que o seu, só o meu, que parece marca de detergente avulso.)


    É mais do que legítima a proposta.
    Lapdreemo-nos.
    Morte ao Lapdrey!
    Ladprey a rey!
    Prudência Quintina a consorte!

    (Agora vou brincar para outro recreio, com outros meninos! E, é claro,... fazer alguma coisa de jeito.)

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  13. A música do Lapdrey é outra... Talvez de assemelhe a labaredas de fogo que permitem sentir a tal chama primordial que se chama Silêncio (que como todos sabemos não se chama nada). Lembro-me do que me foi dito sobre os mahasidhas, mestres espirituais do oriente conhecidos pela sua excentricidade na sua relação com o discípulo (Marpa, um mestre tibetano quase fez com que Milarepa se suicidasse quando o segundo pretendia ser discípulo do primeiro). Recordo-me do que li acerca de Richard Wagner e o seu espírito mordaz, sarcástico, ácido, cáustico??;), gerador de muitos inimigos os quais a sua aversão não permitiu descobrir o Silêncio. É que se nós para encontrarmos a Verdade, a Saudade, o Silêncio, ... o que seja, precisamos de nos despir das plumas (ou da merda, como afirmou um mestre tibetano) que constituem o nosso ser. Talvez a música do Lapdrey seja um isso, um cáustico libertador.
    Viva o Lapdrey, quem quer que ele seja!! hup, hup, hurra!!

    p.s. Às Vezes penso que Lapdrey é um heterónimo do Professor Paulo Borges para nos «causticar» da fonte das nossas impurezas - o ego. Não sei... fico na dúvida.

    Saúde a todos:)

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  14. Um irmão vem ter com Abba Macário do Egipto e disse-lhe: "Abba, diz-me uma palavra para que eu me salve".
    Disse-lhe o ancião: "Vai ao cemitério e injuria os mortos."
    O irmão foi, injuriou-os, e até lhes atirou pedras; em seguida voltou, a contá-lo ao ancião.
    Este disse-lhe:"Eles não te disseram nada?" Ao que ele respondeu que não.
    Disse-lhe então o ancião: " Volta lá amanhã e faz-lhes os máximos louvores."
    O irmão foi, pois, e louvou-os, dizendo: "Apóstolos, santos e justos!" E regressou, indo ter com o ancião, dizendo:"Saudei-os"
    E perguntou-lhe o ancião: "Não te disseram nada?" Ao que ele respondeu, novamente, que não.
    Disse-lhe então o ancião:
    "Sabes que insultos lhes proferiste, sem que eles te respondessem, e que louvores sem que nada te dissessem; assim faz tu, se queres ser salvo, tornando-te um morto. E, tal como os mortos, que em nada te afecte quer o desprezo, quer os louvores dos homens; assim, poderás construir a tua salvação".

    ("Paroles des Anciens- Apophtegmes des pères du désert", Éditions du Seuil, Paris, 1976, pág. 100.

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  15. Bem me parecia que não estavas morto...

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