quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A ajuda, o entrave e a meta


"Quando tivermos ido além de todo o saber, então teremos o conhecimento. Foi a razão a ajuda, a razão é o entrave.
Quando tivermos ido além de todo o querer, então teremos o poder. A vontade foi a ajuda, a vontade é o entrave.
Quando tivermos ido além de todo o prazer, então teremos a felicidade. O desejo foi a ajuda, o desejo é o entrave.
Quando tivermos ido além de toda a individualização, então seremos verdadeiramente pessoas. O ego foi a ajuda; o ego é o entrave.
Quando formos mais além da humanidade, então seremos o Homem. O animal foi a ajuda, o animal é o entrave.
Transforma a razão em intuição ordenada; que tudo em ti seja luz. Essa é a meta.
Transforma o esforço num fluxo regular e soberano de força de alma; que tudo em ti seja força consciente. Essa é a meta.
Transforma o prazer num permanente êxtase sem objecto; que tudo em ti seja felicidade. Essa é a meta.
Transforma o indivíduo dividido numa personalidade com a dimensão do mundo; que tudo em ti seja divino. Essa é a meta."

Sri Aurobindo (1872-1950)

(“Aperçus et Pensées”, in «De la Grèce à l’Inde», Albin Michel, Paris, 1976, pág. 93 e seg.)

12 comentários:

  1. "Transforma a razão em intuição ordenada" - Bravo!

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  2. "Todos aspiram à liberdade, e, no entanto, cada criatura ama as suas cadeias. Tal é o primeiro paradoxo e o inextrincável nó da nossa natureza.”(Sri Aurobindo)

    O ser humano é ele "ajuda" "entrave" e "meta" da sua mesma razão, vontade, felicidade e humanidade. Operar a transformação em si mesmo é grande libertação.

    Texto interessante que me suscitou vontade de conhecer melhor o autor. Que com a minha "vontade" e a sua "ajuda" possa eu chegar a essa "meta"...

    Grata, Lapdrey

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  3. em termos absolutos, a meta e a ajuda são o grande entrave

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  4. círculos viciosos de mentes viciadas

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  5. Anónimo I,
    Anónimo II (cheira aqui a uma pitadinha de maria da Conceição e a sua doença de espírito),

    Toda a análise mediante a linguagem é de per si, como é sabido, viciosamente circulante e, ou se dinamita constantemente, ou enreda-se em si mesma infidavelmente.
    O ponto é saber o que é preferivel: se renunciar a nada antes de não nos termos apropriado do que possa ser renunciado pela radicalidade espiritual extrema.

    Até lá, para não ficarmos estúpidos, sempre nos restam duas vias de acesso: catafática e apofática.
    Creio que o percorrer equilibrado de ambas é o que porventura permite escapar-se dos dois excessos que são dois erros, que Sri Aurobindo procurou ultrapassar:

    a)o excesso do "asceta", que despreza o mundo "absolutamente", e pouco mais vislumbra do que a si mesmo e a sua paradoxal destruição solipsista negativa;

    b)o excesso "materialista", com todas as suas gradações, mais ou menos subtis, mesmo as da Nova Era, que pouco mais vislumbra além do que o nariz (fisico ou subtil) alcança, caíndo numa "religião às avessas".

    Resumindo: só percorrendo os tais círculos viciosos é possível sair depois deles, não lhe parece, Anónimo II?

    É como em relação ao tabaco, e a tudo: só se pode ter a "glória" de ter deixado de fumar, depois de ter fumado, certo?

    Abracinhos viciosos!

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  6. Correcção (ao meu comentário anterior):
    Onde se lê "infidavelmente", deve obviamente ler-se "infindavelmente".


    Além do mais: hoje não me apetece ser "budaízante".
    Apetece-me ser "eu", como sempre, nunca ...

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  7. melhor do que deixar de fumar é nunca ter fumado

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  8. Quem em si moraliza, mais se enreda na própria teia de que, em tal horror puramente ingénuo, procura isentar-se.

    Não há como fugir, meu amigo!
    Para se ir ao que se quer (ainda que o que se queira seja nada, ou o nada deste nada em que ora estamos), ir-se-á pelo que se não quer (ainda que isso seja precisamente o que mais se deseje).

    A polaridade deve morder a própria cauda, para que assim, bebendo o próprio veneno, ela morra de si mesma: só assim renascerá fénix, liberta de toda a circularidade labiríntica viciosa... ainda que o que então encontre alfim seja precisamente aqui de que partira...

    O engano está apenas no caminhar, não no Caminho... que não há...

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  9. as velhas justificações do injustificável

    porque nada há a justificar

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  10. Vamos a ver se nos entendemos, caro Anónimo:

    Dizer: "melhor do que deixar de fumar é nunca ter fumado" é justificação de:

    "círculos viciosos de mentes viciadas".

    Ora, por natureza, mentes viciosas pensam, como é óbvio, viciosamente.

    Logo, dizer "círculos viciosos de mentes viciadas" equivale a nada dizer ou a dizer nada.

    Pelo padrão que usa repetidamente, não sairá do mesmo Mesmo que sempre é o mesmo. Monótono, não?

    Prefiro o jogo de brincar ao diferente na Mesmidade "trans-mesmidada".

    Isto que eu disse é, claro, a vã tentativa de dizer o nada que se pode dizer de tudo ou de nada, e do "além" de ambos.

    Anseio é por vê-lo, caro Anónimo, desenvolver mais um pouco o seu "ponto" de vista.
    Ou a sua vista não é pontual, e será um tanto mais, digamos, "panorâmica"?
    Ok, "quand même", venha ela!

    Aguardo!

    P.S.
    O pensar aparentemente "paradoxal" e "para-paradoxal" apenas pode "faire semblant" do que não conseguirá jamais ser dito.

    Por isso, a dizer-se alguma coisa, tem de circunscrever-se ao domínio passível de ser nomeado, designado e determinado.

    O meta-Isso não é o mero inverso ou contrário disso.
    É ...

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  11. estás a experimentar o teclado? Ou estás a experimentar dificuldades com o teclado?

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