sábado, 31 de janeiro de 2009

Namoro




Ouvi por primeira vez esta canção uma noite de há já vinte e quatro anos num pub chamado El Halcón Maltés, na Corunha. Pires Laranjeira falava de Viriato da Cruz. Era a primeira vez que eu ouvia falar em português tanto tempo e fiquei namorado. Foi este o poema que Pires Laranjeira, brilhantemente, usou para explicar muitas cousas políticas e humanas sobre o poder e a comunicação e suponho que também dos equívocos e mal-entendidos do amor. Aqui o deixo como recordação aos amigos, com um forte abraço para todos. E aproveito também para enviar, novamente, a Saudades, a Luiza e a Isabel o meu reconhecimento pela beleza dos seus escritos ainda que, às vezes, um fique um pouco preocupado pelo sofrimentos ou tribulações dos amigos. Mandei-lhe uma carta em papel perfumado... Por favor, ouçam o Fausto, e um grande beijo e um grande abraço a todos, para todos.



Namoro

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.

Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

http://es.youtube.com/watch?v=tQCI2X0LPCY&feature=PlayList&p=3049FB380D7B9E15&index=1

4 comentários:

  1. uma das músicas mais lindas de sempre :-) aíííí benjamim!!!!!!!!

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  2. Amigo José,

    (Des)preocupa, amigo!... É linda a tua canção e as tuas palavras. Ah! e Fausto é um bom compositor e músico... Quando será que sai o disco de que estou à espera?
    Há também aquela (lembro de cor...): "Ó mar, lago imenso de oceanos salgados/ Onde os sonhos também naufradados/Vão por mim descansar, ó mar..."
    Vou ouvir.

    Um abraço de Saudades.

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  3. Agradeço, pois, a melodia e o abraço. E sem muita melodia reenvio um abraço fechado em silêncio e meditação.

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  4. Um poema musical, desprendido e envolvente.
    Abraço-te José. Que estejas feliz em novas moradas e em feliz namoro.

    Vou ouvir agora o Fausto.

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